Kadyrov entra para o clube dos eleitos com mais de 90% de votos

Líder checheno foi eleito com 97,94%. Melhor do que Al-Sisi no Egito em 2014 ou Mugabe no Zimbabué em 2002, mas pior do que os 100% de Saddam nesse mesmo ano no Iraque
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A presidente da Comissão Eleitoral Central da Rússia, Ella Pamfilova, lembrou antes das eleições de domingo que ter "99% dos votos já não está em voga", alertando para o facto de existirem pelo menos 15 "regiões problemáticas" no país onde o risco de fraude era elevado. O líder checheno Ramzan Kadyrov não ganhou por 99%, ficando-se pelos 97,94%. Ainda assim, suficiente para entrar para o grupo dos eleitos que já tiveram mais de 90% dos votos e que inclui, entre outros, o zimbabuano Robert Mugabe, o ruandês Paul Kagame ou até o iraquiano Saddam Hussein.

"Estou sinceramente grato a todos os que tomaram esta decisão, a todos os que me confiaram a liderança da República Chechena. É uma tremenda responsabilidade diante do poderoso Alá, face à memória do primeiro presidente e herói da Rússia, Akhmad Kadyrov [pai de Ramzan], que estabeleceu uma base sólida para o renascimento da Chechénia, e face ao povo checheno", escreveu Kadyrov na conta oficial de Instagram em inglês onde tem 28 mil seguidores, longe dos dois milhões que tem em russo.

É nas redes sociais que o líder checheno, no poder desde 2007 quando foi nomeado pelo presidente russo Vladimir Putin (seu mentor), costuma partilhar fotos e vídeos em eventos oficiais, com a família (nove filhos), no ginásio ou rodeado de animais (no início do ano pediu ajuda para encontrar o seu gato e tornou-se viral nas redes sociais). Em relação à vitória, disse estar "grato" a Putin "pela confiança e apoio contínuo no nosso projeto". Nas eleições legislativas, que decorreram no mesmo dia das regionais, o partido de Putin, Rússia Unida, teve 96,3% dos votos na Chechénia.

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Esta foi a primeira eleição de Kadyrov, de 39 anos, que esteve à frente da milícia do pai (assassinado por rebeldes em maio de 2004). Concorria com outros três candidatos e a participação foi quase de 95%. Quando os votos ainda estavam a ser contados e lhe perguntaram se a participação chegaria aos 100%, Kadyrov respondeu que não seria possível, "já que nesta época do ano muitos chechenos estão na peregrinação a Meca". A Chechénia é de maioria muçulmana.

Se os apoiantes lhe louvam o facto de ter transformado Grozny numa cidade moderna (com apoio do dinheiro do Kremlin), os críticos de Kadyrov acusam-no de violações dos direitos humanos e os seus colaboradores próximos são os principais suspeitos da morte do opositor russo Boris Nemtsov, no ano passado, em Moscovo. O líder checheno respondeu a essa acusação dizendo que tudo não passa de "parvoíces".

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Mais de 90%

Em resultados eleitorais, ninguém bate Saddam Hussein, que no referendo presidencial do Iraque, em 2002 (um ano antes da queda), sem adversários, conseguiu 100% dos votos. A comunidade internacional falou de uma "farsa". Mas não foi o único com resultados volumosos. Noutro referendo presidencial, desta vez na Síria em 2007, Bashar al-Assad conseguiu 97,6% dos votos.

Nas ex-repúblicas soviéticas, os valores superiores a 90% também são comuns. Na Geórgia, em 2004, Mikhail Saakashvili (que deixou o poder em 2013) obteve 96%. O turcomeno Gurbanguly Berdimuhamedov foi reeleito em 2012 com 92% (o mentor, Saparmurat Niyazov, tivera 99,5% em 1992), e o falecido líder usbeque Islam Karimov foi reeleito em 2015 com 90,39%.

Nas presidenciais de 2002, Mugabe foi eleito no Zimbabué com 92,76% dos votos, um valor que não voltou mais a repetir (teve 85,5% em 2008). Também em África, mas no Ruanda, Paul Kagame teve 95% em 2003 e 93% em 2010. Voltará a ser candidato em 2017, depois de num referendo no ano passado ter sido aprovada a sua candidatura a um terceiro mandato (98% dos votos). No Egito, Abdel Fattah al-Sisi foi eleito em 2014 com 93% dos votos.

Em países com um sistema de partido único, onde o presidente é eleito pelo Parlamento ou assembleia, como a Coreia do Norte, China ou Cuba, também são comuns as percentagens altas. Em 2008, Raúl Castro foi eleito por unanimidade.

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