Não foi o acontecimento mais feliz que motivou Nate Wooley a compor os temas deste novo álbum, (Put Your) Hands Together. O músico, actualmente com 37 anos, foi criado numa família dominada por mulheres, e, entre elas, a sua avó, Hazel, teve um papel especialmente importante. "A minha avó morreu precisamente quando comecei a compor os novos temas. Sentia-me despedaçado e precisava de encontrar uma forma de lidar com isso", explicou o trompetista ao DN. Depois de compor um tema em seu nome, decide então homenagear as mulheres que o criaram: "Queria apenas dizer publicamente que as amo", referiu..Todavia, a ligação com a música nasceu a partir do pai, saxofonista, com quem deu os primeiros concertos profissionais, por volta dos 13 anos. "Lembro-me perfeitamente de ver um concerto do meu pai, tinha eu 9 ou 10 anos, em que o público ficava cada vez mais eufórico à medida que ele ia tocando. Como ele é um pouco reservado, foi uma epifania vê-lo agir assim à frente do público", lembrou..Hoje dedica-se somente ao trompete, mas foi ao piano que Nate Wooley começou a tocar as primeiras notas, como o próprio contou: "Por volta dos cinco anos comecei a aprender a tocar piano. Já na escola aprendi trompete, tinha 10 anos na altura, mas ainda assim continuei alguns anos no piano. Até cheguei a vencer a competição Arnold Schoenberg, mas no fundo sabia que não tinha a força para continuar a tocar piano na faculdade e por isso decidi concentrar-me no trompete.".Se actualmente o trompetista é um dos maiores valores do jazz, tendo já partilhado o palco com nomes como Anthony Braxton, Paul Lytton ou Peter Evans, além de pertencer a colectivos como o Daniel Levin Quartet ou a Adam Lane's Full Throttle Orchestra, Nate Wooley confessa que a família teve um papel fundamental na sua dedicação à música: "Durante anos, os meus pais levavam-me todas as semanas às aulas de piano e de trompete, eu arrastava-os para os concertos, mesmo que eles odiassem a música. Quando fiz 12 anos, o meu pai levou-me pela primeira vez a uma loja de discos, o que contribuiu para a minha paixão pela música e para minha obsessão de coleccionador.".Actualmente, vive em Nova Iorque, onde durante vários anos teve os empregos mais distintos, que em nada estão relacionados com a sua música: "Trabalhei como condutor de autocarros, empregado de mesa, segurança numa escola de ballet... Eram trabalhos que me deixavam exausto, mas foram essenciais para conseguir sobreviver em Nova Iorque e conseguir concentrar-me na música", recordou..Apesar de (Put Your) Hands Together ser uma dedicatória a todas as mulheres que já fizeram parte da sua vida, da avó Hazel às tias-avós, sem esquecer a mãe e a actual mulher, segundo o próprio músico essa dedicatória é feita ao longo do disco de forma subconsciente: "Foi uma forma algo abrangente de agradecer por todo o apoio e por tudo o que essas mulheres me ensinaram ao longo dos anos. Mas foi um processo bastante subconsciente", referiu..Todavia, o trompetista confessa que ainda mantém na memória o trautear da avó, algo que até influenciou a forma como aborda o trompete: "Normalmente, sinto-me bastante desconfortável em grandes grupos de pessoas que não conheço, e a minha avó também era assim. Nessas alturas, ela começava a trautear de forma bastante tranquila, só para se concentrar nela própria. Hoje sei que esse trautear foi dos sons mais importantes que ouvi e que teve uma enorme influência na forma como improviso".