Luis Fernando Díaz Marulanda, de 22 anos, foi nesta quarta-feira anunciado como reforço do FC Porto - assinou contrato até 2024 e vai jogar com o número 7 nas costas. É o culminar de um ano de sonho para o extremo colombiano, que recentemente teve a oportunidade de representar a seleção do seu país na Copa América, chamado por Carlos Queiroz, e que agora cumpre o sonho de menino de ter a oportunidade de jogar no futebol europeu, num clube onde, entre outros, despontaram alguns compatriotas como Radamel Falcao, James Rodríguez e Jackson Martínez..Díaz teve uma infância difícil. Nasceu no bairro de Los Cerezos, em Barrancas, a sul da cidade de La Guajira. Um local marcado pela pobreza e por situações de violência, insegurança e desnutrição. O gosto e o jeito para o futebol estiveram sempre presentes desde criança, quando nas peladas de rua tentava imitar os dribles de Ronaldinho Gaúcho, o seu ídolo. E mesmo quando chegava a casa ensaiava os gestos da antiga estrela do Barcelona e da seleção brasileira.."Fez um grande trabalho, mostrou valor e merece tudo o que lhe está a acontecer, porque desde sempre se dedicou de alma e coração e lutou para conseguir cumprir os seus objetivos. As minhas lágrimas são de emoção e de muita felicidade, por ter conseguido alcançar um objetivo que não esperávamos que estivesse tão próximo." Palavras do pai Luis Manuel Díaz, ao jornal El Heraldo, que chegou a treiná-lo em criança no clube do bairro, quando em setembro de 2018 o extremo foi chamado pela primeira vez à seleção da Colômbia.."A vida dele sempre foi a bola. Não fazia outra coisa. Ele e os irmãos. Jogavam mais dentro de casa, preferia que me partissem coisas em casa do que estivessem na rua. Sempre foi um jovem tímido, com muito juízo, dado à família e sobretudo muito respeitador", acrescentou a mãe, Silenis Marulanda, na mesma reportagem..O reforço portista tem uma história curiosa, pois deu nas vistas no futebol indígena e se chegou aos patamares onde está hoje deve-o muito a Carlos Valderrama, uma das maiores figuras do futebol colombiano. Em 2015, com 18 anos, participou num torneio com equipas compostas por jogadores indígenas - tem origens wayuu - cujos melhores jogadores seriam escolhidos para uma seleção de indígenas para participar num torneio tipo Copa América..Deu nas vistas e foi chamado por... Carlos Valderrama, que era o selecionador desta equipa. Acabou por ser um dos grandes destaques daquela Copa América para indígenas de 2015, realizada no Chile, em que a Colômbia chegou à final (perdeu com o Paraguai), mas Díaz marcou quatro golos em cinco jogos. Foi também com a ajuda de Valderrama que imediatamente a seguir assinou pelo Barranquilla FC, onde esteve até 2018, dando depois o salto para o Junior Barranquilla, de onde agora se transferiu para o FC Porto..Quando chegou ao Barranquilla FC, com 18 anos, era demasiado magro e o mais fraco de todos os jogadores, aparentando sinais de desnutrição. Por isso pediram-lhe que engordasse dez quilos, com pastas e carnes ao pequeno-almoço, ao jeito do que acontece com os ciclistas que participam na Volta à França. Além disso tomou vários suplementos vitamínicos para ganhar massa muscular. Mesmo assim, atualmente, continua a apresentar um físico frágil - mede 1,80 metros e pesa apenas 56 quilos.."Não me surpreende o seu nível. É um jogador tremendo e tem talento de sobra. Apenas precisava de oportunidades. Tem uma qualidade imensa, basta ver a forma destemida como encara os adversários, a rapidez, a habilidade e a forma como trabalha para a equipa. Quando começou era algo egoísta, mas agora já o vejo a jogar mais para o coletivo. É algo de muito positivo", opinou Valderrama, em 2017, quando Díaz já começava a dar nas vistas ao serviço do Junior Barranquilla..Em 2017 participou na Copa Sul-Americana de sub-20 e no ano passado, em setembro, foi pela primeira vez chamado à seleção principal da Colômbia, num jogo amigável diante da Argentina, que terminou empatado sem golos (entrou aos 78 minutos para o lugar de Cuadrado), numa equipa na altura dirigida por Arturo Reyes. Mas foi já com Carlos Queiroz como selecionador que marcou o seu primeiro golo pelos cafeteros, num jogo de preparação contra a Coreia do Sul. Durante a Copa América começou por ser suplente não utilizado na vitória da Colômbia diante da Argentina, contra o Qatar entrou aos 