Luisão garante que não sai magoado com Vitória. "Mister, obrigado, acho que chegou a hora"

O defesa central, que encerrou a carreira de jogador a semana passada depois de 15 anos e 20 troféus ao serviço do Benfica, deu uma extensa entrevista à BTV onde falou do passado e do futuro
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Aqui ficam algumas passagens da entrevista de Luisão à BTV esta sexta-feira, reproduzidas no site do Benfica. Além de muitos elogios ao presidente Luís Filipe Vieira, o antigo capitão dos encarnados garante que não saiu magoado com Rui Vitória, contando que teve uma conversa franca com o técnico e que lhe agradeceu. Luisão confirmou ainda que vai continuar ligado ao clube, mas não especificou o cargo

"Eu já tinha saído do Juventus e ido para o Cruzeiro; já tinha sido campeão brasileiro e campeão pela seleção, mas tinha o sonho de sair do Brasil e jogar num clube grande na Europa. Surgiu num cenário de um menino a sonhar e que de repente viu a camisola do Benfica no centro de treino, jornalistas portugueses à volta. Com o clube na cabeça, comecei a lembrar-me de Eusébio, a sentir aquele friozinho na barriga e o desafio ficou mais próximo [...] Não, não hesitei em momento algum. Eu era jovem, mas tinha a noção da ligação entre Portugal e Brasil. Não tinha a noção do que encontrei logo no aeroporto quando cheguei, não imaginava a grandeza, mas já sabia que o Benfica era um nome forte."

"[o papel de Luís Filipe Vieira] Foi o principal. Foi ele quem me foi buscar ao Brasil, quem acreditou e apostou em mim. A história, bonita, desenrolou-se ao longo dos anos, mas ele fez o principal: foi ao Brasil e acreditou num jogador que até então era uma promessa."

"O que fica marcado para mim é que, quando cheguei, fomos treinar em Massamá, entrei no vestiário e não havia um chuveiro normal, apenas um cano. Vim do Cruzeiro, que tinha um centro de treinos do melhor que havia no país, e vendo já aquilo que a seleção do Brasil tinha. Cheguei aqui e vi um Benfica sem estrutura, um pouco estranho para aquilo que imaginava."

"A primeira vontade que tive [quando chegou ao Benfica] foi ligar para o meu empresário e dizer-lhe que aquilo que encontrei não era possível, que assim não dava. E aí o Presidente chamou-me e disse: "O que você encontrou aqui, daqui por uns anos não vai ser nada disso. A minha visão é esta: vou colocar o Benfica onde merece estar. Já construímos o Estádio, o Centro de Treino vai ser gigantesco e nossa estrutura a longo prazo vai ser essa." Por isso valorizo tanto a visão do nosso Presidente. Aconteceu tudo tal e qual ele me falou naquele começo e não tem limites para finalizar.

"[momentos desportivos que mais o marcaram] Aquele golo do título [em 2004/05]. Não tem como fugir a isso, porque o Benfica não ganhava há bastante tempo. O jogo estava complicado, empatado, e marquei aos 87 minutos, salvo erro. A gente precisava. E outro foi quando quebrei o braço, porque foi um novo desafio na minha vida: mostrar que o Luisão ainda tinha chance de renascer e que era uma mais-valia para o Clube a quem tanto devo."

[quando levantou a primeira taça já como capitão] A perna bambeia, fica-se muito emocionado, realizado, sabendo que se está a levantar uma Taça, a representar o Clube e todos os companheiros naquele momento de glória. Costumo dizer que é pena que só um levante a Taça. Devia haver uma para todos os jogadores que a conquistaram, para que todos aparecessem, mas como é apenas um a fazê-lo, só podia sentir-me orgulhoso."

