Marcelo homenageia herança árabe de Portugal e diz basta ao extremismo
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, homenageou hoje a herança árabe de Portugal e defendeu que "é tempo de usar da palavra" e "dizer basta ao extremismo religioso e à violência".
No seu primeiro encontro com o grupo de embaixadores dos países árabes, no Palácio de Belém, em Lisboa, o chefe de Estado português considerou que é preciso travar "um combate ao nível das ideias" contra o discurso extremista e de apelo à violência.
Marcelo Rebelo de Sousa advertiu que "o silêncio acarreta um preço muito elevado" e, a este propósito, citou parte de um discurso de Nelson Mandela em que este fala da acusação que pesará sobre todos pela demora em dizer "basta" ao 'apartheid' na África do Sul.
Repetindo a expressão inglesa usada por Nelson Mandela, o Presidente da República afirmou: "Enough is enough".
O Presidente da República enquadrou a cerimónia ecuménica em que participou no dia da sua posse, na Mesquita de Lisboa, como "um sinal" que quis dar contra "uma narrativa desenvolvida por certos grupos que preconiza a divisão e o ódio".
"Trata-se de uma narrativa que tem de ser contrariada. O silêncio acarreta um preço muito elevado, não só para o mundo árabe, mas também para a Europa. É tempo de usar da palavra, é tempo de dizer basta ao extremismo religioso e à violência. O tempo é agora e não depois", defendeu.
Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, "é um desafio muito grande", mas prioritário.
"Se não contrariarmos um discurso extremista das religiões, se não forem desmontados os argumentos que apelam à violência, então também não venceremos os outros desafios: os desafios da segurança, os desafios das migrações, os desafios dos refugiados, os desafios económicos", argumentou.
O Presidente da República acrescentou que este "é um combate dos países árabes, da Europa e do mundo" e "não é um combate travado com armas", mas "ao nível das ideias, em que a palavra e a educação são o meio para construir um mundo melhor".
Como exemplo, apontou a iniciativa do antigo Presidente da República Jorge Sampaio de apoio a estudantes sírios.
"Enough is enough", reiterou Marcelo Rebelo de Sousa, antes de agradecer em árabe: "Shukran".
Neste encontro estiveram presentes os embaixadores de Marrocos, da Argélia, do Qatar, da missão diplomática da Palestina, da Tunísia, do Egito, do Iraque, do Koweit, dos Emirados Árabes Unidos e da Arábia Saudita.
No início da sua intervenção, o Presidente disse que pretende reunir-se "com regularidade" com o corpo diplomático acreditado em Lisboa para manter com todos "um diálogo de proximidade".
Depois, afirmou que este encontro com o grupo de embaixadores dos países árabes constituía também "uma homenagem ao legado histórico, genético, cultural e científico dos povos árabes que cruzaram estas terras".
"Fomos herdeiros dos primeiros astrolábios árabes, que em tanto contribuíram para o desenrolar dos Descobrimentos. Somos herdeiros da açorda, do açafrão, da alfândega, do alfarrabista, algumas das muitas palavras que vieram enriquecer o nosso léxico. E temos um património genético muito rico e diversificado, que compreende também uma herança destes povos", referiu.
Segundo o chefe de Estado, "essa herança árabe" contribuiu também para que Portugal tenha hoje "um forte pendor para a construção de pontes e para o diálogo entre os povos".