Marcelo vs. Costa

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A relação entre Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa é deveras interessante, passa a ideia que se dão muito bem, mas lá no íntimo tenho enormes dúvidas sobre isso.

Marcelo Rebelo de Sousa no seu discurso de tomada de posse do governo, com dois meses de atraso por erros processuais nas eleições legislativas pelo círculo na Europa, avisou António Costa que se sair convoca eleições antecipadas.

Ora bem, tendo em conta, o diapasão do discurso público antecedente, é uma enorme honra qualquer cidadão português desempenhar um alto cargo na Europa ou no Mundo, o caso, de António Guterres, secretário-geral da ONU.

Marcelo Rebelo de Sousa dá a entender que condiciona ou limita qualquer decisão de António Costa, mas o seu efeito prático é nulo. É legitimo, como outros o fizeram, depois de governar há seis anos, tendo mais quatro anos pela frente, serão dez anos como primeiro-ministro, aproximando-se do recorde de Cavaco Silva. António Costa tem todo o direito que, possa aspirar a novos horizontes e dar o lugar a outros.

O problema de Marcelo Rebelo de Sousa é que com esta maioria absoluta, surpreendente, mas inquestionável, pode falar e dizer o que entender procurando o que lhe resta - um magistério de influência - , mas António Costa fará o que entender como entender e quando entender.

A sua estratégia tem, ao longo dos anos, resultado em pleno, tendo vindo a vencer em toda a linha.

António Costa desenvencilhou-se de António José Seguro, pelo meio libertou-se de José Sócrates com a célebre frase: "à política o que é da política, à justiça o que é da justiça". A seguir enviou Pedro Passos Coelho para casa mesmo vencendo. Continuou tornando o PS o partido mais votado e agora tornou o PS amplamente votado.

Por fim, Marcelo Rebelo de Sousa vai ser a última "vítima" da sua capacidade de ser lobo com pele de cordeiro. António Costa vai continuar a apostar em ter uma boa relação com Marcelo Rebelo de Sousa, mas lá no íntimo sabe que não precisa dele para nada.

António Costa fará o que melhor lhe convier e quiser: fica até ao final do seu mandato, candidata-se a presidente da República, vai para a Europa, retira-se ou continua líder do PS.

Marcelo Rebelo de Sousa foi importante, numa primeira fase para haver menos crispação, a seguir, estabilidade, mas deixou-se enredar na teia Costita. Por vezes, exagerou no apoio a António Costa, agora paga as consequências.

António Costa é imparável, a partir de agora o seu interlocutor directo serão os portugueses, com esta maioria absoluta. A sua sedução não tem limite.

António Costa, se decidir abandonar o governo antes de 2026, fá-lo-á com peso, conta e medida e nada deixará ao acaso.

A sua forma de ser habilidosa, dissimulada e sagaz resolverão o problema da sua, eventual, saída e da sua sucessão no PS.

Na noite das eleições disse uma frase tranquilizadora para os portugueses:"uma maioria absoluta não é poder absoluto, não é governar sozinho".

Na tomada de posse do seu governo, nada referiu quanto ao seu futuro político.

Omitir também faz parte do seu estilo. Mas com os diabos, o homem ainda agora tomou posse e já lhe estão a impor condições?!

Calma! Uma coisa de cada vez.

*Biólogo, fundador do Clube dos Pensadores

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