Macron preocupado com Jogos Olímpicos de 2024
A final da Liga dos Campeões de futebol, em maio passado, no Stade de France, foi um fiasco ao nível da organização e da segurança. Para que o nome da França não volte a ficar associado ao caos e à insegurança, o presidente Emmanuel Macron convocou uma reunião com os responsáveis pela organização dos Jogos Olímpicos que irão decorrer dentro de dois anos, em Paris, bem como uma mão cheia de ministros, chefe de governo incluída. No final ficou a promessa de que o orçamento vai ser cumprido e que as reuniões de acompanhamento serão trimestrais.
Na quinta-feira, o Le Canard Enchainé revelou a preocupação do Tribunal de Contas perante os desafios da organização, não só pela previsível derrapagem nas contas devido à crescente inflação, mas também pela segurança do evento. Logo a começar pela cerimónia de abertura: o tradicional desfile dos comités olímpicos deverá realizar-se fora do estádio, e fora de terra, ao percorrer uma parte do Sena em 200 embarcações, para uma assistência calculada em 600 mil nas margens do rio.
O relatório preliminar do Tribunal de Contas sugere reduzir a dimensão do evento inaugural. Sendo certo que as provas de vela estão agendadas para Marselha e as de surf para a Polinésia, não é menos verdade que um número de competições tem lugar no coração da capital, algumas junto da Torre Eiffel, outras na Praça da Concórdia, não longe do Palácio do Eliseu, uma dor de cabeça adicional na gestão da segurança.
No documento de 76 páginas do Tribunal alerta-se para a necessidade de "antecipar uma mobilização geral e maciça de recursos materiais e humanos para garantir a segurança dos Jogos" e que é "imperativo" acelerar o ritmo para enfrentar o "considerável" desafio de segurança. O órgão elenca as deficiências, que passam, entre outros, pela capacidade hospitalar, segurança pública, risco terrorista e de ciberataques, e possível impopularidade dos Jogos pela população.
Ao nível da segurança, o plano prevê a contratação de 20 mil seguranças privados, um número que, de momento, os profissionais do setor consideram irrealista, tendo em conta as condições de trabalho. Por outras palavras: ou a organização abre os cordões à bolsa ou terão de ser os militares a garantir a vigilância. E o dinheiro é outro dos problemas, tendo em conta a inflação.
Em setembro de 2020, o orçamento do comité organizador foi cortado em 400 milhões, para 3,8 mil milhões de euros. A este orçamento há que somar o da empresa de construção das infraestruturas, Solideo, revisto em alta para 4 mil milhões. Contas feitas por alto, ao Estado francês caberá entrar com uma soma de 1,7 mil milhões a 1,8 mil milhões, com mais 140 milhões devido à inflação. O Eliseu garante que "o orçamento dos Jogos será cumprido" e desmente as notícias "infundadas" que surgiram nas últimas semanas sobre a criação de um imposto olímpico.
Entre outras medidas para impedir o descontrolo das contas, a presidência francesa indicou que se poderá cortar no cerimonial - indo ao encontro das preocupações de segurança -, dar mais visibilidade às empresas para atrair mais patrocínios, e pedir ao Comité Olímpico Internacional que reveja em alta a dotação de 1,2 mil milhões de euros, para cobrir a inflação. Além do mais, o Eliseu anunciou que a reunião com os ministros e o comité organizador passará a trimestral.
O presidente francês inicia hoje uma viagem que o leva aos Camarões, Benim e termina numa inédita visita de um estadista gaulês à Guiné-Bissau. Depois de no início do primeiro mandato Macron ter lançado as bases para uma nova relação com os países africanos, a realidade no terreno é outra, como se viu com a saída inglória da missão militar no Mali ou nas relações tensas com o Burquina Faso. O chefe de Estado francês procurará uma visita sem controvérsias, e ao mesmo tempo reverter a influência russa na primeira paragem: os Camarões assinaram um acordo de cooperação militar com Moscovo.
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