Mais um murro no estômago das famílias
Mais 25 pontos base fazem subir a prestação da casa ao banco. Os portugueses ouviram com preocupação a decisão de subida da taxas de juro pelo Banco Central Europeu, mas este tem apenas uma única preocupação: baixar a inflação. Pela décima vez consecutiva, ontem a instituição voltou a aumentar as taxas já que a inflação deve aproximar-se o mais rapidamente possível dos 2%. O problema é que o próprio BCE sabe que o aperto do cinto pode demorar dois anos até surtir efeitos na economia.
A decisão não foi unânime e Christine Lagarde, presidente do BCE, não afastou novas subidas ainda este ano. Há mais duas reuniões de política monetária até dezembro e temos de nos preparar para todos os cenários. Para as famílias, este é mais um murro no estômago. Mas há mais um: as previsões de crescimento económico do BCE são mais pessimistas do que até aqui. O crescimento da zona euro não deverá superar 0,7% este ano; 1% no próximo ano e 1,5% em 2025.
Com este quadro económico, aumenta a pressão sobre as opções políticas do governo português. Daqui a uma semana, António Costa deverá levar e aprovar em Conselho de Ministros novas medidas de apoio à renda e ao crédito à habitação, para tentar dar resposta a este tema.
O governo está tentado a estabilizar a prestação da casa por dois anos, resta saber quanto poderá custar uma medida como essa. Fernando Medina, ministro das Finanças, tem esse diploma em mãos. A bonificação de taxas de juro a famílias em dificuldades poderá ser um dos instrumentos a ser aplicado. Outra opção ponderada passa por acionar um travão para as rendas. Se nada for feito, poderão subir cerca de 7%, antevê o INE.
A opção política que vier a ser escolhida por António Costa não deve nem pode desincentivar os senhorios a colocar as suas casas no mercado de arrendamento. Se a medida não for bem explicada e comunicada, o problema pode tornar-se uma bola de neve ainda maior, ou seja, a dificuldade de encontrar casa - a custo compatível com o salário médio nacional - vai agravar-se e quem sofre é o mexilhão.
Diretora do Diário de Notícias