Leadsom diz que ser mãe é uma vantagem sobre May

Ministro dos Negócios Estrangeiros deita mais achas para a fogueira ao afirmar que May tem vantagem no palco mundial porque os líderes não sabem quem é Leadsom.
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E de repente, no Reino Unido, a campanha para eleger a futura líder do Partido Conservador e futura primeira-ministra - as duas candidatas são Theresa May e Andrea Leadsom - ficou marcada pela maternidade.

"Tenho a certeza de que a Theresa se sente triste por não ter filhos. Não quero que isto se torne numa discussão "a Andreia tem e a Theresa não tem" porque seria horrível se isso acontecesse. Mas genuinamente sinto que o facto de ser mãe faz que o futuro do nosso país seja muito importante para mim, verdadeiramente importante. Ela possivelmente terá sobrinhos e sobrinhas, muita gente, mas eu tenho filhos que vão ter filhos e que vão fazer parte do que vier a seguir", afirmou Andrea Leadsom numa entrevista publicada ontem no The Times.

Seria difícil que a frase passasse despercebida, mas o diário britânico fez questão de puxar o assunto para a primeira página: "Andrea Leadsom diz que o facto de ser mãe faz dela uma melhor escolha para primeira-ministra".

As reações de reprovação não tardaram. A própria Leadsom mostrou no Twitter a sua indignação. Primeiro, às 22.41 de sexta-feira, depois de o The Times ter aberto a cortina para a sua edição do dia seguinte, escreveu: "Muito mau. Exatamente o oposto daquilo que eu disse. Estou enojada." Exatamente 14 minutos depois voltou à carga: "Isto é desprezível, é um jornalismo feito de ódio. Agora devem mostrar a transcrição. Isto é para lá de nojento." Por fim, às 23.13, acrescentou ainda. "É o pior jornalismo de sarjeta que alguma vez vi. Estou furiosa, não consigo acreditar. Como puderam fazer isto?". Os dois últimos tweets terão sido mais tarde apagados, uma vez que ontem já não existiam na conta da candidata a líder dos tories.

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O The Times fez a vontade a Leadsom e divulgou não só a transcrição como também o áudio da entrevista. A atual secretária de Estado na Energia poderá argumentar que frisou que não queria que a maternidade fosse um tema de debate, mas é inegável que sublinhou que ser mãe fazia que a sua preocupação sobre o futuro do Reino Unido fosse maior.

Os ataques foram chegando. Alguns vieram de longe, de Varsóvia. À margem da cimeira da NATO que decorre na capital polaca, o ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, desafiou Leadsom para, tal como May, subscrever o "manifesto por uma campanha limpa". Philip Hammond acrescentou ainda que May tem vantagem sobre a sua adversária no palco mundial porque "muitos políticos estrangeiros nunca ouviram falar da Andrea Leadsom".

No lado oposto da barricada, a secretária de Estado das Forças Armadas, Penny Mordaunt, que apoia Leadsom, não tem dúvidas: "Receio que isto seja uma tentativa para a descredibilizar, levada a cabo por um jornal que já declarou o apoio à outra candidata."

Esta espécie de filhosgate surge exatamente um dia depois de Theresa May, numa entrevista ao The Telegraph, ter falado sobre o facto de não ser mãe: "Gosto que a minha vida privada continue privada. Não pudemos ter filhos, lidámos com esse facto e seguimos em frente. Espero que não passe pela cabeça de ninguém pensar que isso tem alguma relevância. Isso não faz com que me falte capacidade de empatia, nem com que não consiga perceber as pessoas."

May e o marido estão juntos há 36 anos, desde os tempos da faculdade em Oxford, e quem os apresentou foi Benazir Bhutto, ex-primeira-ministra do Paquistão assassinada em 2007. Andrea Leadsom casou em 1993 e tem dois filhos - de 20 e 18 anos - e uma filha, ainda adolescente, com 12.

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