Kissinger diz que Kiev deve ceder território e pede à Europa para não insistir em esmagar a Rússia
Antigo chefe da diplomacia dos EUA, Henry Kissinger, de 98 anos, defende que a Europa deve parar de insistir numa derrota esmagadora das forças russas na Ucrânia, justificando com os efeitos desastrosos que tal traria para a estabilidade europeia a longo prazo. No Fórum Económico Mundial de Davos, na Suíça, Kissinger sugeriu que a Ucrânia deveria ceder território, de modo a ser alcançado um acordo de paz num conflito que dura há já três meses.
No seu testemunho, na segunda-feira, Kissinger, que foi o secretário de Estado dos EUA no tempo da Guerra Fria, pediu o fim rápido do conflito na Ucrânia e defendeu o início de negociações de paz "dentro de dois meses", antes que se criem "tensões e dificuldades que depois serão mais difíceis de ultrapassar", segundo o The Telegraph.
Negociações que, "idealmente, devem ter como linha divisória o regresso ao status quo que existia", dando a entender que os líderes mundiais deviam convencer a Ucrânia a ceder território para que seja possível alcançar um acordo de paz.
Uma posição contrária à da Ucrânia. Ainda esta semana, Mykhailo Podolyak, conselheiro de presidente Volodymyr Zelensky rejeitou qualquer cedência de território ucraniano a Moscovo.
"Prolongar e insistir na guerra muito mais tempo levará a que passe a ser não uma questão de liberdade da Ucrânia mas, sim, uma nova guerra contra a própria Rússia", defendeu Kissinger, referindo que o Ocidente não pode esquecer a importância de Moscovo no equilíbrio de poder na Europa e no mundo.
"Espero que os ucranianos correspondam ao heroísmo que demonstraram com sabedoria", sublinhou o antigo chefe da diplomacia norte-americano, considerando que a Ucrânia deve desempenhar o papel de Estado neutral, independente, não devendo ser a fronteira da Europa.
Kissinger explicou que a Rússia foi uma parte essencial da Europa durante mais de quatro séculos e, nesse sentido, os líderes europeus não devem perder de vista a relação a longo prazo com Moscovo nem arriscar e colocar a Rússia numa aliança permanente com a China.