São cerca de cem mil os jovens que residem no concelho de Sintra, de acordo com os dados provisórios do Censos de 2021, e grande maioria apresenta um "sentido de identidade em torno do concelho e/ou da freguesia onde residem. Esta identidade distintiva traduz-se, entre outros aspetos, na vontade de permanecer em Sintra", refere um estudo do ISCTE, realizado em parceria com a autarquia local a jovens entre os 11 os 30 anos, e ao qual o DN teve acesso. Mas esta vontade de ficar não está isenta de críticas e alertas em áreas como a educação, a habitação e a saúde.."O desejo de permanecerem no concelho não foi surpresa. Sintra é o segundo maior concelho do país, com características muito específicas, integrado na Área Metropolitana de Lisboa com uma identidade cultural muito diversificada e uma dinâmica associativa muito forte em diferentes áreas, tais como a desportiva, cultural e juvenil, e uma rede educativa pública de enorme expressão, na qual convivem diariamente cerca de 90% da totalidade das nossas crianças e jovens. Estas dimensões contribuem decisivamente para a criação de contextos de socialização que promovem a coesão social e facilitam o sentimento de pertença", diz ao DN Basílio Horta, presidente da Câmara de Sintra..No que diz respeito às escolas, os jovens queixam-se da manutenção geral dos edifícios, bem como a falta de espaços para a prática de educação física e de convívio dos alunos. É ainda apontada a carência de equipamento educativo nas salas de aula e e falta de pessoal não docente. Críticas que o presidente da autarquia entende, mas que garante que estão a ser debeladas. "Desde o início do estudo em 2019, e do registo dos relatos dos jovens, até hoje, a Câmara Municipal de Sintra já investiu cerca de 40 milhões de euros na recuperação das escolas, do pré-escolar ao secundário. Antes desta intervenção, a crítica dos jovens era fundada e resultava de um período temporal muito grande, sem investimento significativo na requalificação do parque escolar", afirma Basílio Horta. "No caso das escolas de segundo e terceiro ciclos e secundárias, talvez as mais presentes na memória e no relato dos jovens, a transferência de competências não enquadra ainda o apetrechamento dos espaços educativos, pelo que a ação municipal incidiu sobre a requalificação do edificado, mas não sobre a modernização dos equipamentos"..O setor dos transportes é também algo que preocupa os jovens de Sintra. Apontam problemas nas ligações de comboio e, apesar de reconhecerem que este não faz parte da esfera da autarquia, gostavam que esta tivesse uma intervenção mais forte na matéria, nomeadamente em questões como a sobrelotação das carruagens e a constante supressão do serviço. Quanto ao transporte público rodoviário dizem que este tem sido desvalorizado pela câmara municipal, queixando-se do número reduzido de carreiras e horários desadequados às suas necessidades, nomeadamente nas horas de entrada e saída das escolas..Perante estas críticas, Basílio Horta aponta para as vantagens que existirão, a partir de 1 de julho, com a entrada em funcionamento no concelho da Carris Metropolitana. "É uma situação que trará enormes benefícios para os munícipes de Sintra, com o incremento da oferta do transporte coletivo em cerca de 35%, com especial enfoque na zona norte do concelho. Estas alterações implicam um forte investimento financeiro do município de Sintra, na ordem dos cinco a sete milhões de euros anuais"..De acordo com o estudo do ISCTE, os jovens queixam-se também de problemas de acesso a habitação, referindo que Sintra tem um mercado com pouca oferta e com preços inflacionados, que impedem os jovens de adquirir o arrendar casa. Basílio Horta garante ao DN que está nos planos da autarquia a abertura de programas de arrendamento a habitação jovem. "Aprovámos recentemente a Estratégia Local de Habitação de Sintra, que dará resposta às necessidades dos munícipes em termos de habitação e que beneficiará 3100 famílias, num investimento de cerca de 179 milhões de euros. Nos próximos cinco anos, vamos disponibilizar e reabilitar 1650 fogos municipais, e um aumento de 1453 novos fogos pela via da aquisição ou construção, onde se incluem programas de arrendamento a habitação jovem"..Outra das chamadas de atenção destacada pelos investigadores do ISCTE é a sensação que os jovens têm de uma excessiva orientação das políticas do município para o centro histórico de Sintra e para o turismo, sendo que pedem que sejam criados eventos mais virados para os sintrenses. "A política cultural que temos seguido vem quebrar com essa estratégia de anos, até então os concertos e eventos decorriam muitas vezes em espaços fechados e monumentos. Em 2017, a autarquia iniciou um processo de descentralização da cultura, com eventos espalhados por todo o concelho e na sua maioria gratuitos", refere o autarca Sintrense, dando como exemplo o Festival de Sintra que já levou concertos de música clássica a aldeias e espetáculos de ópera para as ruas de Massamá ou Mem Martins..O grupo de jovens entrevistados pelos investigadores do ISCTE reforçou ainda a necessidade de uma alternativa ao hospital Amadora-Sintra. Essa alternativa será o Hospital de Sintra, já em construção. "É um investimento de cerca de 45 milhões de euros do orçamento municipal. A construção do novo hospital, que teve início em agosto de 2021, irá servir 400 mil utentes e está localizado no bairro da Cavaleira, na freguesia de Algueirão-Mem Martins, estando prevista a sua entrada em funcionamento em dezembro de 2023/janeiro de 2024", adianta Basílio Horta..ana.meireles@dn.pt