Na imagem, o actor Sylvester Stallone. Mas vamos por partes, calma. Aqui há atrasado, por via de um negócio de compra e venda de títulos nobiliários com D. Maria Pia (a quem nunca pagou...), um empresário venezo-siciliano proclamou ao mundo ser duque de Bragança e, portanto, rival de D. Duarte na pretensão ao trono de Portugal e dos Algarves. Don Rosario Poidimani, assim se chamava a peça, ostentava no passaporte o lustroso título "Sua Alteza Real o Príncipe de Bragança". Abrira um consulado-fantasma em Varese e, a pretexto de criar um novo Estado soberano algures numa ilha do Mediterrâneo - o "principado de Bragança" -, vendeu a vários incautos um "kit diplomático" que incluía um passaporte, um símbolo de grandeza régia e matrículas CD à discrição. Muitos caíram na patranha, pagando 50 a 100 mil euros por cada kit e a promessa de fantasiosos títulos de nobreza em que a Itália é fértil..Quando prenderam o artista em Março de 2007, no âmbito da operação The Kingdom, as autoridades italianas descobriram nada menos que 712 passaportes falsos, 600 bilhetes de identidade ilegais e cinco livres-trânsitos das Nações Unidas, estes verdadeiros mas, claro está, adquiridos indevidamente na candonga internacional. Entre as proezas de Don Rosario, que até uma fotografia com o Santo Padre foi capaz de manipular, conta-se a atribuição a Sylvester Stallone do título de marquês de Vila Viçosa. Nem as notícias informam nem a imprensa esclarece se Stallone usou, ou sequer pediu, o marquesado calipolense ou se esta foi mais uma entre tantas majestosas graças de Don Rosario. Quem for ao Google e perguntar pelo nome do Rocky, I, II, III e IV salta-lhe logo à vista a tenebrosa entrada: "Stallone morreu". No início deste ano, o actor foi dado como completamente falecido, vítima de cancro, e logo da próstata, aos 71 anos. A fake news correu urbi et orbi, fazendo desaparecer do convívio dos vivos Michael Sylvester Gardenzio Stallone, o filho de um barbeiro e de uma astróloga do agitado bairro de Hell"s Kitchen, que, devido a complicações pós-parto de sua mãe, cresceu até hoje paralisado do lado esquerdo do rosto. Para quem não saiba, aquele ar de mauzão enfastiado que o celebrizou na tela não é feitio, é defeito (e de nascença)..Na imagem acima, a trineta da maçã que um sueco levou para o Novo Mundo. Mas prossigamos por partes. Em 1639, um rapaz sueco de 27 anos denominado Peter Gunnarson desembarcou na América. Mal aí assentara praça e já tinha acrescentado "Rambo" ao seu apelido nórdico, vá lá saber-se porquê. Com a sua mulher Brita fixou-se na Pensilvânia, num território que viria a chamar-se Nova Suécia (e, vá lá saber-se porquê, Peter Rambo ganhou o nobiliárquico título de Pai da Nova Suécia). Especula-se muito sobre a origem do nome Rambo, mas as fontes geralmente mais bem informadas asseveram que a raiz onomástica é sueca e tem que ver com Ramberget, um monte que fica na ilha de Hisingen, por bandas de Gotemburgo, terra natal de Peter Gunnarson Rambo. Este, ao que parece, levou para o Novo Mundo uma caixa com sementes de macieira e várias plantas de jardim. Daí o nome da maçã, "rambo" ou "rambo-de-inverno"..A coisa teria ficado pelo discreto reino da botânica não se desse o caso de, em 1972, um canadiano aspirante a romancista andar às voltas com o nome da personagem principal do livro que estava a escrever. Ainda a guerra do Vietname fumegava (a queda de Saigão só ocorreria três anos depois) e já David Morrell se dispunha a contar as desventuras de um veterano muito abalado pela PSPT (perturbação de stress pós-traumático). Estava Morrell a matutar no nome que daria ao seu protagonista quando a mulher chega das compras com um saco carregado de fragrantes maçãs rambo. O casal, como é óbvio, vivia na Pensilvânia e, naquele preciso instante, foi assim baptizada a personagem maior da novela de Morrell..First Blood saiu em 1972 e foi um bocadito maltratado pela crítica snob. A revista Time, maldosa, chamou-lhe um exercício de "carnografia", mas o livro teve boa recepção do público comprador e aplauso de quem sabe deste género de prosa (Stephen King incluiu-o como leitura obrigatória nos cursos de escrita criativa). Pouco depois da publicação, os direitos da adaptação cinematográfica foram vendidos a Hollywood, que só lhes daria uso dez anos depois, na célebre fita em que o marquês de Vila Viçosa encarnou os músculos de John Rambo, nascido em pleno Arizona, filho de pai navajo e de mãe italiana, incorporado em 1965 na guerra do Vietname, de onde regressou muito combalido do espírito.."É extraordinário como a história da macieira está intimamente ligada à do homem", assim dizem as primeiras linhas do encantador escrito de Henry David Thoreau sobre as maçãs-bravas americanas (Maçãs Silvestres & Cores de Outono, Antígona, 2016). Ignorava o autor de Walden ou a Vida nos Bosques até que ponto o tempo lhe daria razão. Mas estamos em crer que, a seu modo plácido e panteísta, Henry Thoreau partilhava a rebeldia inconformada de John Rambo, o anti-herói da maçã sueca..Historiador. Escreve de acordo com a antiga ortografia.