John Bolton, ex-conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, afirmou acreditar que o líder norte-coreano, Kim Jong-un, deve "rir muito" da perceção que o presidente Donald Trump tem da relação entre os dois..Bolton deu a sua primeira entrevista, ao canal ABC News, antes do lançamento na terça-feira do seu já polémico livro de memórias, que contém duras acusações contra Trump..Ao ser questionado pela jornalista Martha Raddatz sobre se Trump "realmente acredita que Kim Jong-un o ama", Bolton respondeu de maneira direta. "Acredito que Kim Jong-un deve rir muito disso. As cartas que o presidente mostrou à imprensa (...) são escritas por algum funcionário norte-coreano", afirmou. "Ainda assim, o presidente considera-as a prova de uma profunda amizade", completou..No livro, Bolton afirma que Trump não estava preparado para sua primeira reunião com Kim em Singapura, mas esperava que fosse um "grande teatro"..Também critica o presidente sul-coreano, Moon Jae-in, e afirma que o cenário diplomático era uma "criação da Coreia do Sul, mais relacionada com o seu programa de 'unificação' do que com uma estratégia séria para Kim, ou nós"..O gabinete da Presidência sul-coreana reagiu e acusou Bolton de distorcer os factos e de pôr em perigo as futuras negociações sobre o programa nuclear de Pyongyang..Na entrevista, Bolton também afirmou que não considera Trump apto para o cargo e que espera que ele seja um presidente de apenas um mandato. Afirmou, porém, que não votará no republicano, nem no democrata Joe Biden, nas eleições de novembro. O livro The Room Where it Happened (A Sala Onde Aconteceu) é o relato de Bolton dos 17 meses que trabalhou no governo Trump, de 2018 a 2019..A Administração Trump tentou impedir a publicação do livro de Bolton, mas um juiz americano rejeitou a tentativa, no sábado e afirmou que era muito tarde para emitir uma ordem neste sentido.."Pura ficção", diz Trump.Demitido em setembro do ano passado, Bolton afirmou na entrevista, no entanto, que pediu demissão e que a gota de água para ele foi o convite feito por Trump aos talibãs para irem a Camp David durante as negociações de paz afegãs..No seu livro, chamado de "pura ficção" por Trump, descreve um presidente disposto a quase tudo, inclusive pedir a ajuda da China, rival estratégico dos Estados Unidos, durante um encontro com o presidente Xi Jinping em 2019..De acordo com Bolton, Trump "suplicou" ao homólogo chinês, durante as negociações comerciais, para que aumentasse as compras de produtos agrícolas americanos com o objetivo de conquistar votos em estados cruciais na eleição de novembro..O ex-conselheiro também deu a entender que havia fundamentos para destituir o 45.° presidente dos Estados Unidos, além do caso ucraniano, que finalmente terminou com sua absolvição no Congresso..Trump foi acusado por "abuso de poder" pela suposta pressão exercida sobre a Ucrânia para revelar informações que prejudicassem Biden..Congressistas republicanos e democratas criticaram Bolton por publicar o livro e afirmaram que ele deveria ter apresentado as informações durante o processo de impeachment contra Trump..O presidente do Comité de Inteligência da Câmara de Representantes, o democrata Adam Schiff, disse à NBC no domingo que Bolton "se imputa por covardia e ganância", ao optar por divulgar as suas alegações em livro. O senador Tim Scott declarou à ABC que preferia ver Bolton "na Câmara sob juramento".