Leoas de juba erguida perdem Taça Ibérica com Pozuelo
Se constatarmos que em Portugal o râguebi jogado no feminino é uma modalidade ainda incipiente e que apenas contempla a variante de sevens - todas as tentativas para organizar por cá um campeonato de 10, 13 ou mesmo de XV têm fracassado... - a imagem que a equipa campeã nacional (de sevens, não esqueçamos!) deixou hoje, no sintético de Valle de las Canãs, em Pozuelo de Alarcón, nos arredores de Madrid, só pode merecer os maiores elogios.
A equipa treinada pelo ex-internacional Nuno Mourão bateu-se com grande personalidade e de olhos nos olhos com um conjunto muito mais rodado na variante de XV, e até aos 55 minutos de jogo esteve dentro do resultado, quando perdia por apenas dois pontos (17-15). Mas a menor capacidade corporal - com exceção das excelentes e temíveis pilares Tânia Semedo e a neozelandesa Leilaini Perese, que tantos estragos causaram... - num jogo de permanente combate físico e a evidente "verdura" da equipa equipada de verde-e-branco, acabariam por ditar uma derrota natural, esperada e que não deslustra a presença muito digna deste unido grupo de raparigas e mulheres entre os 15 e os 32 anos, que dignificaram o râguebi português.
Com sol e muito frio, o jogo começou equilibrado num relvado sintético de última geração, até que aos 9" a asa Cristina Blanco inaugurou o marcador para a equipa da casa, recheada de internacionais presentes no Mundial deste ano de XV e também no torneio de sevens dos Jogos Olímpicos de 2016, nomeadamente a sua capitã Amanda Prado.
Mas a resposta das leoas seria em grande estilo e aos 16" e 24" conseguiriam dois ensaios de autoria da ponta Júlia Araújo - obrigada a sair no 2.º tempo com uma pancada na cabeça, ainda foi ao hospital mas não se detetou qualquer problema e regressa a Lisboa com a equipa - a concluir duas fantásicas jogadas de râguebi corrido com a oval a ser manuseada com grande rapidez e letal eficácia. A primeira foi iniciada numa perfuração conjunta e impressionante das duas pilares Tânia e Perese, com Júlia Araújo a trocar os pés (e os rins às adversárias...) antes de mergulhar. E a segunda surgiria de um alinhamento bem conquistado, de primeira fase e adornada por um "hand-off" da ponta leonina que um tal Sony Bill Williams não desdenharia...
Mas vendo-se a perder por 10-5 o Pozuelo reagiu e nos derradeiros 2 minutos da 1.ª parte daria a cambalhota no marcador através de um par de ensaios em lances a papel-químico que exploraram a inexperiência leonina: pontapé da abertura Irene Schiavon para trás da defesa portuguesa, hesitações, sorte nos ressaltos... e 17-10 ao intervalo para as campeãs espanholas.
No 2.º tempo o Sporting voltou agressivo, determinado, com grande atitude, e aos 55" os mais de 100 quilos da poderosa Leilaini Perese rasgaram a defesa adversária como se de papel se tratasse, colocando as portuguesas a apenas 2 pontos (17-15). E pena foi que, mais uma vez, a conversão do ensaio tivesse sido desperdiçada...
Mas a partir daí as comandadas por Carlos Bernardos aceleraram o ritmo perante uma equipa leonina já bastante desgastada e que começava a falhar placagens. E assim não se estranhou que a centro Eva Aguirre, após fantástica arrancada de mais de 60 metros, voltasse a colocar o Pozuelo na frente (24-15), com o resultado definitivo a ser selado aos 68" numa penalidade da chutadora Irene Schiavon, para os finais 27-15.
Num derradeiro e meritório esforço o Sporting terminaria a partida em cima da defesa contrária, mas já não havia engenho nem combustível do depósito físico para alterar o resultado.
No final do encontro o treinador Nuno Mourão mostrava-se muito orgulhoso do desempenho das suas jogadoras: "Tiveram uma atitude espetacular, mas faltou-lhes a experiência de jogarem râguebi de XV. Jogámos demasiado à mão nos últimos minutos, um pouco à maneira dos sevens. Ora deveríamos ter utilizado mais o jogo ao pé, mas elas não estão habituadas a jogar assim...". E concluiu: "É urgente avançarmos em Portugal com um campeonato de 13 ou mesmo de XV, pois só assim as nossas jogadoras podem ganhar competitividade a este nível".