"Lutar pelo top 10 era algo difícil de acreditar há alguns meses"
Que balanço faz da participação no Dakar 2017, após a primeira semana?
Está a ser uma prova muito difícil e exigente, mas ao mesmo tempo fantástica. É o meu primeiro Dakar, cheguei recentemente ao mundo dos ralis e estar a lutar pelo top 10 da maior e mais importante prova do mundo da especialidade ao final de uma semana é algo em que não acreditava há meia dúzia de meses.
Melhor do que esperava, então?
Para ser sincero, vim para o Dakar com o objetivo de terminar a prova e conseguir classificar-me o melhor possível. Pelo nível de concorrentes experientes nesta prova, sendo o meu primeiro ano, esperava chegar ao fim e aprender. Não vim para ganhar, mas também não vim para me ir embora ao fim de uns dias ou até mesmo ser último classificado. O que estou a fazer satisfaz-me!
Qual foi o melhor e o pior momento até agora?
O melhor foi sem dúvida estar na partida e poder estar a lutar pelos dez primeiros lugares ao fim de cinco etapas. É sem dúvida um grande momento. O pior foi talvez a queda no segundo dia, onde acabei por fraturar um polegar...
Como se preparou para este Dakar? É estreante e não sabia bem o que ia encontrar...
Fiz aquilo que qualquer piloto que tem por objetivo participar num Dakar faz. Desde treino de navegação, resistência, conciliar o treino de moto com o físico e ainda treino de altitude e psicológico para enfrentar esta grande prova. Tenho a sorte de ter por detrás pessoas fantásticas que me ajudaram a aprender de forma rápida, uma equipa de profissionais que tornou tudo mais fácil.
Tem laços familiares com Paulo Gonçalves. Como tem sido essa experiência com ele no Dakar? Lá em casa a família está dividida?
Conheço o Paulo há muitos anos, somos cunhados e convivemos com grande regularidade. Já competimos juntos antes. Ele foi uma das pessoas fundamentais para este meu início nos ralis. Deu-me muitos bons conselhos. Em casa não há divisão nenhuma, somos uma família chegada e saudável. A minha irmã, esposa do Paulo, é o meu braço direito e esquerdo em tudo!
Tem sido a boa surpresa entre os portugueses. O que ainda podemos esperar do estreante Joaquim Rodrigues?
O que se pode pedir a um estreante que chega à maior prova de todo-o-terreno do mundo e está a lutar lado a lado com os melhores pilotos do mundo da especialidade? É fantástico para mim, por isso podem esperar a minha luta até ao final, tal como tenho feito até agora. Sei que ainda o rali vai a meio, há muita corrida pela frente, por isso se conseguir manter o que já consegui será ótimo. Quero chegar ao final o mais bem classificado possível.
Como foi o incidente com a espanhola Laia Sanz? O que se passou afinal?
Não tenho palavras... Foi uma surpresa. Acredito que ela tenha percebido mal as minhas palavras. Ela parou-me e questionou-me se tinha encontrado o waypoint e eu disse que sim, ela seguiu de imediato a grande velocidade. As declarações dela não fazem qualquer sentido. Creio que fui o bode expiatório naquele dia. Uma piloto como ela, que defende uma marca e uma equipa de renome, deveria ter outra atenção aos comentários, ainda para mais sendo falsos. Terei a oportunidade de esclarecer o assunto com ela, coisa que esperava que ela o fizesse comigo. Mas está ultrapassado, só penso na minha corrida.
O médico do Dakar Daniel Roubicek disse: "As duas únicas formas de combater os sintomas é a folha de coca e o viagra, segundo os manuais de medicina." E o Joaquim, como tem lidado com a altitude?
É de facto um grande desafio. Provoca muitas dores de cabeça. Não tenho tomado nada mais do que comprimidos que trouxe para as dores de cabeça e enxaquecas. Mas há pilotos que são obrigados a recorrer a outras coisas. Tenho procurado suportar ao máximo, abstraindo-me.
Para quem não o conhece: quem é o Joaquim Rodrigues?
É um piloto que nasceu em Barcelos, vindo de uma família humilde. O meu pai era piloto e tem uma oficina (Moto Garrano), por isso sempre estive ligado às motos. Iniciei-me naturalmente no Motocross e conquistei os meus primeiros títulos em Portugal. Depois fui para o palco maior do Motocross e Supercross a nível mundial, os EUA, onde competi com grandes ícones mundiais. Foram anos de muito sucesso e que me deram grandes alegrias e orgulho. Voltei à Europa para participar no Mundial e venci no Supercross Internacional. Recentemente enveredei pela experiência no enduro e sagrei-me campeão nacional. Agora estou nos ralis, a escrever mais uma página da vida.