A Polícia Judiciária (PJ) não confirma, nem comenta, a presença e atividade em Portugal de operacionais do Primeiro Comando da Capital (PCC), apesar de várias notícias nesse sentido, principalmente divulgadas pela imprensa brasileira..Apesar de numa recente investigação, que teve como alvo principal o Consulado de Portugal no Rio de Janeiro e suspeitas de corrupção, abuso de poder, falsificação de documentos, entre outros crimes, a PJ ter assumido o envolvimento de "organizações criminosas" em "esquemas de legalização e certificação ilícita de documentos para obtenção de nacionalidade portuguesa, atribuição de vistos, prestação de informações privilegiadas através da usurpação de funções, atribuições ilícitas de vagas de agendamento para a prática de atos consulares", e de fontes judiciais terem garantido ao DN de que essas organizações são o PCC e o Comando Vermelho, a segunda maior do país, oficialmente este serviço de segurança recusa-se a reconhecer o que tem vindo a ser noticiado e até confirmado por autoridades brasileiras..Logo após esta Operação Agendódromo, um dos jornalistas mais conhecedores do PCC escreveu no portal UOL (o maior do Brasil, com mais de 100 milhões de visitantes por mês) que a PJ dizia que oito brasileiros do PCC tinham adquirido cidadania portuguesa..O DN confrontou a direção da PJ, bem como os dirigentes da Unidade Nacional de Combate à Corrupção e a Unidade Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefacientes, com esta informação e não obteve resposta..Segundo esta notícia, estes operacionais, que a PJ sabe serem "graduados" nesta fação criminosa, conseguiram o passaporte português de forma ilegal nos Consulados de Portugal no Brasil, para fortalecerem a logística do narcotráfico no nosso território..Esse artigo assinala que "toneladas da droga são enviadas por mês para o continente europeu, principalmente para Portugal, via portos brasileiros, em especial o de Santos", em São Paulo, onde o PCC tem o seu quartel-general..Adianta ainda que, dos oito nomes, dois são conhecidos da Judiciária e que, segundo esta polícia, um deles é Leonardo Serro dos Santos, condenado em outubro pela Justiça brasileira a 18 anos de prisão por tráfico internacional de drogas. Outro nome será o da mulher de Leonardo. Ambos estarão em território português, procurados pela PJ..Mas antes disto, já havia informações, confirmadas ao DN por fonte judicial brasileira, de que "uns 40 membros do PCC podem estar em Portugal, como apoio para a logística do tráfico"..Questionado, na altura, o diretor da UNCTE, Artur Vaz, tentou relativizar o alarme. "Não vou dizer nada. A PJ está atenta, juntamente com as autoridades brasileiras, em relação à atividade das múltiplas organizações que atuam no tráfico de droga.".Acresce que no verão de 2022 houve duas detenções relevantes, noticiadas pela revista Visão. Uma delas foi a de Sérgio Roberto de Carvalho, um dos maiores traficantes do Brasil e conhecido como Escobar Brasileiro, detido na Hungria..De acordo com o InSight Crime, um portal especializado em crime organizado, "grande parte do império de Carvalho era baseado em Portugal, onde ele possuía ativos no valor de milhões de dólares, incluindo uma empresa de voos fretados que ele usava para transportar cocaína e dinheiro"..Depois, foi preso Rúben Oliveira, conhecido como Xuxas, um dos homens mais procurados em Portugal. Era uma espécie de braço direito de Sérgio Carvalho em Portugal..Em setembro de 2022, a polícia portuguesa prendeu Wanderson Machado de Oliveira, também apontado como membro do PCC. Foi acusado de tráfico de droga e de sequestrar dois homens que, segundo ele, teriam roubado 240 quilos de cocaína que as autoridades tinham apreendido no Porto de Sines..O InSight Crime salienta, porém, que "é importante notar que, de momento, continuam a faltar detalhes específicos sobre o PCC em Portugal" e que, "em 2021, esta falta de dados impediu um procurador brasileiro de fornecer a Portugal informações específicas que identificassem alegados membros" do grupo criminoso..Consideram estes analistas que, "geográfica e linguisticamente, faz sentido que Portugal se torne um centro em ascensão para o comércio europeu de cocaína. O que surpreende é o facto de ter sido necessário tanto tempo para que esta tendência se tornasse tão evidente"..No entanto, sublinha que "a extensão da influência do PCC em Portugal continua a ser difícil de provar". "As investigações do Expresso e do DN falam em várias dezenas de membros do PCC no país, dispostos a aumentar o seu controlo sobre a entrada de droga no país. Mas há poucos pormenores para além disso. O PCC tem um historial de membros que procuram refúgio em Portugal ou que realizam negócios ocasionais de droga no país", acrescenta..No início de novembro passado, a CNN Portugal revelou que um relatório dos Serviços de Informações nacionais alertava para a presença, no nosso país, já de 1000 elementos do PCC. O documento, cuja existência e conteúdo não foram desmentidos, teria sido partilhado em reuniões do Sistema de Segurança Interna. Indicava que a organização estava a crescer em Portugal e estava instalada, principalmente, na Margem Sul do Tejo.