Santo António.O povo venera-o e pede-lhe a intercessão com rezas e responsos, tratando-o com uma familiaridade que não tem com outros santos. Nascido em Lisboa em data incerta no final do século XII, Santo António foi, no entanto, um importante teólogo medieval, com estudos feitos na Ordem dos Cónegos Regulares de Santa Cruz, em São Vicente de Fora, e em Santa Cruz de Coimbra. Em Itália tornou-se franciscano e os seus dotes de oratória foram celebrados pelos seus pares. Entre os milagres que lhe são atribuídos conta-se que o Menino Jesus terá descido dos céus enquanto António rezava, o que justifica a omnipresença da sua figura ao colo do frade na iconografia antoniana. Morreu a caminho de Pádua, a 13 de junho de 1231..Amália Rodrigues.Nasceu no bairro de Alcântara em dia incerto de julho de 1920 e, como tantas crianças pobres desse tempo, foi para a rua vender limões para ajudar ao sustento da família. Para adoçar tal dureza, cantava e, em breve, havia quem lhe desse mais umas moedas pela graça de tal canto. A voz ditar-lhe-ia o destino. No final dos anos 1940 andava já nas bocas do mundo, com atuações em Paris, Nova Iorque, Rio de Janeiro e muitos milhares de discos vendidos. Fascinou até os intelectuais, até aí avessos ao universo popular do fado, que escreveram para ela. Quando morreu, na sua casa da Rua de São Bento, a 6 de outubro de 1999, pertencia já à mesma categoria de imortais que Edith Piaf ou Frank Sinatra..Fernando Pessoa."Se eu tivesse o mundo na mão, trocava-o, estou certo, por um bilhete para a Rua dos Douradores", escreve Bernardo Soares em O Livro do Desassossego. Em comum com o seu heterónimo, Fernando Pessoa, nascido no Largo de São Carlos, no dia de Santo António de 1889, tinha a relação umbilical com Lisboa, que não mais abandonaria desde que regressara após ter passado parte da adolescência na África do Sul. Morreu a 30 de novembro de 1935, no Hospital de São Luís dos Franceses, no Bairro Alto, depois de residir um pouco por toda a cidade, desde Campo de Ourique (onde hoje está a Casa Fernando Pessoa) à Rua dos Douradores, nunca muito longe do "macio Tejo ancestral e mudo"..Alexandre O'Neill."Os domingos de Lisboa são domingos / terríveis de passar", assim começa um dos muitos poemas satíricos que Alexandre O'Neill dedicou à cidade onde nasceu a 19 de dezembro de 1924. Conhecia como ninguém a mansa tristeza da pequena burguesia alfacinha nesses anos em que a ditadura parecia ter suspendido o tempo e traduziu-o em livros como No Reino da Dinamarca ou Feira Cabisbaixa. Membro fundador do Grupo Surrealista de Lisboa, foi vigiado pela PIDE e chegou a estar preso em Caxias. Morreu em Lisboa, a 21 de agosto de 1986..Martim Moniz.Muitos conhecem a Praça de Lisboa que leva este nome mas desconhecem a lenda que sustenta o topónimo. Embora nenhuma das crónicas contemporâneas da tomada de Lisboa aos mouros, em 1147, se refira a Martim Moniz, a lenda guardou o alegado sacrifício de um cavaleiro cristão, portador desse nome, que terá morrido trespassado pelas lanças dos sitiados enquanto impedia que se encerrassem as portas do castelo, permitindo, assim, às tropas de Afonso Henriques entrar na cidade depois de longo e penoso cerco. Lendário ou não, o feito é recordado numa placa evocativa no Castelo de São Jorge..Maria Severa.O escritor Bulhão Pato, que terá chegado a conhecer pessoalmente Maria Severa Onofriana, descreveu-a como "uma fadista interessantíssima como nunca a Mouraria tornará a ter". Nascida na Graça em 1820 e cedo levada para