Juncker espera que Reino Unido volte ao barco da UE

Theresa May quer formalizar até final do mês pedido para sair da UE. Países de Leste reticentes quanto a incluir ideia de Europa a várias velocidades na declaração de Roma
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O presidente da Comissão Europeia disse ontem que espera voltar a ter o Reino Unido "no barco" da Europa comunitária. Isto numa altura em que os 27 começaram a debater o futuro da União Europeia, enquanto aguardam pela notificação de Londres para os britânicos abandonarem o bloco.

"Não gostei do brexit", confessou Jean-Claude Juncker, já que "gostava de estar no mesmo barco que os britânicos. Espero que ainda chegue esse dia, em que voltem a entrar no barco". A declaração do presidente da Comissão encerrou a reunião informal, sem a presença da primeira-ministra britânica, Theresa May. Os 27 desenharam o esboço da declaração que será subscrita em Roma, no dia 25, numa cimeira que servirá para assinalar os 60 anos da assinatura do tratado fundador da então CEE.
De acordo com fontes europeias ouvidas pelo DN, não é de esperar "algo muito concreto" do documento que vai ser assinado. "Será apenas um conjunto de linhas orientadoras" para o debate ao longo dos próximos meses. O documento nunca fala numa Europa a várias velocidades. Porém, entre os cinco cenários apresentados pelo presidente da Comissão, este é tido por alguns analistas, como um dos mais plausíveis, embora "seja mais como um instrumento" do que como um cenário.
Dentro da sala, as posições não foram consensuais. O cenário de uma Europa a várias velocidades não agrada ao grupo de Visegrado, receoso de não ver os seus interesses acautelados, perante o avanço mais rápido de grupos de outros Estados membros. A primeira-ministra polaca critica o modelo de "clubes de elite", considerando que rapidamente poderão contribuir para uma rotura total da UE.

Para que seja aceite, será necessário desfazer "alguns equívocos" em torno do conceito de várias velocidades, considerou Juncker. "Alguns dos nossos colegas veem-no como a introdução de uma nova linha divisória, como uma nova cortina de ferro, entre leste e ocidente, mas não é essa a intenção", salientou, no final da reunião informal.

Entretanto, o primeiro-ministro luxemburguês, Xavier Bettel, anunciou que o grupo do Benelux convidou os quatro de Visegrado para um debate sobre o "futuro da Europa". A iniciativa não é consensual, fora deste núcleo.

Por sua vez, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk considerou que a "unidade" na União Europeia é o "ativo mais precioso" que deve ser salvaguardado. "O nosso maior objetivo será fortalecer a unidade e confiança mutua", disse o polaco, acrescentando que o que melhor resume "o que se passou na sala" é a frase: "se querem ir depressa, vão sozinhos, se querem ir longe, vão juntos".
"Sobre a Europa a várias velocidades alguns receiam que isso possa significar que existem diferentes classes de europeus", revelou a chanceler alemã aos jornalistas, esclarecendo que isso já está, de certa forma, estabelecido nos tratados e é uma realidade". Angela Merkel adiantou que a mensagem que constará na declaração de Roma será a da "união na diversidade".

Juncker espera que "a questão do brexit possa encorajar os outros [países] a continuarem [unidos]", dizendo também que a saída do Reino Unido "não é o fim" da UE.

No encontro em Bruxelas, a primeira-ministra britânica reiterou que "até ao final do mês", o Reino Unido deverá invocar o Artigo 50.º do Tratado de Lisboa, desencadeando o processo de saída, num período máximo de dois anos. Se se confirmar a intenção de Londres, será marcada uma cimeira extraordinária, para o início de abril, para que os 27 respondam ao brexit.

Em Bruxelas

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