Justiça e Liberdade

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Abri hoje o jornal e vi que reabriram os tribunais em Portugal. Seria uma boa notícia pois não há sociedade que funcione sem Justiça.

Mas a segunda linha dessa notícia deixou-me triste de novo: "Antigos governantes, banqueiros, juízes e empresários há anos no banco dos réus". É uma péssima notícia e a declaração de que a Justiça não funciona em Portugal.

Uma sociedade só pode ser livre se tiver um sistema de judicial eficaz, que assegure que quem prevarica é imediatamente apresentado a juízo e rapidamente condenado, garantindo que ninguém possa beneficiar da prática de atos ilegais.

Sem essa justiça, a liberdade é perigosa e a sociedade torna-se dominada pelos que, sem pudor nem consciência, se aproveitam desta falha para seu benefício pessoal.

Sem justiça, deixa de ser obrigatório cumprir a lei e apenas aqueles que, por formação e convicção, acreditam no bem comum, se mantêm na legalidade e são sempre prejudicados por todos aqueles que o não fazem.

A justiça é o maior tesouro da democracia e do desenvolvimento de uma sociedade.

Desde há muito tempo que os empresários, quando confrontados com a necessidade de graduar os principais fatores que inibem o crescimento económico, colocam em primeiro lugar - acima das leis do trabalho e da fiscalidade - o sistema judicial.

Em cinquenta anos de liberdade ainda ninguém foi verdadeiramente capaz de tomar este tema com toda a sua profundidade e promover uma verdadeira reforma que nos trouxesse um sistema credível e eficiente, que promovesse a nossa democracia e o nosso desenvolvimento.

Mas, pior, o sistema de justiça foi-se degradando, deixando chegar ao poder todos aqueles que dele se foram aproveitando e só, quando já era por demais evidente, foi capaz de os travar, colocando-os no banco dos réus.
Mas como sistema de justiça continua a deteriorar-se, aqueles que se sentaram há anos no banco dos réus, lá continuam.

E como foram estas personagens a tomar o poder quem poderia reformar o sistema de Justiça, é claro que tudo fizeram para que ele não funcionasse, não fora um dia serem confrontados com ele.

A nossa democracia está menos livre do que já foi.

A opinião pública está cada vez mais controlada por populistas que, em face da frustração das pessoas por um sistema injusto que não funciona e que não cria desenvolvimento, se apresentam sempre prontos a criticar o que existe, sem terem qualquer ideia ou preocupação sobre a solução que possa resolver essa mesma frustração.

A justiça pública está a tornar-se uma realidade e a opinião pública, sem confiança no sistema judicial, condena em julgamento popular aqueles que a justiça não julga.

Uma prática que afasta a maioria das pessoas capazes do cargo público e promove ainda mais a sua toma por quem não está preparado, nem tem qualquer preocupação sobre o destino do país ou dos seus cidadãos, mas que viu neste vazio a sua oportunidade de fazer uma vida através da política.

Precisamos da Justiça para voltar a dar a Portugal uma nova maneira de viver, com verdadeira liberdade, com bom desenvolvimento e com lideranças de gente preparada e capaz de ser exemplo que todos os possamos seguir.


bruno.bobone.dn@gmail.com

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