92% dos novos casos em Lisboa. Governo cria gabinete especial
Em Portugal, nas últimas 24 horas, morreram mais cinco pessoas. Foram confirmados também mais 294 casos de covid-19, segundo o boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde (DGS), desta quarta-feira (10 de junho).
Há agora 35 600 casos confirmados da doença no país e 1497 óbitos por covid-19.
Em comparação com os dados de terça-feira, em que se registavam 1.492 mortes, hoje constatou-se um aumento de óbitos de 0,3%. Já os casos e infeção subiram 0,8%.
Na região de Lisboa e Vale do Tejo (13.878), onde se tem registado maior número de surtos, há mais 270 casos de infeção (+2%).
Na conferência de imprensa diária da Direção-Geral da Saúde, Marta Temido, ministra da Saúde, revelou que há cinco concelhos da Área Metropolitana de Lisboa que merecem mais preocupação e que por isso será criado um Gabinete Regional só para casos de covid-19 na zona da capital.
"Será um Gabinete Regional para a supressão da covid-19 em Lisboa e Vale do Tejo", anunciou Marta Temido.
"Terá uma matriz operacional, será coordenado por um médico de Saúde Pública [Rui Portugal]", e terá como objetivo garantir que "todos os surtos estão referenciados e que essa informação se mantém atualizada e que os novos casos são acompanhados regularmente", acrescentou a ministra, que justifica a criação do gabinete com a "complexidade" da situação em Lisboa e Vale do Tejo.
A Amadora é o concelho de Lisboa com mais casos de infeção por covid-1, foi ainda revelado: "90% dos novos casos registaram-se em cinco concelhos da Área Metropolitana de Lisboa", anunciou Marta Temido. Na verdade, são 92% dos casos.
"Nomeei ontem [terça-feira] o gabinete regional de intervenção para a supressão da covid-19 em Lisboa e Vale do Tejo, gabinete que é coordenado pelo doutor Rui Portugal, médico de saúde pública da equipa de saúde desta região, e que integrará todas as autoridades regionais e locais de saúde", disse Marta Temido.
Nos últimos 15 dias, a incidência por 100 mil habitantes mais elevada do país tem-se concentrado nos concelhos de Loures, Amadora, Odivelas, Sintra e Lisboa, reforçou.
Estes cinco concelhos da Área Metropolitana de Lisboa são os que merecem "maior preocupação", disse a responsável da pasta da Saúde, revelando que 90% dos novos casos que se verificaram na terça-feira concentram-se nestes.
Contudo, Marta Temido garantiu que, em alguns destes concelhos, o surto começa a estar "mais controlado", adiantando que Lisboa é o que revela menor incidência por 100 mil habitantes com 37,85%.
"E aquele concelho onde a situação inspira maior cuidado é a Amadora porque ainda está com uma incidência de 99,6% por 100 mil habitantes para o último dia para o qual dispomos de números", afirmou.
Os outros três concelhos tem uma taxa de 60%, sublinhou.
Há 13 surtos na região de Lisboa, segundo a ministra da Saúde. As freguesias de Santo António e de Arroios, em Lisboa, são também das mais afetadas.
Mas também em Queluz/Belas, Águas Livres, Agualva e Mira Sintra, Encosta do Sol, na Amadora, Mina de Água, na Amadora, e Rio de Mouro, em Sintra.
É por isso que nesta região, a intervenção será "mais focada", permitindo o avanço no desconfinamento na Área Metropolitana de Lisboa.
De acordo com Mariana Vieira da Silva, ministra da Presidência, também hoje presente na conferência de imprensa, serão adotadas "medidas específicas" para o setor da construção civil.
"É preciso tomar mais atenção aos trabalhadores de construção civil - funcionamento dos estaleiros, espaço de refeições e espaços de alojamento", apontou Mariana Vieira da Silva.
"O Conselho de Ministros decidiu que aquela regra definida para a Área Metropolitana de Lisboa, de que os veículos privados de transportes de trabalhadores têm uma lotação de dois terços e na sua utilização é obrigatório o uso de máscara, foi alargada ao território nacional", afirmou também.
Esta regra deixou, assim, de ser específica da região de Lisboa e Vale do Tejo, que regista a maioria dos novos casos registados em Portugal, e passou a ser uma regra aplicada a todo o país, vincou.
Esta decisão prende-se com o número de casos entre trabalhadores da construção civil, sublinhou.
Há alguns dias iniciou-se um processo de rastreio em alguns concelhos da região de Lisboa e Vale do Tejo para conhecer a realidade com "maior detalhe", identificar surtos e saber em que áreas profissionais é que estes se passaram, sublinhou a ministra.
Estando este trabalho perto do fim, o Governo decidiu, por esse motivo, levantar as restrições mais gerais que ainda persistiam em Lisboa, a partir da próxima segunda-feira, referiu a ministra.
Entre essas estão a reabertura dos centros comerciais, lojas com mais de 400 metros quadrados, serviços públicos e aumento de 10 para 20 o número permitido para o ajuntamento de pessoas, ressalvou.
Segundo nota da DGS, a informação apresentada refere-se ao total de notificações médicas no sistema SINAVE, não incluindo notificações laboratoriais. Como tal, os números apresentados podem não corresponder à totalidade dos casos por concelho.
