LEFFEST - Um caso de cinema de luxo
Um festival de luxo com os filmes mais desejados da rentrée e uma seleção de convidados para fazer inveja a muitos festivais europeus. O LEFFEST, ao 15.º ano e sem as habituais salas institucionais de Lisboa, mantém a bitola elevada e aposta de novo numa ideia de se assumir como plataforma de debate, sempre sem deixar cair aquela que já é a sua imagem de marca, a interdisciplinaridade, tendo o exemplo mais óbvio a celebração da Cultura Rom, na qual estão convocadas expressões artísticas tão diversas como a música, as artes plásticas e, claro, o cinema, onde não faltará a presença de um cineasta sempre indomável como Tony Gatlif, presente também para falar com o público de Lisboa e Sintra depois da antestreia de Tom Medina.
Para o cinéfilo mais exigente, o festival de Paulo Branco aposta, e bem, em retrospetivas cirúrgicas de cineastas que marcam os nossos dias. Para além do japonês Ryusuke Hamaguchi, nesta edição há muito por onde descobrir ou redescobrir, com óbvio destaque para Jane Campion: a neozelandesa não vem a Portugal mas o seu cinema estará em desfile. Oportunidade para se perceber um percurso não-conformista de uma cineasta que soube sempre encontrar uma renovação de linguagem. Quem se cruzar com Um Anjo à Minha Mesa, o filme que lhe abriu as portas para o mundo, e, depois, com Retrato de Uma Senhora ou In The Cut - Atração Perigosa, percebe que há um desejo de versatilidade. Isto num ano em que venceu o prémio de realização em Veneza com The Power of The Dog, da Netflix, obra que será mostrada no festival. Será a única possibilidade para ver em grande ecrã um western fadado para aparecer nesta temporada de prémios. Ainda assim, um dos seus filmes menores.
Oportuno também o olhar pela carreira do romeno Christi Puiu, outra das presenças esperadas. Depois da aclamação, no ano passado, com Malmkrog, o cineasta da câmara antropológica terá os seus melhores filmes a desfilar pelo Nimas, em Lisboa. Destaque óbvio para o imortal A Morte do Sr. Lazarescu, filme que mudou a face do muito venerado novo cinema romeno.
Outra das retrospetivas imperdíveis é aquela que está programada em torno de Maria Speth, cineasta alemã que circula entre a ficção e o documentário. Um programa que inclui O Professor Bachman e a sua Turma, antestreia nacional do seu último filme, uma das grandes obras da Berlinale 2021.
Para quem terá pouco tempo para retrospectivas e está interessado em ver em primeira mão os mais esperados filmes da temporada, deixamos sugestões para as verdadeiras bombas desta edição. Porém, na competição oficial há também outras "bombas"...
Mães Paralelas, de Pedro Almodóvar
História sobre a maternidade em contextos diferentes, o novo de Pedro Almodóvar tem aqui a sua estreia nacional antes de chegar aos cinema em dezembro. Penélope Cruz já venceu o prémio de interpretação em Veneza com este papel.
Um Herói, de Asghar Farhadi
Como sempre, o melhor de Cannes chega ao Leffest e este conto moral não moralista do iraniano Asghar Farhadi não podia faltar. Fica-se com a ideia de que Farhadi procura aqui uma depuração narrativa em busca da perfeição. Arrepia...
Correu Tudo Bem, de François Ozon
Numa altura em que entre nós o tema da morte assistida está na ordem do dia, chega esta história verdadeira sobre um coleccionador de arte que luta pelo direito a ter uma morte digna. Uma sessão que será apresentada por Serge Toubiana, o diretor da Unifrance e personagem retratada na história. Possivelmente, a obra-prima de Ozon.
Compartement nº 6, de Juho Kuosmanen
Vencedor ex-aequo do prémio do Júri em Cannes com Um Herói, este filme finlandês é um caso de afetos puro, uma história de amor sobre dois passageiros num comboio nesta Rússia de Putin. Simples, mágico e sem truques. Está aqui o "agrada-multidões" do festival.
Amants, de Nicole Garcia
Da safra de Veneza do ano passado, este é um thriller romântico que foge às convenções do chamado "polar" francês. Garcia a filmar uma obsessão com garra e atores como Stacy Martin e Pierre Niney com uma justeza aritmética.
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