Leia a carta de Liliana Melo à proteção de menores

Liliana Melo escreveu esta carta aberta, que foi ontem à noite publicada no Facebook, onde critica a diretora da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens de Sintra por ter comentado o caso. Sete dos seus dez filhos foram-lhe retirados pelo tribunal e entregues para a adopção.
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"Exma. Senhora Dra. Teresa Villas Boas,

Bom dia, boa tarde ou boa noite, dependendo da hora que vai ler isto, visto que é uma pessoa muito ocupada a proteger aquilo que o mundo tem de melhor: as crianças. Há um velho ditado português que diz: "zangam-se as comadres, lava-se a roupa suja". Na verdade estamos a lavar a roupa suja sem nunca termos sido comadres porque na verdade não a conheço. A primeira vez que a vi, foi agora quando veio à televisão para justificar o injustificável. Nunca estive consigo, nunca falei consigo, nem tão pouco conheceu os meus filhos antes.

O meu processo em 2006 esteve 6 meses na Comissão de Protecção de Jovens e Crianças e transitou logo para o tribunal e nessa altura você não era Directora na Comissão de Proteção de Menores, não é verdade? O tribunal pediu às Técnicas da ECJ (Equipa de Crianças e Jovens de Sintra) de Sintra que fazem assessoria ao tribunal para acompanharem o processo. Estas técnicas teria sim legitimidade para dar a cara, mas como você ridiculamente quis ter o protagonismo apareceu para vir falar daquilo que não sabe porque se você soubesse nunca teria negado redondamente que a laqueação de trompas não fazia parte do acordo, quando essa questão aparece 14 vezes ao longo do processo, explicando de diferentes formas a minha rejeição: "A mãe rejeita", " A mãe não quer..." "A mãe insiste na rejeição..." Enfim...

Como se não bastasse lá apareceu você na televisão em grande plano afirmando que a Comissão faz um grande trabalho! Que trabalho, Doutora?

Disseram que eu estava em casa com os miúdos sem luz. Vocês fizeram alguma coisa para mudar a situação? Não!

Alguma vez me arranjaram algum trabalho que eu tenha recusado? Não!

De alguma forma, vocês alguma vez tentaram reestruturar a minha família? Não!

O Senhor Manuel Luís Goucha, fez-lhe uma pergunta no programa, muito interessante. Qual a diferença entre risco e perigo? Ao qual você muito prontamente respondeu com palavras bonitas: "Riscos estamos nós a correr ao evitar para não chegarmos ao perigo". Bravo Dra.! Só que na prática não bem assim, que riscos estavam vocês a correr que não conseguiram evitar o perigo ao ponto daquelas duas mães matarem os seus filhos, duas envenenadas e as outras duas asfixiadas por inalação de fumo, estando as duas mães sinalizadas pela Comissão. Peço desculpas a estas famílias por pegar nos seus exemplos para criticar esta gente que nada faz e depois quer aparecer!

Esteve muito preocupada em dizer às pessoas que a minha filha foi mãe aos 13 anos. Mas quando o Doutor Gentil Martins perguntou o que aconteceu à criança, você não soube explicar que a criança nasceu e que vocês levaram para uma Instituição e que morreu passados 2 meses. Como morreu na Instituição foi considerada uma fatalidade. Já se fosse na minha casa seria assassinato. O vosso trabalho é único e exclusivamente a destruir famílias.

Eu antes queria ser pobre e desempregada do que ganhar a vida destruindo famílias.

Dizem que estão a salvaguardar o supremo interesse da criança. Será que o supremo interesse da criança não passa pela convivência com os pais biológicos, quando estas não constituem perigo para a vida da criança?

Doutora, mãe é mãe, seja ela branca ou preta, rica ou pobre, feia ou bonita.

Em nome de todos os pais que perderam os seus filhos para a adopção, eu peço-vos que mudem os critérios de avaliação porque o ponto forte é a questão financeira, e a ultima vez que deram uma criança para ser adoptada a um senhor bancário do Porto, este violou a criança, lembra-se Doutora?

Vocês mentem, deturpam, omitem que vos desfavorece, e pior fazem jogo sujo. Eu já sei que vocês têm vindo por trás a pressionar escolas, instituições e pessoas que estiveram envolvidas no processo para darem informações para me prejudicarem. Não faz mal, porque eu vou enfrentar a justiça dos homens, menos mal. E já vocês vão enfrentar a justiça de Deus, e aí já eu tenho medo.

Neste país, onde todos os dias tem-se encerrado escolas, hospitais, centros de saúde, nunca ouvimos falar de instituições de acolhimento que tenham fechado. Porque será? Só as marias certinhas das Comissões poderão responder a esta questão.

Um dia, o Juiz ordenou que me dessem um apoio para autonomia de vida no valor de 153,00euro, valor esse tão insignificante para a Segurança Social. Para mim fazia toda a diferença, porque já pagava a creche para 3 crianças. A Segurança Social, por sua vez encontrou uma forma para recusar esta ordem. Nunca cheguei a receber. Preferiram retirar-me os meus filhos, metê-los numa instituição ao qual o estado vai pagar a essas instituições da Segurança Social um valor de 750,00euro por cada criança. Se multiplicarmos esse valor por 6 crianças, dá 4500,00euro mensais. O estado vai buscar este dinheiro onde? Nos contribuintes! A vocês Portugueses. Que culpa têm os Portugueses de eu ter tido 10 filhos?

Não ficaria mais barato para todos se me dessem os meus filhos e eu poder voltar sossegada para o país?

Esqueçamos agora um pouco as questões técnicas e vamos àquela questão que a si não lhe interessa nada. A questão emocional e afectiva. O que é que você sente quando a minha Nini tão pequenina, com apenas 4 anos ou o pequeno Aziz com 2 anos, lhe perguntam: Onde está a mãe? Porque o que vocês fazem já eu sei. Põem um doce na boca da criança, só que quando o doce acaba, a pergunta volta a ser a mesa: Onde está a mãe? E não vale a pena virem dizer que não perguntam, porque ninguém vai acreditar.

O jornalista da SIC perguntou-lhe se você achava que eu gostava dos meus filhos, você disse; que não sabia. Finalmente você disse uma verdade! Não sabe mesmo! E sabe porquê? Porque gostar eu gosto de casas grandes, pastilha elástica e animais de estimação. Aos filhos ama-se Doutora. E eu amo os meus filhos. E por causa deste amor que eu não durmo, não sossego, não me calo e não vos vou dar tréguas, enquanto Deus me der vida e saúde, vou lutar incansavelmente por esses filhos que só precisavam que os pais tivessem outra oportunidade para organizar as suas vidas e não separando irmãos, pais e filhos e doando a estranhos. Ou será que existe um tráfico de crianças na Segurança Social ao qual agora deram um nome mais pomposo à adopção?

E já agora, sabe que posso processá-la por ter dado informações sobre um processo que é confidencial, Doutora? Expondo a vida dos meus filhos.

MEXERAM NO NINHO ERRADO.

Até breve, Doutora!

Liliana Melo

P.S: Aguardo represálias

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