A região Norte continua a registar o maior número de infeções, totalizando 16.988, seguida pela região de Lisboa e Vale do Tejo, com 13.878, da região Centro, com 3.837, do Algarve (391) e do Alentejo (274).
Os Açores registam 142 casos de covid-19 e a Madeira contabiliza 90 casos confirmados, de acordo com o boletim hoje divulgado.
A região Norte continua também a ser a que regista o maior número de mortes (809), seguida da região de Lisboa e Vale do Tejo (412), do Centro (245), do Algarve e dos Açores (ambos com 15) e do Alentejo, que regista um óbito, adianta o relatório da situação epidemiológica, com dados atualizados até às 24:00 de terça-feira.
A Região Autónoma da Madeira mantém-se sem registo de óbitos.
Segundo os dados da Direção-Geral da Saúde, 757 vítimas mortais são mulheres e 740 são homens.
Das mortes registadas, 1.013 tinham mais de 80 anos, 285 tinham entre 70 e 79 anos, 131 entre 60 e 69, 48 entre 50 e 59, e 17 entre 40 e 49. Há duas mortes registadas entre os 20 e os 29 anos e uma na faixa etária entre os 30 e os 39 anos.
A caracterização clínica dos casos confirmados indica que 417 doentes estão internados em hospitais, mais 23 do que na terça-feira (+5,8%), dos quais 70 em Unidades de Cuidados Intensivos (mais cinco, +7,7%).
Os dados da DGS precisam que o concelho de Lisboa é o que regista o maior número de casos de infeção pelo novo coronavírus (2.751), seguido por Sintra (1.754), Vila Nova de Gaia (1.592), Porto (1.414), Loures (1.331), Matosinhos (1.292) e Braga (1.256).
Desde 01 de janeiro, registaram-se 344.217 casos suspeitos, dos quais 1.724 aguardam resultado dos testes.
Há 306.893 casos em que o resultado dos testes foi negativo, refere a DGS, adiantando que o número de doentes recuperados subiu para 21.742 (mais 408).
A DGS regista também 30.398 contactos em vigilância pelas autoridades de saúde.
Do total de infetados, 20.193 são mulheres e 15.407 são homens.
A faixa etária mais afetada pela doença é a dos 40 aos 49 anos (5.982), seguida da faixa dos 50 aos 59 anos (5.795) e das pessoas com idades entre os 30 e os 39 anos (5.513).
Há ainda 4.927 doentes entre os 20 e os 29 anos, 4.710 com mais de 80 anos, 3.802 entre os 60 e 69 anos, e 2.734 entre 70 e 79 anos.
A DGS regista igualmente 850 casos de crianças até aos nove anos e 1.262 jovens com idades entre os 10 e os 19 anos.
De acordo com a DGS, 39% dos doentes positivos ao novo coronavírus apresentam como sintomas tosse, 29% febre, 21% dores musculares, 20% cefaleia, 15% fraqueza generalizada e 11% dificuldade respiratória.
A câmara de Lisboa aprovou uma série de regras que vão entrar em vigor esta quarta-feira e vão estender-se até às 10:00 de domingo. Na semana do 10 de junho e dos santos populares nada vai ser igual na capital devido à pandemia de covid-19. Há restrições na venda de bebidas alcoólicas, as casas de Fado não podem receber clientes a partir das 23:00 e há cafés e pastelarias que vão fechar às 19:00.
As lojas de conveniência da capital também vão estar sujeitas a medidas referentes à "restrição no horário de funcionamento", que vão ser aplicadas "a partir das 16:00 e até às 08:00 do dia seguinte".
Já os estabelecimentos de bebidas, sem espaço de dança, e que não tenham o Código de Atividade Económica (CAE), que estão "englobados no Grupo I do Regulamento de Horários de Funcionamento de Venda ao Público e de Prestação de Serviços no Concelho de Lisboa", como como cafés e pastelarias, vão ter uma "restrição do horário" a partir das "19:00 e até às 08:00 do dia seguinte".
Por último, está interdito a instalação de mobiliário urbano de apoio aos estabelecimentos, como "cadeiras, mesas e equipamentos de exposição e confeção de alimentos, nomeadamente grelhadores, assadores e fogareiros". Está também proibida a expansão da área de esplanada", que está "autorizada/licenciada na presente data".
O Governo decidiu que os centros comerciais podem reabrir na Área Metropolitana de Lisboa a partir de segunda-feira, dia 15. No final do Conselho de Ministros, António Costa disse que o estado de calamidade mantém-se em vigor no país até final de junho mas é provável, dependendo ainda da evolução, a passagem a estado de contingência em julho. Alentejo e Algarve podem mesmo ficar apenas em estado de alerta, admitiu.
Estas medidas têm o aval da DIreção-Geral de Saúde (DGS), com Graça Freitas a justificar que os casos na Grande Lisboa estão praticamente todos identificados e que se trata agora de os isolar.
"A maioria dos casos estarão identificados e as autoridades saúde, as autarquias, a segurança social e as forças de segurança têm trabalhado com estas pessoas no sentido de as fazer entender o risco que têm de propagação da doença", afirmou a responsável da DGS, convicta que haverá um "maior confinamento de pessoas infetadas".
A pandemia de covid-19 já provocou quase 408 mil mortos e infetou mais de 7,1 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo o balanço feito pela agência francesa AFP.