Kaavan, o elefante mais solitário do mundo foi salvo por Cher
A situação, que gerou protestos internacionais a favor do animal, teve na cantora e atriz norte-americana Cher uma das figuras públicas que mais pressão fizeram junto das autoridades paquistanesas e da opinião pública.
Cher esteve na pista do aeroporto de Siem Reap, no Camboja, a acompanhar a chegada do elefante macho, de 35 anos, que fez a viagem num avião de carga especial, indicou a agência France Press (AFP).
Usando uma máscara preta, a cantora e atriz, vencedora de um Óscar, acenou animadamente para o avião depois de ele ter aterrado. "Estou muito orgulhosa de ele estar aqui", disse Cher à AFP, depois de cumprimentar Kaavan por uma abertura na base da caixa.
"Ele vai ficar muito feliz aqui", disse Cher, acrescentando que esperava que a vida triste e solitária do elefante tivesse acabado.
O santuário cambojano que agora alberga Kaavan abriga mais de 80 elefantes e está equipado para o propósito.
A cantora financiou parte do custo da viagem de Kaavan, e visitou o Paquistão para verificar a partida do elefante. Na ocasião, reuniu-se com o primeiro-ministro do Paquistão, Imran Khan, e outros funcionários do governo.
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O elefante vivia há mais de três décadas em condições precárias num pequeno recinto do zoo de Islamabad.
A sua companheira, Saheli, morreu em 2012, supostamente devido a negligência e mau tratamento das autoridades do zoo. Kaavan chegou a Islamabad vindo do Sri Lanka em 1985, como presente daquele país ao Paquistão, mais concretamente para o ex-ditador, general Zia ul-Haq.
Em 2002, os tratadores do zoológico afirmaram que Kaavan estava a ser temporariamente acorrentado devido a comportamentos cada vez mais violentos. Foi libertado no final desse ano, mas os funcionários do zoológico aparentemente retomaram a prática.
Ativistas dos direitos dos animais denunciaram a situação e disseram que a Lei de Prevenção da Crueldade contra os Animais do Paquistão, aprovada em 1890, está desatualizada.
Embora a crueldade contra os animais tenha sido instituída como um crime passível de punição no país no início deste ano, as equipas de resgate dizem que as multas por si só não impedem eventuais abusos.
Assim que Kaavan aterrou em Siem Reap, os monges locais que o esperavam ofereceram-lhe frutas, entoaram orações e borrifaram água benta na sua caixa para abençoá-lo.
Na última etapa da viagem, ele foi transportado em camião durante três horas até à sua nova casa, um santuário de vida selvagem na província de Oddar Meanchey que já abriga três elefantes fêmeas.
Cher seguiu sempre atrás do veículo, na sua própria viatura, enquanto Kaavan percorria terras agrícolas e passava pelo famoso templo de Angkor Wat.
"O Camboja tem o prazer de receber Kaavan. Ele não será mais o 'elefante mais solitário do mundo'", disse o vice-ministro local para o Meio Ambiente, Neth Pheaktra.
"Esperamos cruzar Kaavan com outros elefantes locais, num esforço para conservar o traço genético", disse o ministro à AFP.
Depois de ser descarregado de sua caixa de viagem gigante, Kaavan caminhou ao redor de seu novo lar - talvez feliz por esticar as pernas após sua longa jornada.
A jornada de Kaavan é o culminar de anos de campanha de grupos de direitos dos animais, que afirmam que o comportamento do elefante em cativeiro demonstrava "um tipo de doença mental" provavelmente devido às péssimas condições do zoológico em Islamabad.
Em maio, um juiz paquistanês ordenou que todos os animais do zoológico fossem removidos.
Ao ouvir sobre a liberdade de Kaavan, Cher tweetou que a decisão marcou "um dos melhores momentos" de sua vida.
Uma equipa de veterinários e especialistas da Four Paws, organização de bem-estar animal sediada na Áustria, passou meses a trabalhar com Kaavan para prepará-lo para a viagem - um processo complicado devido ao seu tamanho e à quantidade de comida necessária no trajeto. O elefante também teve que ser ensinado a entrar na caixa de metal maciça que foi colocada num avião de carga para o vôo de sete horas.
Segundo o jornal The Guardian, a Four Paws, em conjunto com as autoridades de Islamabad, também retirou com segurança três lobos e alguns macacos do zoológico. Restam apenas dois ursos-pardos do Himalaia, um veado e um macaco.