Santa Maria Maior, São Vicente, Penha de França, Beato, Marvila, Olivais e Parque das Nações são as 7 das 24 freguesias de Lisboa atravessadas pela avenida Infante D. Henrique que termina numa freguesia do concelho de Loures..O arruamento de 12 quilómetros de extensão é a maior avenida de Lisboa e "talvez das maiores avenidas do país", assegura ao DN o historiador Anísio Franco..A rua começou por ser conhecida por "Via Projectada da Praça do Comércio à Praça de Moscavide" e só ganhou o atual topónimo por decreto municipal datado de 24 de julho de 1948.."Na verdade, esta avenida ganha o nome de uma pequena rua em São Tomé, ali entre Alfama e a Graça, que se chamava Rua Infante D. Henrique. E é por decisão da comissão de toponímia da cidade de Lisboa que se faz a escolha deste nome", lembra Anísio Franco.."Era natural que uma figura tão grande da história de Portugal não tivesse apenas o nome de uma pequena rua no meio da cidade. E ganha efetivamente a maior avenida de Lisboa, condizente com a grandeza de uma figura como a do Infante D. Henrique", acrescenta..A construção da via teve como principal objetivo "ligar rapidamente o centro da cidade à saída de Lisboa pelo norte" e para estabelecer essa ligação "foi necessário roubar parte do rio e, digamos, cortar parte da cidade''..Junto à Praça do Comércio, na zona onde se situa atualmente o Campo das Cebolas foram derrubados uma série de edifícios para abrir a rua e um pouco mais adiante, onde hoje se situa a estação de Santa Apolónia, foi preciso assorear parte da margem do rio.."Depois de muitas indecisões, acabou por se optar nos anos 50 do século XIX pela construção da estação aqui no Cais dos Soldados e, na altura, quando é inaugurada, está bem próxima do rio. A estação fazia um cais para atracar navios e para facilitar o acesso das mercadorias", descreve o historiador..Apesar de atualmente somar mais de uma dezena de quilómetros, "a avenida demorou alguns anos a estender-se até atravessar várias freguesias e chegar aos Olivais, nomeadamente à Praça de Moscavide que depois passou a chamar-se Praça José Queirós", refere Anísio Franco..Uma das razões que leva muitos lisboetas a desconhecer a extensão da rua na totalidade tem a ver com uma série de alterações urbanísticas que foram acontecendo na zona oriental da cidade e que acabaram por definir o traçado incomum da via.."A avenida começa ribeirinha e segue junto ao rio, pelo menos até à Praça 25 de Abril ou dos construtores da cidade - onde está a estátua de José de Guimarães. E depois faz ali uma inflexão e sobe, desvia-se do rio, para entrar numa série de viadutos e túneis muito tardiamente construídos já para a preparação da Expo 98", enumera Anísio Franco..Mas a inflexão de praticamente 90 graus no trajeto não é o único aspeto invulgar da via. "Hoje em dia a avenida acaba num túnel, por baixo da Praça José Queirós, e logo a seguir a Santa Apolónia - para tornar acessível o circuito viário para a cidade - segue por um viaduto sobre-elevado que a liga à avenida Mouzinho de Albuquerque" que, por sua vez, termina na Praça Paiva Couceiro..Mais adiante, a avenida Infante D. Henrique entra numa zona da cidade "muito mais ligada à indústria, pelo menos, desde o final do século XIX até aos dias de hoje" e chega a um ponto que muitos consideram ser o seu término, a Praça 25 de Abril - também conhecida por "rotunda dos construtores de Lisboa"..A praça foi buscar o nome informal ao monumento da autoria de José de Guimarães erigido em homenagem aos construtores da cidade. "A estátua é uma transposição que o artista plástico fez da sua obra em papel. Partindo da bi-dimensionalidade mas dando-lhe tridimensionalidade e uma certa leveza, é na verdade, uma grande construção de betão que parece marcar o término da cidade", analisa o historiador de arte..No entanto,"essa rotunda não é o fim da avenida como poderia parecer" e é exatamente nesse ponto que a avenida sobe para uma zona mais industrial de logística e armazenamento..Se até 2010 a praça 25 de Abril parecia marcar o fim da zona habitacional da cidade, desde então que a malha urbana se tem vindo a densificar na zona do Braço da Prata. Foi aí que há dez anos começou a ser construída uma urbanização desenhada pelo arquiteto italiano Renzo Piano, que está neste momento a começar a ser habitada.."Uma cidade é feita desses níveis de construção", reflete Anísio Franco, considerando que é importante que a cidade mantenha "características que fazem parte da arqueologia industrial."."A zona das fábricas, da antiga indústria da cidade é também uma parte monumental que está neste momento a ser transformada e a ser entregue aos cidadãos", nomeadamente com a construção de ciclovias ao longo do trajeto que "vão humanizando e dando uma escala humana e não tão viária a esta avenida", considera o historiador. A requalificação que tem vindo a ser feita ao longo do trajeto ribeirinho da via, "com uma tentativa de ajardinar ou criar sombras ao longo do percurso, apontam neste sentido", reforça..Anísio Franco aponta outra característica fundamental ligada às zonas atravessadas pela avenida Infante D. Henrique. "Está a acontecer uma espécie de gentrificação de algumas das freguesias que ficam ao longo desta avenida - nomeadamente Xabregas e o Beato - que estão a ser urbanizadas com novas construções mas também com as antigas instalações industriais, que estão a ser reutilizadas com um sentido habitacional.".E que consequências a curto prazo poderá ter esse fenómeno de gentrificação? O historiador "acredita profundamente que nos próximos 20 anos" esta parte da cidade irá tornar-se "uma zona in, mais fashion" tanto por causa da construção de edifícios de habitação como "de bares e outras galerias que também vêm ocupando alguns destes armazéns". No futuro, toda esta zona terá "outro tipo de utilização mais virada para a utilização individual, mais virada para os cidadãos, do que propriamente para a indústria", prevê Anísio Franco..elsa.rodrigues@vdigital.pt