Mãe de soldado responde a Trump. E até líderes republicanos o atacam

Imigrante paquistanesa, Ghazala Khan, que perdeu filho no Iraque, explicou: "Sem dizer uma palavra o mundo sentiu a minha dor".
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Em janeiro, Donald Trump garantia: "Posso matar alguém a tiro em plena Quinta Avenida que nem assim perdia votos". Passados sete meses, já com a nomeação republicana garantida, o milionário não disparou sobre ninguém, mas o seu ataque contra Khizr e Ghazala Khan, os pais de um soldado muçulmano morto no Iraque ao serviço dos EUA, tem-lhe valido as críticas mais duras que já enfrentou desde que entrou na corrida à Casa Branca. Sobretudo vindas do seu próprio partido. Trump manteve a sua estratégia favorita e, longe de pedir desculpas, contra-atacou. Resta saber se desta vez terá ido longe demais.

Um imigrante paquistanês fala de patriotismo, liberdade e, empunhando a Constituição dos EUA, desafia Trump, acusando o candidato republicano às presidenciais de novembro de nunca a ter lido. "Posso emprestar-lhe a minha. Procure as palavras "liberdade" e "igual proteção da lei"". A seu lado, de véu azul, a mulher mantém o silêncio, enquanto atrás do casal passam imagens do capitão Humayun Khan, morto por um bombista suicida em 2004.

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A imagem tornou-se uma das mais poderosas da convenção que confirmou Hillary Clinton como candidata democrata à Casa Branca. Mas logo Donald Trump insinuou que Ghazala Khan "talvez não tenha sido autorizada a falar".

Habituado a atacar figuras públicas - da atriz Rosie O"Donell a quem chamou "porca gorda" à jornalista Megyn Kelly, que disse estar com o período quando o atacou num debate das primárias, passando pelo senador John McCain, que garantiu não ser "um herói" só porque passou cinco anos como prisioneiro de guerra no Vietname -, desta vez Trump apontou a cidadãos comuns. Mais, decidiu atacar os pais de um soldado americano morto em combate a servir o seu país.

Os próprios Khan responderam às críticas com várias aparições nos media. E se Khizr denunciou a "alma negra" do candidato republicano numa entrevista à CNN, a sua mulher - alvo direto de Trump - preferiu um artigo de opinião no Washington Post para passar a sua mensagem. "Sem dizer uma palavra, todo o mundo, toda a América, sentiu a minha dor", explicou. Afirmando-se incapaz de falar em público por ficar demasiado emocionada com as imagens do filho morto em combate, Ghazala Khan rematou: "Donald Trump tem filhos que adora. Precisa mesmo de se interrogar porque não falei?"

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Entre os republicanos, um dos primeiros a reagir foi McCain. O senador e ex-candidato presidencial, cujo filho também serviu no Iraque, agradeceu aos Khan terem imigrado para os EUA e acrescentou: "O vosso filho era o melhor da América e a memória do seu sacrifício fará de nós uma nação melhor. Descendente de uma família de militares, McCain sublinhou que Trump conseguiu a nomeação do partido, mas "não lhe foi dado licença para difamar os melhores entre nós". Eleitorado tradicionalmente republicano, os militares podem ser essenciais se Trump quiser vencer em novembro.

Também os líderes republicanos na Câmara dos Representantes, Paul Ryan, e no Senado, Mitch McConnell, se distanciaram das críticas de Trump, lembrando o capitão Khan como um "herói americano". Mas sem nunca mencionarem Trump pelo nome.

Em périplo pelo Ohio e Pensilvânia como seu candidato a vice-presidente, Tim Kaine, Hillary Clinton também criticou Trump, afirmando não saber onde o rival republicano vai parar com os ataques. Nas primeiras sondagens realizadas depois da convenção democrata, a ex-primeira dama recupera a vantagem em relação ao milionário. Um estudo da CBS dá-lhe 47% das intenções de voto, face a 41% do rival, invertendo a tendência das últimas semanas. A repercussão dos ataques de Trump contra os Khan, essa, ainda está por ver.

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