Lisa, a filha que Steve Jobs não quis reconhecer aos 23 anos

Criador da Apple não se sentia capaz de ter família naquela idade e confessou que gostaria de ter feito "melhor trabalho".
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De todos os pecados do fundador da marca da maçã, este terá sido o original. Quando Lisa nasceu, em 1976, Steve Jobs não esteve presente. Durante anos recusou-se a reconhecer a paternidade da criança, fruto da sua relação com Chrisann Brennan, a namorada de juventude com quem passou noites a sonhar sob os efeitos de LSD. Mas quando a realidade se revelou na forma de uma gravidez inesperada, Jobs fugiu para o mundo das máquinas. A relação com a filha, que só conheceu o pai aos 7 anos, é uma das mais exploradas no novo filme - o terceiro sobre a vida do fundador da Apple - que se estreia em Portugal a 12 de novembro.

Steve Jobs, a cineobiografia baseada no livro igualmente biográfico de Walter Isaacson - e que foi oficialmente reconhecida pelo empresário, antes da sua morte, em 2011 -, é realizada por Danny Boyle e conta a vida de Steve a partir de quatro relações: com três dos principais responsáveis pela criação da empresa, mas também conta a relação tardia (e culpada) que manteve com a filha Lisa, hoje uma jornalista formada em Harvard - os estudos foram pagos pelo pai. Mas nem sempre Jobs foi um homem de família, ou desejou sê-lo.

[citacao:Ele não queria estar em contacto comigo nem com a filha]

Steve conheceu Chrisann em 1972, quando era finalista de liceu. Depois de uma separação, o casal voltou a juntar-se e a 17 de maio nasce a primeira filha de Steve Jobs, numa quinta comunitária no estado de Oregon, nos EUA. Jobs só apareceria uns dias depois, para voltar a desaparecer durante vários anos, deixando a ex-namorada a criar a filha de ambos sozinha. "Ele não queria estar em contacto comigo nem com a filha", haveria de escrever Chrisann Brennan no livro The Bite in the Apple: A Memoir of My Life with Steve, que conta a história da sua relação com o empresário.

Chamado a tribunal, o visionário da tecnologia chegou a alegar ser infértil, mas um teste de ADN acabaria por considerar existirem 94,41% de possibilidades de ele ser o progenitor de Lisa, que entretanto vivia com a mãe, beneficiária de apoios sociais. Steve já criara a Apple e fizera o primeiro milhão (aos 25 anos). O tribunal estipulou que pagasse cerca de 385 euros de pensão de alimentos a Chrisann, um valor que este haveria de aumentar para 500 euros mensais, assegurando que as duas viviam também num apartamento sem pagar renda.

Lisa, que estudou Jornalismo em Harvard, também recebeu a ajuda do pai nos estudos e já tinha até vivido com ele alguns anos. "O meu pai era rico e conhecido, e à medida que o fui conhecendo e passando férias com ele, e depois de termos vivido juntos, eu conheci um mundo com muito mais glamour", disse Lisa à revista Vogue, em fevereiro de 2008. Só depois de ter mantido uma relação afetuosa com o pai é que a jovem decidiu alterar o seu nome para Lisa Nicole Brennan-Jobs.

A atitude deste jovem Steve acabaria por espantar muitos dos que lhe eram próximos, até porque ele era visto como alguém que lutara a vida inteira contra a sensação de abandono - foi adotado depois de a mãe o ter deixado, uma vez que a sua família não aceitava o namorado sírio. Aliás, o tema do abandono foi muitas vezes abordado por Jobs quando namorava com Chrisann. Mas também ele viria a abandonar a própria filha.

Ainda assim, há quem defenda que, apesar de recusar reconhecer Lisa ou de não se sentir preparado para assumir uma família - estava ocupado a revolucionar o mundo da tecnologia -, Steve nunca conseguiu esquecer a criança. Em 1983, lançou o Apple Lisa, o primeiro computador pessoal com rato e interface gráfico. Durante anos, os funcionários da empresa disseram que esse nome era formado pelas iniciais de Local Integrated Software Architeture, o que o próprio Steve Jobs haveria de negar, muitos anos depois. "É claro que dei esse nome por causa da minha filha", confessou ao biógrafo Walter Isaacson.

O criador da Apple decidiu ajudar Walter a escrever o livro, para que os seus filhos o pudessem "conhecer melhor". E talvez para poder redimir-se de alguma culpa. "Gostaria de ter lidado com isso [paternidade de Lisa] de forma diferente. Não me conseguia ver como pai nessa altura", confessou, revelando: "Se eu pudesse fazer tudo de novo, sei que faria um melhor trabalho."

A viúva de Steve, Laurene Powell Jobs, quis impedir a realização do filme que se estreia no próximo mês em Portugal, temendo que a imagem do marido ficasse manchada. No entanto, Steve Jobs é, das três histórias que contam a vida do empresário no cinema, aquela que recebeu mais elogios por parte da crítica. Mostrar a relação de Steve com a filha Lisa ajudou.

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