Leitores para o futuro

Publicado a
Atualizado a

A Amazon lançou na última semana de Fevereiro o Kindle 2, o novo modelo do leitor electrónico para livros e jornais ou revistas. "O Kindle é o futuro da edição", assegurava a revista Slate, por armazenar livros e fazer o download diário de revistas e jornais. Custa 360 dólares.

Entre as novas funcionalidades, é possível escutar a leitura de um livro por uma voz feminina ou masculina, o que facilita o uso em transportes públicos, por exemplo.

No entanto, a Authors Guild considerou que os direitos para a transcrição electrónica dos livros não incluem a opção "texto para voz", ou seja, a leitura automática pelo software, que os editores comercializam para áudiolivros.

O software do Kindle permite afinar a leitura para um leque variado de vozes, à escolha do ouvinte-leitor. Como antecipava a CNN, no futuro, "a voz da avó poderá ler histórias para adormecer os netos".

"Não estamos preocupados com o impacto actual no mercado", referia Paul Aiken, director da Authors Guild, mas "temos de antecipar para onde as coisas se encaminham". Roy Blount Jr., presidente da organização representativa de 9000 autores, especificou ainda que o valor dos direitos sobre os áudiolivros é superior ao dos livros electrónicos.

A Amazon, para evitar uma guerra com a indústria dos conteúdos que disponibiliza no seu aparelho, assegurou rapidamente que a funcionalidade era legal mas aceitou negociá-la para cada caso, deixando a decisão final a autores e editores. Esta semana, a Amazon lançou uma aplicação que permite a leitura de livros (mas não de jornais ou revistas) para o Kindle nos iPhone e iPod da Apple, não incluindo essa função vocal.

Por enquanto, as vozes destes programas são notoriamente sintéticas e não substituem a riqueza da entoação humana mas nada impede que, no futuro, um programa possa imitar a leitura pelo autor de uma coluna de opinião num jornal e um "leitor" a possa ouvir no percurso de casa para o trabalho. A tecnologia vem a caminho.

O grupo editorial Hearst pretende lançar ainda este ano um leitor electrónico semelhante ao Kindle para jornais e revistas. O grupo investiu há anos na E Ink, empresa que desenvolveu a tecnologia dos Kindle ou do Reader da Sony, e que, segundo a Fortune, deverá lançar produtos de nova geração "nos próximos 12 a 18 meses".

A revista antecipa que o ecrã terá o tamanho aproximado de um jornal (maior do que o Kindle) para garantir a "experiência de leitura dos jornais". O download dos artigos será feito por comunicações sem fios. O modelo de negócio baseia-se na venda de leitores personalizados para cada título.

Em França, uma experiência semelhante do diário Les Echos, lançada há um ano, foi abandonada esta semana. O aparelho era caro (mais de 600€, com assinatura do jornal), apesar de a experiência de download de conteúdos ser bastante positiva.

Um incentivo para a imprensa electrónica passa por, como se escrevia recentemente na PC World, os governos destinarem verbas às famílias para aquisição de leitores electrónicos como o Kindle ou assinaturas de jornais ou revistas electrónicas. A proposta é semelhante à que decorre actualmente nos Estados Unidos com os cupões para compra de set top box para adaptar os televisores analógicos à transmissão digital.

"O importante seria apoiar novas plataformas de hardware e desenvolver um novo modelo de negócio que suporte conteúdos pagos", advogando-se um limite temporal para assegurar essa transição para a leitura digital.|

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt