Presidente da República e primeiro-ministro andam em sintonia a afastar a ideia de instabilidade governativa. Esta terça-feira, à vez, tiveram de se pronunciar sobre a solidez do executivo perante os casos diários que envolvem governantes..Marcelo Rebelo de Sousa, no dia em que se completaram sete anos desde a sua primeira eleição para a Presidência, voltou a afastar um cenário de demissão do governo, mas advertiu que uma eventual saída de António Costa levaria à dissolução do Parlamento..O chefe de Estado reiterou que não faz sentido dissolver o Parlamento "no quadro atual da guerra, da crise económica e financeira, da situação existente com uma maioria absoluta eleita em eleições ainda não há um ano", e considerou que "os portugueses maioritariamente compreenderam, e os partidos também", esta sua posição..Depois, respondeu a quem sugere, como alternativa, o cenário de "demitir o governo" para se "ensaiar, com a mesma maioria, outro governo", declarando: "E se o primeiro-ministro não quisesse? É dissolução do governo. Portanto, é uma falsa solução". "Isso é uma coisa que no sistema português implica o conflito imediato entre o Presidente e o governo e, portanto, sejamos claros: neste momento é insensato pensar na dissolução do Parlamento, e não há meios caminhos", acrescentou..Em 30 de março de 2022, quando deu posse ao XXIII Governo Constitucional, Marcelo Rebelo de Sousa avisou António Costa de que "não será politicamente fácil" a sua substituição na chefia do governo a meio da legislatura, dando a entender que, nesse caso, convocaria legislativas antecipadas.."Se mudar o primeiro-ministro, há dissolução do Parlamento", afirmou ontem, referindo-se à "hipótese teórica de aparecer um outro primeiro-ministro da área do PS".."Havia dissolução do Parlamento, porque esta maioria formou-se com um primeiro-ministro que concorreu não só como líder do partido, mas a líder do governo. Foi muito importante, eu disse isso no discurso de posse e, portanto, estava fora de causa, quer dizer, com outro primeiro-ministro haveria dissolução do Parlamento", reforçou..Segundo o Presidente, neste momento "o caminho que há é o governo melhorar a sua governação, corrigir o que não está a correr bem, para correr melhor", e "a oposição continuar o seu caminho de oposição, naturalmente cada vez mais contundente, porque é isso que é natural, à medida que se aproximam atos eleitorais"..Também António Costa reiterou aos jornalistas a necessidade de estabilidade política. Respondendo a André Ventura, que desafiou Marcelo a "demitir" o governo - o que não pode fazer per si, já que só pode dissolver o Parlamento -, Costa realçou que está quase a cumprir-se um ano desde que os portugueses foram chamados a votar e que, nas urnas, deixaram uma "mensagem clara" de que querem estabilidade. "Se era necessária estabilidade há um ano, hoje mais do que nunca é necessária estabilidade. Já conseguimos recuperar economicamente da situação de pandemia, as empresas conseguiram resistir e avançar. No ano passado, pela primeira vez, as nossas exportações valeram mais de metade do nosso Produto Interno Bruto", argumentou o primeiro-ministro..Na mesma altura, o primeiro-ministro foi questionado com a revelação do ex-ministro das Infraestruturas de que sabia da indemnização de 500 mil euros da TAP a Alexandra Reis, ex-secretária de Estado das Finanças, e manifestou-se "surpreendido" com o facto de Pedro Nuno Santos afinal ter tido conhecimento e validado o pagamento. Sem se querer alongar no tema, o governante realçou apenas que espera que seja concluído o trabalho da Inspeção-Geral das Finanças para se saber todos os contornos desta polémica.."Fiquei tão surpreendido como o próprio, que constatou que afinal tinha sabido e dado autorização. As Finanças não sabiam, é um ponto sobre o qual não vale a pena qualquer tipo de insistência. Todos sabem que não houve qualquer tipo de informação ao Ministério das Finanças", afirmou António Costa..O líder do governo aproveitou também para garantir toda a confiança no seu ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, que esteve a ser ouvido no Parlamento por causa da derrapagem nas obras do antigo Hospital Militar quando assumia a pasta da Defesa no anterior governo. Com Lusa