Vivi estas Jornadas Mundiais da Juventude à distância por razões profissionais. Devo reconhecer que as jornadas e a sua envolvente me fizeram pensar bastante. O ter estado infelizmente de fora e a acompanhar as mesmas pela televisão permitiu-me algum distanciamento. Divido a minha análise em cinco pontos:.1- Juntar mais de um milhão de jovens é obra. Em entrevista o presidente da Câmara de Lisboa falava de um parque Eduardo VII praticamente limpo depois das celebrações que aí ocorreram. Contavam-se, segundo ele, pelos dedos de uma mão as garrafas que foram recolhidas pela equipa de limpeza. Divertimento e alegria não faltaram e tudo aconteceu sem excessos de bebida, nem drogas, nem violência, nem destruição alguma. Nem sequer reclamações, diziam os jornalistas. Os jovens estavam positivos e alegres. Que lição para aqueles que dizem que ser jovem e divertir-se é sinónimo de excessos. Que exemplo para outros eventos musicais, desportivos e até políticos. É que urbanidade e respeito pela natureza e pelo equilíbrio não pode ser apenas uma bandeira comercial. Sabiam que todos os peregrinos receberam comida para a vigília e que havia pontos de troca da mesma entre os presentes? A sustentabilidade pratica-se sem alarido..2- Uma das grandes frases de Francisco foi a critica à utilização excessiva e abusiva das redes sociais numa busca de protagonismo que nos faz, não ser luz que irradia para os outros, mas nos coloca na frente de holofotes que apenas nos cegam. Quanta gente definida como "ilustre" deste país, que se aproveitando da dimensão do momento, apareceu findas as Jornadas, avidamente em busca dos holofotes, a comentar tudo e mais alguma coisa. Como foi triste ver ditos influencers e pretensos jet7 em busca de protagonismo. Li incrédulo um artigo que dizia que finalmente a pessoa X tinha dado a sua opinião sobre as jornadas como se tal fosse o maior acontecimento destes dias. É evidente que a opinião de todos é válida, mas transformar a opinião de alguém na essência do nosso pensamento... Mais triste foi ver a pobreza dos comentários e as críticas inacreditáveis como acusar os peregrinos de falsidade, chegando a dizer que muitos deles eram xenófobos, racistas, e mais acusações. Será que foi isso que viram? Eu vi respeito por todas as raças e por todos os países, passando pelos russos e ucranianos que estiveram presentes. Mas atenção que os católicos são todos pecadores. Nenhum católico o nega. O que distingue um católico não é não ser pecador, mas a busca de ser cada dia melhor. Já estes autopromovidos VIPs da nossa sociedade acham-se detentores da verdade e acusadores de tudo e de todos porque eles são afinal impolutos. Para eles inclusão é sinónimo de que as opiniões deles devem ser impostas e de que são a única verdade. Tão perigoso....3- É da análise dos pontos anteriores que surge a grande frase de Francisco. Na Igreja cabem todos, todos, todos. Evidentemente que cabem todos, o próprio nome católica quer dizer isso. Mas é fundamental que se queira lá estar. Ninguém é obrigado a isso. Por isso quem não quer fazer parte da Igreja (e está evidentemente no seu direito) é estranho que passe o tempo a ofender e reclamar indo gritar para as ruas, as redes sociais e os media. Onde está o respeito pela diferença, o aceitar o outro como ele é e acima de tudo o não acreditarmos que somos os únicos detentores da verdade? Depois surge a grande questão. Ficamos muito contentes porque o "todos" inclui-nos a nós. O saber que a Igreja me recebe de braços abertos é fantástico, mas e como recebo eu na Igreja os outros? É que perceber a riqueza de a Igreja me aceitar como eu sou, frágil e pecador, implica que eu aceite os outros como frágeis e pecadores que também são. Grande desafio este. É que defender a diversidade e a inclusão para os outros é muito difícil. E a inclusão é para todos, todos, todos, contrastando com uma sociedade em que os governantes aprovaram o aborto e a eutanásia. Numa sociedade em que a Igreja é quem mais faz pelos excluídos, pelos sem abrigo, pelos presos, pelos doentes, pelos idosos, pelos deficientes e pelos mais fracos enquanto o estado tantas vezes passa ao lado. Duvidam? Vão à procura dos milhares de instituições da igreja que trabalham todos os dias (não é só nos períodos eleitorais) sem fazer grande alarido, mas estando ao lado no sofrimento e na solidão de muitos. Inclusão não é invasão obrigando os outros a ser como nós ou simplesmente apagando quem não interessa. É aceitar todos..4- Francisco deu o mote para uma Igreja em que a alegria tem que estar no centro da vida do cristão mas diga-se em abono da verdade que a igreja Portuguesa normalmente apelidada de velha e cinzentona nos presenteou com uma lufada de ar fresco desde a participação ativa de milhares de leigos que assumiram as rédeas da organização mostrando uma vitalidade e uma alegria espantosa, até às cerimónias de uma beleza e modernidade incríveis (aquela Via Sacra ficará para sempre na memória de quem a viveu), com concertos de música e intervenções musicais (não esqueço o para muitos inesperado padre Dj) que surpreenderam tudo e todos. Alguém dizia na televisão que não sabia que a igreja também podia ser assim. 5- E, no fim, o que fica desta viagem do Papa? Esta foi a pergunta mais repetida pelos jornalistas a toda a gente. A resposta é simples: fica a capacidade de cada um mudar o que depende de si. O mundo não muda por decreto, muda pela conversão dos corações. E foi isso que Francisco veio dizer. Apeteceu-me dizer a cada jornalista e a cada comentador que tanto insistia na riqueza das palavras de Francisco que a mudança do futuro está também nas mãos deles e de todos, todos, todos os homens de boa vontade. Por isso cada um pergunte a si próprio: o que tenho eu que melhorar em mim, mas principalmente que posso eu fazer para melhorar a vida dos outros?. Professor Universitário de Política de Empresa e Consultor de Empresas Autor dos livros: "Um mundo à nossa espera - Manual de globalização" e "Manual de Como Construir o Futuro nas Empresas Familiares"