o bairro que ainda hoje a celebra, a fama da sua voz de cantadeira correria meia Lisboa, do mais humilde casebre aos solares da nobreza. Os amores célebres com homens poderosos como o conde de Vimioso trouxeram-lhe noites de tourada e fadistagem mas não a livrariam da miséria e da prostituição. Tuberculosa, morreu de apoplexia a 30 de novembro de 1846, num miserável bordel da Rua do Capelão, tendo sido sepultada no Cemitério do Alto de São João, numa vala comum, sem caixão. Severa é a fundadora de uma "linhagem" de fadistas lisboetas que incluem, para além de Amália, Hermínia Silva, Alfredo Marceneiro, Fernando Farinha, entre muitos outros..Joshua Benoliel.Considerado o criador da reportagem fotográfica, Joshua Benoliel nasceu em Lisboa a 13 de janeiro de 1873. O talento de que cedo deu mostras conquistou o interesse dos últimos monarcas, D. Carlos e D. Manuel II, que o convidariam a registar oficialmente as suas muitas viagens em Portugal e no estrangeiro. Simultaneamente, as fotografias de Joshua tornar-se-iam parte essencial da imagem gráfica de revistas como a Illustração Portugueza. Assim continuaria a ser já em plena República, quando, entre outras grandes reportagens, acompanhou o Corpo Expedicionário Português à Flandres na Primeira Guerra Mundial. Morreu em Lisboa a 3 de fevereiro de 1932..Gonçalo Ribeiro Telles.Tido por muitos como a consciência ambiental de Lisboa, Gonçalo Ribeiro Telles nasceu nesta cidade a 25 de maio de 1922. Pioneiro da arquitetura paisagista em Portugal, ao lado de Francisco Caldeira Cabral, tem entre as suas obras mais importantes o jardim da Fundação Gulbenkian, em parceria com Viana Barreto, que lhes valeu o Prémio Valmor em 1975. Cidadão de causas, integrou a Ação Católica e, em 1957, fundou o movimento dos monárquicos independentes contra a ditadura. Uma posição de confronto de que nunca abdicou, nomeadamente durante as cheias do Ribatejo de 1967. Já depois do 25 de Abril, seria um dos fundadores do PPM-Partido Popular Monárquico..Vasco Santana.O cinema guardou a popularidade do ator morto há mais de 60 anos. Nascido na antiga Rua Direita de Benfica, em Lisboa, a 28 de janeiro de 1898, começou por se interessar pelas belas-artes com o objetivo de se tornar arquiteto. Mas a necessidade de substituir um amigo numa peça em exibição no Teatro Avenida, em 1916, desviá-lo-ia para sempre desses planos. Era o princípio de uma carreira extraordinariamente popular que passou pelo teatro de revista, pela opereta, pela rádio e pelo cinema, em que, desde Lisboa, Crónica Anedótica, de Leitão de Barros, se popularizou pelos seus papéis de "alfacinha" bon vivant, namoradeiro e trocista, nomeadamente em filmes como A Canção de Lisboa, Pátio das Cantigas ou O Pai Tirano. Vasco Santana morreu na sua quinta de Caneças, no dia de Santo António de 1958, na sequência de uma operação ao fígado..Júlio César Machado.Nascido na Travessa da Fábrica das Sedas às Amoreiras, em Lisboa, a 1 de outubro de 1835. Conhecedor da vida cultural e boémia da capital, a importância das suas obras sobre Lisboa, nomeadamente Os Teatros de Lisboa, Lisboa na Rua ou A Vida em Lisboa tornou-o um pioneiro da olisipografia e a Câmara Municipal de Lisboa deu o seu nome a um prémio de jornalismo sobre a cidade. A 12 de janeiro de 1890, dois meses depois do suicídio do seu único filho, o escritor poria também fim aos seus dias. Impressionado, Ramalho Ortigão escreveria: "Em toda a sua obra, nos folhetins e nos livros, há uma larga claridade hospitaleira de toalha