O presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses acusou esta terça-feira no parlamento o comandante nacional da Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC), António Paixão, de ser "prepotente e incompetente" para o lugar que ocupa.."É a primeira vez que o comandante nacional da ANPC não é oriundo dos bombeiros. É um elemento da GNR e posso dizer, sem medo das palavras, que é prepotente e incompetente e que é uma pessoa em que não se pode confiar para o lugar em que está", disse hoje Jaime Marta Soares na comissão parlamentar de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, numa audição das organizações representativas de bombeiros profissionais e voluntários..A audição conjunta da Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP), da Associação Nacional dos Bombeiros Profissionais (ANBP) e da Associação Nacional dos Bombeiros Voluntários (ANBV) foi pedida pelo Bloco de Esquerda e pelo CDS-PP, a propósito do Relatório da Comissão Técnica Independente sobre a "Avaliação dos incêndios ocorridos entre 14 e 16 de outubro de 2017 em Portugal Continental", divulgado em março..Sobre a unidade de missão para reorganizar os corpos de bombeiros nacionais, como sugerido pela comissão técnica independente que analisou os incêndios de 2017, Marta Soares disse que a Liga só será favorável se os bombeiros tiverem uma participação e forem ouvidos..A importância de ouvir os bombeiros foi também sublinhada pelo presidente da ANBP, Fernando Curto, referindo que "não escandaliza nada" à associação que seja criada a unidade de missão, reconhecendo que o setor precisa de ser reorganizado..Sobre a reestruturação da ANPC, cuja nova lei orgânica deverá ser aprovada em maio, o deputado do PCP Jorge Machado considerou "absolutamente inconcebível" que esteja a ser trabalhada uma alteração ao "modelo conceptual" da Proteção Civil sem que os bombeiros sejam ouvidos no processo e a ser "relegados para segundo plano", acrescentando que "a preocupação" dos comunistas é perceber se "existe uma desvalorização dos bombeiros no novo modelo"..Disse ainda que qualquer alteração que não tenha em conta que "80% do combate [aos fogos] é feito por voluntários vai dar asneira"..Fernando Curto disse que a ANBP "não foi ouvida em relação a nada", questionando-se sobre a razão de se estar a preparar legislação sobre os bombeiros sem os ouvir: "É preferível fazer errado?"..Rui Moreira da Silva, presidente da ANBV, sublinhou a importância dos voluntários -- dos mais de 28 mil bombeiros cerca de 26 mil são voluntários, disse --, alertando para "o esvaziamento das fileiras".."Esquecemo-nos de uma coisa essencial: só faz voluntariado quem tem boas condições sociais", afirmou..Fernando Curto mostrou-se ainda crítico das nomeações políticas para os cargos de comando nacional das estruturas: "Não posso ser comandante de acordo com o ciclo político do meu país"..E rejeitou ainda, no âmbito da reestruturação da Proteção Civil, qualquer "militarização dos bombeiros", dizendo que "toda a estrutura que está a ser preparada tem uma perspetiva militar"..Falhas na programação do socorro e nas comunicações, e abandono das populações foram identificados pela Comissão Técnica Independente de análise aos incêndios de outubro de 2017, apesar de este fenómeno inédito ter resultado da conjugação de fatores meteorológicos..Criada em 7 de dezembro de 2017, pela Assembleia da República (AR), para analisar os grandes incêndios rurais de 14, 15 e 16 de outubro nos seis distritos da região Centro (Aveiro, Castelo Branco, Coimbra, Guarda, Leiria e Viseu) e em dois do Norte (Braga e Viana do Castelo), a Comissão Técnica Independente (CTI), constituída por 12 peritos (seis indicados pelo Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas e outros tantos pelo parlamento), 11 dos quais integraram a CTI de avaliação dos fogos que deflagraram em 17 de junho de 2017 em Pedrógão Grande, voltou a ser presidida pelo professor universitário João Guerreiro..A comissão técnica independente que analisou os incêndios de outubro de 2017 defende a criação de uma unidade de missão para reorganizar os corpos de bombeiros, tendo em conta as vulnerabilidades existentes, que se vão agravar no futuro.