O Kimchi pode ajudar a reduzir a taxa de mortalidade da covid-19
O prestigiado jornal inglês, The Sun, publicou no dia 13 de Julho um artigo interessante em que se afirma que o kimchi poderá ajudar a reduzir a taxa de mortalidade da Covid-19. Uma equipa de investigadores franceses estudou o baixo número de óbitos causados pela covid-19 na Coreia do Sul e afirmou que os alimentos fermentados, como o kimchi, ajudam a prevenir a covid-19. (Esta tese foi publicada na revista científica internacional Clinical and Translational Allergy.)
Aquando da epidemia de SARS e de gripe das aves nos anos 2000, concluiu-se que os danos causados à saúde dos coreanos foram muito poucos. Nessa altura, após uma notícia que afirmava que as pessoas que comiam habitualmente kimchi sofriam menos com estas doenças, houve uma corrida à sua compra na China. Actualmente, em plena pandemia da covid-19, o kimchi é um dos alimentos fermentados mais consumidos no Japão.
O kimchi atrai muita atenção por todo o mundo por ser um alimento saudável e por ter um sabor único. Em 2001, foi registado no Codex Alimentarius, um conjunto de normas, guias e códigos alimentares, criado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura e pela Organização Mundial da Saúde, o que comprova que o kimchi ajuda a proteger a nossa saúde. Em 2006, a revista americana dedicada à saúde, Health, elegeu-o como um dos cinco alimentos mais saudáveis do mundo. Em 2013, foi a vez da revista Time eleger o kimchi como um dos dez alimentos mais saudáveis. Também em 2013, a cultura coreana de Kimjang - uma tradição ancestral que reúne as famílias no final do Outono para preparar e conservar o kimchi para todo o Inverno - foi registada na Lista do Património Cultural Imaterial da Humanidade.
O kimchi é preparado através de dois processos de fermentação. Durante o primeiro processo salga-se a couve chinesa. Enquanto se deixa a couve no sal, prepara-se uma pasta de condimentos com mais de dez ingredientes, como alho (rico em vitaminas, sais minerais e fibra), gengibre, cebolinho, malagueta, jeotgal (molho de peixe e marisco fermentado com sal), entre outros. Passado algum tempo envolve-se a couve já salgada com esta pasta, dando início ao segundo processo de fermentação. Estas duas fases de fermentação distinguem o kimchi do chucrute alemão, que apenas é fermentado uma vez.
O kimchi é essencialmente uma mistura de legumes (componente vegetal) com jeotgal, (componente animal), que ganha valores nutricionais com o processo de fermentação. Tem muitos benefícios para a saúde: ajuda a conter o aumento das células cancerígenas, ajuda a prevenir a obesidade, AVCs e anemia, é uma fonte de vitaminas, tem efeito antienvelhecimento, reduz o stress, previne a pele atópica, etc. Todos estes benefícios são uma característica singular do kimchi, que se distingue de outros alimentos fermentados compostos por um único ingrediente como o feijão, o leite e a fruta.
O kimchi é saudável e, ao mesmo tempo, é o alimento favorito dos coreanos. É tão saboroso que merece um lugar de destaque na culinária coreana. Para manter o seu bom sabor, a conservação e armazenamento são essenciais, há que evitar a oxidação mantendo uma temperatura estável. Antigamente, quando ainda não existiam frigoríficos, os coreanos conservavam o kimchi em potes de barro enterrados na terra, onde a temperatura ronda os cinco graus, que é o ideal para activar o crescimento dos lactobacillus e para preservar o sabor e riqueza nutricional. Hoje em dia, na Coreia, há frigoríficos exclusivamente para kimchi, que têm a temperatura perfeita para o guardar durante períodos mais longos. A lógica é a mesma da das adegas onde se preservam os vinhos durante longos períodos de tempo.
O kimchi é mais do que um simples alimento para os coreanos, é o que dá alento à vida quotidiana e evoca lembranças da sua terra natal. Creio que será semelhante ao bacalhau para os portugueses. Em Portugal dizem que há mais de mil maneiras de preparar bacalhau, na Coreia há inúmeras receitas para kimchi. Uma das suas vantagens é que não é obrigatório seguir uma receita e medir todos os ingredientes, já que é feito ao gosto de quem o prepara.
Se fizermos uma rápida pesquisa online, encontramos muitas receitas para preparar kimchi no YouTube ou nas redes sociais. Com um livro de culinária, não é assim tão fácil, mas com a ajuda dos vídeos a tarefa torna-se mais simples. Gostava de lançar um desafio às famílias portuguesas neste tempo de pandemia: porque não juntar a família e seguir um dos muitos vídeos que ensinam a fazer kimchi? Não só passariam um agradável momento em família, como no final teriam uma saborosa refeição!
Embaixador do Coreia do Sul em Portugal