Líder do PSD Madeira admite acordo com Chega

O dirigente nacional do PSD e presidente do Governo Regional madeirense diz que entendimento com partido de André Ventura "vai depender do resultado" das eleições regionais de 24 de setembro.
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Durante meses falou nas "pontes de diálogo", que não tinha "nenhum complexo" e que "essa estigmatização do Chega" com ele "não funciona, porque o partido tem eleitores e os seus estatutos e funcionamento foram aceites pelo Tribunal Constitucional", mas sempre recusou dizer sim ou não à possibilidade de um acordo com o Chega.

A 21 de junho Miguel Albuquerque foi mais claro: "Nós [PSD Madeira] não estabelecemos linhas vermelhas". E até explicou que o partido de Ventura "faz parte do jogo do quadro político democrático [e] deve ser, em todos os cenários de uma democracia liberal, interlocutor privilegiado para qualquer questão".

66 dias depois, este sábado, pela primeira vez, em entrevista ao Novo Semanário, assumiu que "fazer qualquer acordo" com o Chega "vai depender do resultado" das eleições regionais até porque "não há vitórias antecipadas".

Apesar da "matriz nacionalista", da "tendência" centralista e antiautonomista do Chega e de pensar que um acordo pode não ser "necessário", Miguel Albuquerque clarificou a posição do PSD-M, de que é líder, a 29 dias das eleições regionais.

A clarificação do presidente do Governo Regional e também dirigente nacional do PSD [é presidente da Mesa do Congresso e faz parte da Comissão Política Nacional] colide com a promessa de Luís Montenegro, líder nacional do partido, que garantiu aos "portugueses" que o PSD não terá "no governo nem políticas, nem políticos racistas, nem xenófobos, nem oportunistas, nem populistas - ou apoio político (...). Não vou pactuar com partidos anti-Europa, anti-NATO, pró-russos, racistas ou xenófobos".

Mas não apenas. O abrir de portas ao partido de Ventura colide, por exemplo, com a certeza de Paulo Rangel, vice-presidente do PSD para quem "acordos com o Chega são uma linha vermelha inultrapassável", com a frontalidade de Jorge Moreira da Silva que diz "nunca, jamais, em tempo algum. Viola os nossos valores e princípios e nisso não se transige" e também com a convicção de José Manuel Fernandes, eurodeputado, que avisa que "o PSD não deve fazer, nem aqui na Madeira, seja onde for, não deve fazer nenhum tipo de acordo com o Chega".

Recentemente, em declarações ao DN, fonte social-democrata não hesitou em considerar que "se houver qualquer acordo [com o Chega] vamos andar até às Europeias com o PS com o discurso de que o PSD se juntou à extrema-direita. E isso não será fácil de resolver".

Em suma: com esta posição Albuquerque, que amanhã estará na Universidade de Verão do PSD, em Castelo de Vide, "fragiliza a liderança" de Montenegro.

A "ponte" com Ventura obrigará Montenegro, "se Albuquerque dançar com o Chega", a ter que tomar uma decisão: "Condena ou assume que o PSD se pode aliar a um partido radical" porque "nas questões de valores e princípios não há dois PSD", diz a mesma fonte.

Sérgio Gonçalves, líder do PS-M, que não está "surpreendido" com a clarificação, lamenta que "o PSD-M e o ainda presidente Miguel Albuquerque esteja disposto a tudo apenas para se manter no poder" ao admitir "finalmente" fazer um acordo com "um partido extremista" que "não respeita valores democráticos" e que, à semelhança de outros partidos extremistas europeus, "é contra as autonomias" e, por isso, "contra a autonomia da Madeira".

"É uma demonstração clara de um PSD sem ideias com receio de perder o poder", afirma.

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