Macron protagoniza dupla iniciativa africana

Presidente francês mantém África na órbita de Paris, com cimeiras sobre investimento no continente e no Sudão em particular.
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O Fundo Monetário Internacional estima que os países da África subsaariana fiquem privados de 238 mil milhões de euros até 2023. É a fatura económica a pagar pela pandemia num continente menos afetado pela covid-19 do que outros, com 130 mil mortos, quando o total à escala planetária atinge os 3,4 milhões.

O presidente francês Emmanuel Macron é uma das vozes mais inconformadas com o cenário apresentado pelo FMI e pelo "choque" que atingiu África, tendo convocado uma cimeira internacional para encontrar "soluções inovadoras", a realizar-se hoje em Paris, um dia depois de ter presidido a outra sobre o apoio à transição democrática no Sudão.

"Estamos a abandonar coletivamente África às soluções que datam da década de 1960", lamentou Macron em declarações no final do mês passado, quando recebeu o presidente congolês Félix Tshisekedi. "Temos imperativamente de inventar um New Deal para financiar África", declarou, em referência ao plano posto em prática pelo presidente dos EUA Franklin Roosevelt para responder à grande depressão. Esse plano, contudo, tem de ser fundado em "soluções profundamente inovadoras".

"Caso contrário deixaremos o continente africano confrontado com a pobreza, enfrentando oportunidades económicas reduzidas, migração forçada e a propagação do terrorismo, e isso é algo que eu não quero aceitar", concluiu.

DestaquedestaquePara o Palácio do Eliseu, a cimeira é também uma oportunidade para se coordenarem esforços na luta contra o terrorismo em Cabo Delgado.

Mais de um ano passado desde um apelo assinado por 18 dirigentes europeus e africanos - entre os quais Macron, Angela Merkel ou António Costa - nas colunas do Financial Times e da Jeune Afrique a pedir uma moratória da dívida e um investimento económico sem precedentes para África, cerca de duas dúzias de líderes vão estar na reunião, incluindo os primeiros-ministros de Portugal, de Espanha, Pedro Sánchez, e de Itália, Mario Draghi.

Os presidentes de Angola, João Lourenço, e de Moçambique, Filipe Nyusi, também marcam presença e vão ter encontros bilaterais com o chefe de Estado francês. Um funcionário do Palácio do Eliseu disse que a cimeira será também uma oportunidade para a comunidade internacional coordenar esforços no sentido de ajudar Moçambique na luta contra o terrorismo em Cabo Delgado.

Ontem, o governo francês perdoou a dívida de 5 mil milhões de dólares do Sudão e comprometeu-se a emprestar 1,5 mil milhões de dólares para ajudar a pagar a dívida externa durante uma cimeira internacional destinada a ajudar o país a sair de décadas de regime autoritário de Omar al-Bashir. Enquanto as reformas internas passam pelo corte de subsídios e a chamada cura de austeridade para poder receber o programa de assistência do FMI, somam-se sinais positivos, como a retirada, por parte de Washington, da lista negra de apoiantes do terrorismo, e ajudas e empréstimos de EUA, Reino Unido, Suécia e Irlanda.

"Apesar das dificuldades, foram feitos progressos consideráveis desde a queda do antigo regime", disse Macron no discurso de abertura, onde elogiou a transição do Sudão como "uma inspiração". O regime atual, composto por militares e civis, prevê a realização de eleições livres em 2022 e a consequente transição para uma democracia.

A conferência presidida por Macron, e com a presença do chefe de Estado sudanês, o general al-Burhan, e o primeiro-ministro Abdalla Hamdok, também teve como objetivo juntar empresas ocidentais aos decisores e empresários sudaneses, para investirem no terceiro maior país africano.

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