Legionella. Autópsias às vítimas mortais já foram concluídas
As autópsias das vítimas mortais do surto de legionella em Lisboa foram concluídas às 13:00 desta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Medicina Legal, informou o Ministério da Justiça.
"O processo do INML [Instituto Nacional de Medicina Legal] foi concluído às 13 horas", indicou o Ministério à agência Lusa.
Os corpos de Maria da Graça Ribeiro, 70 anos, e de Simão José Santiago, de 77 anos, podem agora ser levantados pelas famílias.
Segundo a neta de Maria da Graça Ribeiro, Joana Araújo, afirmou ao Diário de Notícias pelas 12:00, a autópsia à avó já estava concluída, estando a decorrer nessa altura a da outra vítima. A familiar contava já que o corpo da avó fosse entregue à família por volta das 13:00.
"Os médicos estão em greve e só há um médico legista, que irá passar os documentos todos depois de a autópsia do outro senhor estar concluída", afirmou.
Os corpos das duas vítimas mortais do surto de legionella foram ontem recolhidos pela PSP quando decorriam os velórios. Uma situação que indignou os familiares e que já levou o Ministro da Saúde e o Ministério Público a lamentar a perturbação provocada.
"Quando é que o ministério nos vai dar o corpo da minha avó? O nosso luto foi invadido. Estávamos na nossa dor, a despedir-nos. Queremos ter o nosso tempo de luto", disse ao DN Joana Araújo, neta da vítima. "Não contesto as ordens que têm, mas é desumano. Queriam levar o corpo num saco como se fosse lixo", acrescentou.
Esta manhã, a filha de Maria da Graça Ribeiro, que se encontrava frente ao Instituto de Medicina Legal desde as 7:00, disse ao DN ter recebido uma chamada da diretora do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP), Fernanda Pego, em que esta lhe pediu desculpa pelo sucedido e justificou a medida.
Segundo a filha da vítima, a responsável ter-lhe-á explicado que o Hospital de Santa Maria, onde Maria da Graça Ribeiro morreu na segunda-feira, não comunicou à Direção-Geral de Saúde que a vítima tinha perdido a vida devido ao surto de legionella e que era necessário ter as causas da morte certificadas para um eventual processo.
A família está revoltada com toda a situação, que significa nomeadamente custos adicionais das cerimónias fúnebres em consequência da recolha do corpo do velório.
O ministro da Saúde lamentou hoje o "incómodo e perturbação" causado às famílias.
Num comunicado emitido ontem à noite, o Ministério Público explicou que não recebeu "qualquer declaração de óbito" das duas vítimas mortais do surto de legionela, explicando que, por isso, teve de solicitar as autópsias, que "são essenciais" para a investigação.
"Consciente da sensibilidade da situação, o Ministério Público não pode deixar de lamentar o ocorrido bem como o sofrimento que daí resultou para os familiares das vítimas", conclui o MP nessa mesma nota, em que diz ter decidido, esta terça-feira e por iniciativa própria, instaurar um inquérito respeitante ao surto de legionela.
"Tendo sido noticiadas mortes, entendeu-se, desde logo, que a realização de autópsia e de perícias médico-legais eram essenciais para a investigação em curso", refere a Procuradoria-Geral da República.
O Ministério Público explica que, não tendo recebido "qualquer comunicação de óbito relacionada com esta matéria", teve necessidade de recolher elementos que "permitissem identificar as vítimas, bem como as circunstâncias que rodearam as mortes, designadamente o local onde ocorreram".
"Uma vez obtidos esses elementos, o Ministério Público foi, igualmente, informado de que os corpos já haviam sido entregues às famílias", explica a nota. Assim, o Ministério Público decidiu ordenar o encaminhamento dos corpos para o Instituto de Medicina Legal.
O hospital de Santa Maria afirmou hoje, porém, que cumpriu "os procedimentos internos e externos" no que se refere ao processo de libertação do corpo de uma das vítimas de legionella.
"No que se refere ao processo de libertação do corpo da pessoa falecida no Centro Hospitalar de Lisboa Norte (CHLN), o hospital informa que cumpriu os procedimentos internos e externos previstos para a situação em causa", indicou à agência Lusa uma fonte oficial do Centro Hospitalar.
A mesma fonte acrescentou que o conselho de administração do CHLN apresenta às famílias das vítimas "as suas condolências, lamentando profundamente o sucedido".
O número de casos confirmados de legionella subiu para 38, segundo o mais recente balanço da Direção-Geral de Saúde, das 11:00 desta terça-feira.
O novo boletim epidemiológico da DGS indica que a maioria dos casos ocorreu em mulheres (63%) e que os doentes infetados têm a maior parte (68%) idades iguais ou superiores a 70 anos.
Segundo este boletim, relativamente aos dados divulgados na terça-feira, há um novo caso confirmado, que surgiu no dia de hoje.