lavada, de jantar servido ao ar livre dos campos.".Maria Helena Vieira da Silva.Nasceu no Alto de São Francisco, em Lisboa, na noite de Santo António de 1908, numa família em que a arte e os livros eram presenças habituais. Consagrar-se-ia em Paris, onde estudou e encontrou o amor da sua vida, o também pintor Arpad Szenes. Malquista pela ditadura salazarista, tomou a cidadania francesa em 1956, quando já era uma artista internacionalmente reconhecida, mas não perdeu a oportunidade de se associar à alegria pela liberdade reconquistada a 25 de abril de 1974. São da sua autoria os cartazes A Poesia Está na Rua e 25 de Abril de 1974. Morreu em Paris a 6 de março de 1992. Lisboa recordá-la-ia dois anos depois, com a inauguração do Museu Arpad Szenes-Vieira da Silva, situado na Travessa da Fábrica das Sedas (bem perto da casa da sua infância), num lugar que a própria artista escolhera para esse efeito..José Leitão de Barros.Ficou para a história como o realizador de alguns dos títulos mais importantes do cinema português, desde Lisboa, Crónica Anedótica a Ala-Arriba e Camões, mas Leitão de Barros, nascido na paróquia de Santa Isabel em 1896, teve a curiosidade multifacetada de um homem do Renascimento. Movido por um extremo amor à cidade natal, planeou diversas iniciativas, entre as quais as Marchas de Lisboa, originalmente criadas em 1932 para dinamizar o Parque Mayer mas que rapidamente se tornaram parte essencial dos festejos dos Santos Populares. Jornalista, publicou nas páginas do DN uma rubrica semanal a que deu o título bem alfacinha de "Os Corvos", ilustrada por João Abel Manta. Reunidas em volume, são hoje uma raridade muito procurada nos alfarrabistas. Morreu na cidade onde nasceu a 29 de junho de 1967..Ary dos Santos.Na Rua da Saudade, a dois passos da Sé de Lisboa, lá está a placa que assinala a antiga morada do poeta José Carlos Ary dos Santos (1937-1984). Nascido numa família conservadora, aparentada com a fidalguia, incompatibilizou-se ainda adolescente com o pai e fez de tudo um pouco para assegurar a sobrevivência, desde venda de máquinas distribuidoras de pastilhas elásticas a publicidade. Mas seria a poesia, nomeadamente para algumas das canções portuguesas mais populares de sempre, que lhe traria notoriedade. Entre os muitos êxitos que escreveu para intérpretes como Simone de Oliveira, Tonicha, Fernando Tordo ou Carlos do Carmo, contam-se alguns poemas dedicados à sua cidade como Lisboa, Menina e Moça e Retrato do Povo de Lisboa..Cosme Damião.Nascido no Lumiar a 2 de novembro de 1885, é um dos fundadores do Sport Lisboa Benfica e um dos que se mais bateram pela continuidade do clube durante os primeiros anos da sua existência. Foi atleta de várias modalidades, membro de várias direções e, fiel aos princípios da sua educação casapiana (como outros nomes importantes do desporto português desta época), defendia a importância do lema "mente sã em corpo são". Morreu a 11 de junho de 1947, desgostoso com os projetos de profissionalização do futebol que começavam a chegar a Portugal..José de Alvalade.José Holtremann Roquette, neto do visconde de Alvalade, nasceu em Lisboa, a 10 de outubro de 1885, e partilhava o interesse pelo desporto que, no princípio do século XX, tomava várias classes sociais. Desagradado com o rumo que tomava a coletividade do Campo Grande de que fazia parte, foi um dos principais impulsionadores da criação do Sporting Club de Portugal. Mas não viveu para ver crescer a sua obra. Morreu em outubro de 1919, vítima da pneumónica.