O percurso do norte-americano John Luther Adams está indelevelmente ligado a um território improvável: o Alasca. Foi lá que passou a maior parte (38 anos) da vida adulta, lá que o seu rumo virou em direção à composição e lá que decidiu verter em música a natureza esplendorosa que o circundava, mas também a sua consciência dos muitos perigos que a ameaçam. Tanto no Grande Norte como no resto do planeta..O seu percurso formativo foi muito eclético, com mais de informal, até, do que de formal em termos de estudos, experiências como percussionista e sobretudo uma grande curiosidade e fascinação. Foi para o Alasca por incumbência profissional ligada à conservação da natureza, mas não demorou a perceber que era através da música que queria transmitir a sua visão do - e amor pelo - mundo natural e, tanto quanto possível, alertar as consciências globais..Become Ocean transformou-o de alguém conhecido em personalidade/voz de alcance internacional. O Pulitzer de 2014 ajudou à mediatização, tal como o Grammy de 2015 para a gravação de estreia, pela Sinfónica de Seattle e maestro Ludovic Morlot. Dos EUA e Canadá, a obra depressa alcançou a Europa, contando-se já quase uma dezena de países onde foi tocada. Daqui por um mês (29 de março), Luther Adams tem outra importante estreia: Become Desert, para coro e orquestra, de novo em Seattle. Esperemos que, na esteira da "irmã mais velha", a onda que ali se gere alcance o resto do planeta..Entretanto, o Alasca passou a ser só a sua "eterna morada espiritual" e a sua base principal situa-se hoje no interior do estado de Nova Iorque. Mas a alma de Luther Adams é (sempre foi) o mundo todo, o planeta todo inteiro: este milagre de vida de forma esférica, nossa casa comum, cuja beleza vai de par com fragilidade. Ou com precariedade. Um "fio da navalha" sobre o qual é (ainda) possível, todavia, permanecer em harmonia e equilíbrio. Talvez seja isso que cada obra de John Luther Adams nos ensina um pouco a fazer...