Keep calm
O Primeiro-Ministro António Costa deu a entrevista (ao Expresso) mais pesada e longa deste verão - a estação do ano que fica sempre reservada para os mínimos e para o mais leve da intervenção política - e não falou apenas como Chefe de Governo. Deu voz também ao Secretário-Geral do PS, desmistificando o futuro do Partido Socialista ao deixar em aberto uma recandidatura nas próximas legislativas, sem revelar hipóteses, sem ironia ou sugestões de género ou de perfil em relação à sucessão na liderança do PS. De facto, com a sinceridade e sem pretensões de quem não quer discussão nem ruído sobre um assunto, por agora, efetivamente extemporâneo.
No imediato, Costa trouxe o futuro a si: "Não haverá tabu. Decido em 2023 se me recandidato". Os socialistas que se foram alinhando, aparecendo aqui e ali a tentar o melhor posicionamento para o dia seguinte vêem agora o caminho mais longo e o destino - pretendido - mais tardio, pelo menos aos olhos dos militantes socialistas. Desta vez foi mesmo um "Keep Calm" lançado pelo Primeiro-Ministro António Costa. Bem diferente da deixa do Secretário-Geral António Costa: "Quem lhe diz que não pode ser uma mulher?", na grande entrevista à VISÃO no verão do ano passado.
Costa tem alimentado o "monstro", mas sempre que se aproxima a hora da verdade fala de si, sem falar dos outros, e diz presente com sabor a futuro. Em 2021, com a convicção de um líder de governo que resistiu, com sucesso, ao pior da pandemia e ciente do que está por vir na dimensão económica e social, Costa afirma-se disponível para continuar, no mínimo até ao fim da legislatura.
Sobre a política que mais diretamente interessa aos portugueses, Jerónimo de Sousa já antecipou o trabalho que quer ver o Primeiro-Ministro fazer quando regressar das férias: encostar-se à esquerda. Está, assim, aberto o início da discussão sobre o novo Orçamento de Estado.
Entretanto, o Vice-Almirante Gouveia e Melo experimentou o ruído de uma minoria antivacinação, em Odivelas, e a gratidão em aplausos - representativos da maioria do país - em Cascais.
Marcelo Rebelo de Sousa não resistiu e depois das palmas lá estava, no mesmo sítio, ao lado do militar que veio dar rumo à task force e à estratégia de vacinação.
"Keep calm", que o resultado das autárquicas vai servir para acordar e despertar muita coisa, até para fazer deste artigo um texto desatualizado, capaz de dar sono.