Em 2009, quando era ministra da Polícia, Judith Collins defendeu a aprovação de uma lei que permite às autoridades destruir os carros usados em corridas ilegais. O resultado: recebeu a alcunha de "crusher", isto é, "trituradora" ou "esmagadora", de que não gosta mas que mais de uma década depois ainda se mantém..Agora, a nova líder do Partido Nacional da Nova Zelândia, de 61 anos, tem pela frente o desafio de triturar a popularidade da primeira-ministra Jacinda Ardern, de 39, a pouco mais de dois meses das legislativas onde são os trabalhistas quem promete esmagar a oposição. As eleições estão marcadas para 19 de setembro..Uma sondagem feita esta quarta-feira, onde se perguntou a 500 eleitores quem preferiam no cargo de primeira-ministra, Ardern surge com 60,8% e Collins com 22,6%. Um bom resultado, disse a líder da oposição, visto ser apenas o seu primeiro dia no cargo.."Acho que é importante dar crédito quando este é devido", disse Collins sobre Ardern e a forma como a Nova Zelândia conseguiu combater a pandemia de coronavírus - só registou 22 mortes por covid-19. Mas "não há qualquer possibilidade de eu deixar Jacinda Ardern se safar com qualquer disparate", acrescentou após ser eleita, na terça-feira à noite.."Comunicar é uma coisa, executar é outra, e ainda não vi assim tantas coisas vindas do governo", disse já na quarta-feira de manhã aos media neozelandeses. "A pobre Jacinda Ardern tem três ministros competentes nos quais se pode apoiar, e quase todos os outros são pessoas que de facto não porias no governo", indicou..A eleição do novo líder do Partido Nacional surgiu após a demissão surpresa de Todd Muller, que esteve apenas 53 dias no cargo. Apesar de ter sido bem-sucedido no golpe ao seu antecessor, Simon Bridges, em maio, aproveitando as previsões catastróficas das sondagens, Muller não sobreviveu a más prestações em entrevistas, fugas de informação, distrações e deputados desleais, segundo o The Guardian.."Tornou-se claro para mim que não sou a melhor pessoa para liderar a oposição e o Partido Nacional da Nova Zelândia neste momento crítico", escreveu Muller na carta de demissão que enviou aos seus 55 deputados na terça-feira de manhã, com efeito imediato, defendendo a necessidade de um líder "confortável no papel". Além disso, alegou o impacto para a sua saúde que estava a ter o cargo..Foram esses mesmos deputados os responsáveis por eleger a Judith "Crusher" Collins (na sua terceira tentativa de chegar à liderança do partido) e o novo número dois, Gerry Brownlee..Mas quem é Collins?.Collins nasceu em Hamilton (na Ilha Norte) e é a sexta filha de um casal de produtores de laticínios. Estudou Direito na Universidade de Canterbury e depois na de Auckland, onde tirou também o mestrado. É casada com David Wong Tung (de origem samoana e chinesa), que conheceu na universidade e que era polícia. Os dois têm um filho..Deputada desde 2002 (primeiro por Clevedon e depois por Papakura), destacou-se no Parlamento durante os anos em que o Partido Nacional esteve na oposição (Helen Clark era a primeira-ministra trabalhista da altura) e quando o país voltou a apostar nos conservadores, foi nomeada ministra da Polícia, das Prisões e dos Assuntos dos Veteranos com John Key..Após as eleições de 2011, foi nomeada ministra da Justiça (reforçado as suas credenciais de mão de ferro contra o crime), assim como a responsável pelos assuntos das comunidades étnicas e do esquema de seguros público. Era a mais importante mulher no governo, que apelidou de um "clube de homens", segundo o site Newsroom..O seu currículo não está isento de controvérsia, que culminou com a sua demissão em 2014. Primeiro veio o alegado conflito de interesses, por ter defendido a exportação de leite da Nova Zelândia para a China, numa visita ministerial, sendo a empresa em causa a Oravida, onde o marido era diretor..Depois, quando o jornalista Nick Hager, no seu livro Dirty Politcs (política suja), revelou que ela tinha passado informação sobre um funcionário público a um bloguer da extrema-direita, culminando quando um e-mail desse mesmo blogger, Cameron Slater, revelou que terá participado numa campanha de difamação contra o responsável pelo combate à corrupção governamental..Mais tarde foi ilibada, regressando em 2015 novamente ao governo, como ministra das Polícias. Em 2016, fez a sua primeira tentativa de chegar à liderança do Partido Nacional -- e na remodelação governamental do novo líder ficou com a pasta da Energia no governo -, repetindo a experiência em 2017. Com o partido na oposição, assumiu o cargo de ministra-sombra da Habitação..Agora, à terceira tentativa, chega à liderança partidária..Alcunhas.Sobre a alcunha de Crusher, disse numa entrevista recente que não é algo que goste, já que considera uma caricatura. "Não digo 'não me chamem isso' porque as pessoas gostam. Mas é muito unidimensional, e é uma caricatura e o sonho de qualquer cartoonista, mas não sou eu", disse, citada pelo site NewsHub..Collins prefere a alcunha de "Margaret Thatcher da Nova Zelândia", nunca tendo escondido a sua admiração pela antiga primeira-ministra britânica. No seu livro de memórias Pull no Punches (expressão usada para referir um comportamento sem restrições ou contenção), publicado no início deste mês, contou como realizou no seu escritório um "velório" para a Dama de Ferro quando ela morreu, em 2013..Uma cerimónia para "aqueles conservadores que, como eu, viam Thatcher como a pessoa que mais do que qualquer outra era responsável por colocar a economia do Reino Unido de novo de pé após décadas de declínio", segundo a citação do The Guardian..Numa crítica ao livro no site neozelandês The Spinoff, conta-se também como Thatcher é evocada como prova de que o "voto de centro" é uma má ideia. "O conselho sobre ficar no centro é muitas vezes usado como desculpa para não fazer nada, para não defender nada e, consequentemente, não fazer a diferença. Mais eleitores precisam de uma razão para votar em nós, não contra nós. O poder é fugidio e precisa de ser usado para fazer a diferença pela positiva", escreveu Collins.