'Kaavan'. O "elefante mais solitário do mundo" vai ter uma nova casa

Obeso e maltratado, será transferido do zoo em Islamabad (Paquistão) para uma reserva de vida selvagem no Camboja.
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Uma equipa de veterinários internacionais usou dardos tranquilizantes, pão ázimo e a música suave de Frank Sinatra para realizar, na última sexta-feira, um exame médico ao único elefante asiático do Paquistão, antes da sua viagem prevista para o Camboja. O "elefante mais solitário do mundo" tem luz verde para partir.

A luta de Kaavan, um elefante de 35 anos e com excesso de peso, desencadeou críticas internacionais e chamou a atenção para o estado lastimável do zoo de Islamabad, onde as condições são tão más que um juiz decidiu em maio que todos os animais deveriam ser retirados.

Depois da decisão, a associação de defesa dos direitos dos animais com sede na Áustria Four Paws International foi chamada para ajudar a retirar Kaavan - que ganhou fama após ter sido mencionado pela cantora e ativista Cher, que festejou a decisão de finalmente o libertarem.

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Uma jaula de transporte tem de ser construída e o elefante tem de se habituar a ela antes de ser transferido, num avião Jumbo (provavelmente, um Antonov An-225) para um santuário de vida selvagem de mais de cem quilómetros quadrados no Camboja.

Mas, antes disso, os peritos têm de saber como está Kaavan, que foi examinado pela última vez em 2016. Daí a necessidade de o sedarem para se poderem aproximar.

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Armado com uma banheira cheia de bananas e pão ázimo, o veterinário Amir Khalil, da Four Paws, atraiu o elefante até uma zona de cimento, enquanto o veterinário Frank Goeritz usou uma pistola de tranquilizantes para disparar três dardos contra o animal.

Não acostumado ao contacto humano, o elefante ficou um pouco agitado, levando Khalil a cantar o clássico My Way, de Sinatra, que parece ter acalmado o elefante enquanto comia os pães.

Assim que os tranquilizantes fizeram efeito, Khalil e Goeritz mediram o corpo robusto de Kaavan, tiraram amostras de sangue e inseriram um microchip no seu ombro esquerdo.

"Ele parece estar bem... Mas está completamente obeso, pesa demasiado e os seus pés estão terríveis", disse Goeritz, apontando para as unhas rachadas e malformadas do elefante, que vão precisar de cuidados médicos.

Com pouca legislação para salvaguardar o bem-estar dos animais, os zoos no Paquistão são conhecidos pela falta de condições. Em 2018, 30 animais morreram no espaço de meses depois de um novo zoo ter aberto na cidade de Peshawar, incluindo três crias de leopardo-das-neves.

Goeritz disse que Kaavan tem andado a comer até 200 quilos de cana-de-açúcar por dia, ao mesmo tempo que não tem qualquer estímulo intelectual, resultando num comportamento "estereotipado", em que balança a cabeça e a tromba de um lado para o outro durante horas.

"Ele está entediado. Precisa de desafios físicos e mentais", disse Goeritz, que passou as últimas três décadas a trabalhar com elefantes em cativeiro em todo o mundo.

A indignação em relação a Kaavan, que foi oferecido pelo Sri Lanka em 1985, ganhou força há alguns anos depois de a veterinária da Califórnia Samar Khan o ter visto acorrentado durante uma visita a Islamabad. Ela lançou então uma petição online que acabou por chamar a atenção de Cher.

A companheira de Kaavan, Saheli, que chegou do Sri Lanka em 1990, morreu de gangrena em 2012. Espera-se que Kaavan possa encontrar uma nova parceira assim que for transferido para o Camboja.

Os esforços incansáveis de uma equipa de defensores dos direitos animais local resultou na decisão do tribunal, em maio, que deveria ter obrigado a mover Kaavan em 30 dias, mas o prazo acabou por ser alargado.

O advogado Owais Awan, que apresentou o pedido no tribunal no ano passado, disse que o elefante parece mais feliz ao ter os voluntários e os veterinários a trabalhar nele nesta semana.

"Foi a primeira vez na vida do Kaavan que lhe foi feita uma avaliação médica", disse Awan à AFP. "Sinto-me feliz e ao mesmo tempo triste. Ninguém se lembrou de lhe fazer uma avaliação médica detalhada mais cedo."

Apenas alguns animais continuam no zoo e as tentativas dos funcionários locais - muitos dos quais não receberam treino para cuidar de animais - para os mover têm sido desastrosas.

Dois leões e uma avestruz morreram durante ou pouco depois de terem sido levados para uma nova casa. Os tratadores tentaram tirar um leão da sua jaula ateando fogo a montes de palha.

Os lobos e ursos do zoo deviam ter sido transferidos para uma reserva na província de Punjab, na terça-feira passada, mas as autoridades retiraram o convite no último momento.

Os ursos devem seguir para um santuário de vida selvagem na Jordânia, mas ainda não foi encontrada uma nova casa para os lobos, segundo a Four Paws.

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