Malas da pele... de Alexander McQueen. Há pedido de patente
Nada foi banal na vida do designer de moda britânico Alexander McQueen, que vestiu líderes como Mikail Gorbatchov e desenhou alguns dos mais arrojados fatos com que David Bowie subiu aos palcos. Preso num ciclo de depressões e relações atormentadas, McQueen acabou por soçobrar ao desgosto da morte da mãe e suicidou-se, em 2010, aos 40 anos, na véspera do funeral dela. Agora, Tina Gorjanc, uma jovem finalista da célebre escola de moda e alta costura Central Saint Martins, a mesma que McQueen frequentou, pretende ressuscitar não a sua memória, mas, sobretudo, a sua pele.
Sim, pele. A pele a sério de Alexander McQueen, que ela pretende produzir e cultivar em laboratório a partir do ADN (informação genética) do designer de moda morto há seis anos, para depois fazer com ela casacos e malas (de pele), que terão inclusivamente algumas tatuagens à imagem das que McQueen tinha no corpo.
Insólito? Sem dúvida. E também controverso e eticamente duvidoso. Mas, sublinha a jovem finalista de moda na página do seu projeto "Pure Human", é justamente para isso que ela pretende chamar a atenção do mundo.
Um pedido de patente
É claro que, antes de mais nada, é sobre si própria que Tina Gorjanc faz incidir os holofotes, o que não deixará de lhe granjear projeção, ainda para mais numa altura em que é finalista e está a prestes a sair da escola para o mercado de trabalho.
Seja como for, Tina Gorjanc justifica a sua ideia, sublinhando que "Pure Human foi concebido como um projeto crítico, que pretende pôr em evidência as deficiências que existem na proteção da informação biológica e, assim, imprimir um novo fôlego a este debate, usando para isso as estruturas legais que estão ao alcance de qualquer cidadão".
E o que está ao alcance de qualquer um, nesta matéria, é já bastante, como demonstra Tina Gorjanc, que em maio fez um pedido de patente sobre tecidos produzidos em laboratório a partir de material genético obtido de fontes mortas (como cabelos, unhas, etc.) relativo a materiais específicos de Alexander McQueen. Não é possível fazer um pedido de patente do material genético em si, mas a fórmula "materiais produzidos em laboratório a partir de ADN" poderá ser a chave para abrir uma porta no mínimo controversa como a própria designer assinala. "Se uma estudante como eu pode dar entrada de um pedido de patente sobre material biológico produzido a partir de outro extraído da informação genética de Alexander McQueen, uma vez que nada na lei mo impediu, pode-se imaginar o que as grandes corporações com grandes investimentos poderão fazer no futuro", comentou ela, citada no site de informação on line Vocativ.
Além daquela patente, a futura designer de moda fez ainda um outro pedido, mas esse generalista, ou seja, relativo a quaisquer materiais biológicos produzidos em laboratório a partir de fragmentos de ADN.
Tina ainda não recebeu resposta relativa ao seu pedido, mas se ela for positiva, como a finalista de design de moda espera, ela passará a ter acesso a material biológico produzido a partir da fonte original de material genético de McQueen, que são os seus cabelos. Como? A resposta é simples, Alexander McQueen, ao que tudo indica, usou os seus próprios cabelos numa coleção de 1992, que intitulou "Jack the Ripper Stalks His Victims", o que traduzido à letra é algo como Jack o Espripador persegue as suas vítimas. E, como contou à Quartz, Tina Gorjanc já obteve a permissão dos atuais proprietários dessa coleção, cuja identidade não quis revelar, para recolher esse material.
Vários tons de bronzeado
Se houver resposta positiva ao pedido de patente, o resto são técnicas laboratoriais hoje bastante rotinadas. Trata-se de retirar o ADN de um ou mais fios de cabelo do designer de moda falecido há seis anos, multiplicá-lo em laboratório e depois induzir a produção das células de pele para cultivar aquele tecido em laboratório.
Manipulando os genes que controlam a produção de melanina - que, se estimulada pelo sol, por exemplo, dá o tom bronzeado típico à pele - torna-se ainda possível obter diferentes tons para os casacos e malas McQueen... além, claro, das réplicas das suas tatuagens.
Tina Gorjanc diz já ter sido contactada por potenciais compradores mas ela garante que se a ideia for por diante nenhum desses artigos será comercializado. O "Pure Human", argumenta a jovem, é um projeto demonstrativo e, por isso, no final, tenciona fazer apenas uma exposição.
Na página do projeto, para mostrar o quanto já avançou na ideia, Tina Gorjanc mostra casacos e malas feitas com pele de porco, obtida com as tais técnicas laboratoriais. Poderão não ser malas de sonho, mas que dá que pensar, dá.