75' e foi titular contra o Paraguai, chegando mesmo a marcar um golo que foi anulado. No jogo dos quartos-de-final, com o Chile, entrou aos 81'..Agora chega finalmente ao futebol europeu, contratado para ocupar a vaga deixada por Brahimi, que deixou os dragões em final de contrato. Um desafio mais exigente para o jogador que apenas com 12 anos deixou toda a gente no estádio de boca aberta, quando pegou na bola antes do meio-campo, deixou pelo caminho vários miúdos adversários, e com a calma de um veterano rematou para o fundo das redes, apurando a sua equipa da altura, o El Cerrejón, num torneio escolar..Oitavo cafetero de azul e branco.A história de futebolistas colombianos no FC Porto é curta mas intensa. Com Luis Díaz, passarão a ser oito os cafeteros que vestiram de azul e branco, uns com bem mais sucesso do que outros..O primeiro foi o avançado Wason Rentería, que chegou em janeiro de 2007 com o rótulo de goleador, depois de ter ajudado o Internacional de Porto Alegre a vencer a Taça Libertadores. Porém, não foi além de seis jogos de dragão ao peito, acabando por ser um pouco mais feliz nas épocas em que esteve emprestado ao Sp. Braga..Apesar do fracasso, um ano depois o FC Porto voltou a contratar um colombiano, Fredy Guarín. Ao longo de três épocas e meia, o médio contratado aos franceses do Saint-Étienne nunca se conseguiu impor verdadeiramente no onze, tendo somado mais encontros como suplente utilizado (60) do que como titular (57). Ainda assim, despediu-se do Dragão com 21 golos apontados, uma marca assinalável para um centrocampista, e a assistência para o golo decisivo de Falcao (já lá vamos a este...) ao Sp. Braga na final da Liga Europa em 2011..Em 2009, os azuis e brancos mantiveram a cadência de um colombiano contratado por ano e logo com uma bicada ao rival Benfica. Radamel Falcao esteve com um pé na Luz, mas acabou no Dragão, onde marcou 72 golos em 87 jogos ao longo de duas temporadas. Só na caminhada vitoriosa para a conquista da Liga Europa foram 17, o que constitui um recorde, entre os quais o que deu o troféu à equipa então orientada por André Villas-Boas. Saiu em agosto de 2011 para o Atlético Madrid por 40 milhões de euros..Um ano depois, novo colombiano que esteve a um passo do Benfica mas que virou ídolo no FC Porto: James Rodríguez. Contratado aos argentinos do Banfield quando tinha apenas 19 anos, foi conquistando gradualmente o seu espaço na equipa de Villas-Boas. Suplente utilizado na final da Liga Europa em 2010-2011, brilhou quatro dias depois no Jamor, ao apontar um hat trick ao V. Guimarães no jogo decisivo da Taça de Portugal. Nas duas épocas seguintes foi titular indiscutível com Vítor Pereira, deixando o Dragão rumo ao Mónaco no verão de 2013, num pacote de 70 milhões de euros que também englobava João Moutinho, depois de 108 jogos e 32 golos pelo emblema portista..Embalado pelo sucesso desses colombianos, o FC Porto recrutou dois de uma assentada no verão de 2012: Jackson Martínez e Héctor Quiñones. O primeiro passou três épocas de dragão ao peito e foi melhor marcador da I Liga em todas, embora só em 2012-2013 tivesse sido campeão. No total de todas as competições, efetuou 136 encontros e apontou 92 golos pelo clube da Invicta, o que faz dele o cafetero com mais jogos e golos de azul e branco. Desde que saiu para o Atlético Madrid em 2015 que nunca mais foi tão feliz..Já Quiñones atuou sobretudo pela equipa B, tendo cumprido 53 jogos pela formação secundária dos azuis e brancos e apenas dois na equipa principal. Depois esteve cedido ao Penafiel e até à época passada esteve vinculado ao Paços de Ferreira, tendo passado em clubes do país dele pelo meio..Antes de Luís Díaz, o último colombiano a ser contratado tinha sido Juan Quintero, no verão de 2013. Apesar do rótulo de craque, nunca correspondeu às expectativas no Dragão, despedindo-se com sete golos distribuídos por 64 jogos, dos quais em apenas 18 foi titular..O sucesso de futebolistas cafeteros no FC Porto tem estreitado as relações entre aquele país e o clube português. Em 2013, a equipa principal fez uma minidigressão por solo colombiano e os azuis e brancos anunciaram que a Colômbia era o país com mais seguidores na página oficial do FC Porto no Facebook (depois de Portugal). No ano seguinte, o emblema portista inaugurou lá a primeira escola de futebol Dragon Force fora de Portugal.