Há os que juntam e há os que separam. Ontem mandámos um dos que juntam a representar-nos. Nas Cortes Gerais espanholas, Marcelo Rebelo de Sousa foi recebido pelos congressistas com um silêncio contido. Espanha vive um grave drama político que pode degenerar em país rasgado..Na nossa democracia, e na deles, já quatro Presidentes portugueses tinham estado ali, na tribuna, falando ao hemiciclo. Mas nunca acontecera os senadores e os deputados espanhóis estarem tão graves para ouvir o Presidente vizinho. Claro, tudo que por cá acompanhou a recente crise à volta do separatismo catalão tem sublinhado, sem dúvidas, a posição oficial de Lisboa: problema interno de Espanha, e só..Mas era sempre possível um deslize ou uma frase ambígua... Marcelo falou em português, passou para o espanhol e rematou na sua língua. E fez mais do que não errar. Pegou nos dois povos e navegou com eles por onde foram grandes: pelo que ambos juntaram do mundo, para todos os povos do mundo. Como essa metafórica viagem que começou sob o mando do transmontano Fernão de Magalhães e acabou com o basco Juan Sebastián Elcano.."Vós e nós", "nós e vós" - Marcelo falou sempre de dois, como dois e juntos. Ironizou com as comuns ilusões históricas: "Acreditámos que podíamos parar o tempo com um tratado [o de Tordesilhas]." Passeou pela história sem a mitificar: "Propagámos valores e modos de vida e destruímos outros." Na casa alheia, falou da viagem de ambos mesmo quando ela foi, quase sempre, em separado. "Nós e vós", "vós e nós". Cunhou: "Ambos elegemos o mundo como nossa casa." Lembrou: "Tudo isto tivemos em comum e, no entanto, tardámos em compreender-nos." E disse a palavra-chave: "Fraternidade." No fim, todos se levantaram e aplaudiram. Alguns deputados independentistas cantaram Grândola. Enganaram-se, é uma canção que junta, canta a terra da fraternidade. Palavra que une.