"Muitas vezes as pessoas não têm noção da ligação que o Presidente tem com a equipa. Eu fiquei admirado por ver um líder no balneário a falar de igual para igual com os jogadores. Quando se perde, é o primeiro a estar intacto já a pensar no próximo jogo. Essa ligação fortalece muito o jogador. No ano do Tetra, quando as coisas não estavam muito bem (após uma derrota com o Marítimo), ele chamou-me no dia seguinte e disse-me: "Luisão, eu vou colocar aqui as coisas de que a gente vai precisar: sempre ambiciosos, humildade, determinação e compromisso." Escreveu com a letra dele e disse-me: "Luisão, se você conseguir colocar essas quatro coisas dentro do balneário, vamos ser tetracampeões. As pessoas sabem que quando o Benfica embala é difícil segurar, e é por isso que muitas vezes as críticas aparecem. Fui para casa, coloquei o papel na parede durante esse dia e pensei: quando a gente for campeão, eu vou entrar no balneário, chamá-lo e entregar-lhe esse papel. Era um desafio para mim. À medida que fomos chegando, comecei a visualizar e a sonhar com esse momento de entregar o papel. Levei-o na minha bolsa duas ou três rodadas, confesso, quando estávamos próximos da oportunidade, até que chegou o dia de ser Tetra. Diante de todos, chamei-o e disse-lhe: "Presidente, está aqui o papel e o sentimento de dever cumprido."

"Rui Vitória é super-honesto. Fica como meu último treinador e só tenho de agradecer por todos os anos. Foi sempre amigo, aberto e frontal, o que não é fácil numa posição como a dele. Não tenho nada de reclamar. Pelo contrário, tenho de agradecer a maneira frontal como ele me tratou e a liberdade que me deu para eu conversar com ele. Fico chateado por ver que, depois da homenagem, ainda há gente que quer criar uma onda entre o Luisão e o Rui, mas não é possível. Da maneira como fomos frontais e amigos - e a amizade vai continuar além do futebol -, não tem como criar polémica."

"[resposta à pergunta se sai magoado] De maneira alguma! Não posso sair magoado com uma pessoa que no dia a dia me ajudou a ser campeão, a competir com os meus colegas para tentar buscar um espaço. Como é que vou sair magoado com uma pessoa assim? Na decisão de colocar um fim na carreira, a conversa que tivemos foi supertranquila, em dois minutos. Procurei agradecer-lhe e disse-lhe: "Mister, obrigado, acho que chegou a hora." A amizade vai continuar e vou estar sempre a apoiar."

"[As palavras do presidente: "Luisão é o meu companheiro de viagem] A palavra "companheiro", para mim, passou a ter ainda mais sentido quando ele disse isso. A palavra em si tem uma simplicidade tamanha e nessa palavra podemos viajar: colocamos a honestidade, o carinho, a relação tão próxima. É uma palavra com muito significado para mim. Mas eu acho que ele foi muito mais meu companheiro, porque deu-me muito mais. Ele é um líder, gere um clube de expressão mundial. É uma pessoa que transformou o Benfica ao longo desta viagem e que fez dele um exemplo de gestão. Quando uma pessoa como o Presidente me trata por companheiro de viagem, eu tenho de ficar duplamente orgulhoso, por ser companheiro e por fazer parte da viagem."

"O meu compromisso era honrar o Benfica até ao último dia como jogador, e eu sei que o fiz. O meu objetivo era ajudar o Clube até não poder mais fisicamente. Tem de se ser sempre respeitoso com a instituição. Vou honrar o nome Benfica com a mesma garra e o mesmo empenho que tive como jogador de futebol. O Clube deu-me quase tudo, e eu tenho a obrigação de continuar com garra, determinação, respeitando o Benfica e fazer com que as pessoas também respeitem. A Mística também é feita pelo adepto. Ele tem a obrigação de fazer com que o Clube seja respeitado, esteja onde estiver. Os outros têm de perceber que está ali um Benfiquista."

"[se vai continuar ligado ao Benfica] Sim, com certeza, não tem como encerrar essa ligação. Já estruturámos a nossa vida para continuarmos em Portugal e estarmos próximos do Benfica."

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