José Mourinho e o dia em que o pai foi despedido durante o almoço de Natal
A época natalícia não tem sido generosa para José Mourinho, que já por duas vezes foi despedido a poucos dias do Natal. Ontem, terça-feira, o Special One deixou de ser o treinador do Manchester United, onde em dois anos e meio, apesar de ter ganho uma Liga Europa, não conseguiu devolver os red devils ao topo do futebol britânico. A saída aconteceu precisamente três anos e um dia depois de, a 17 de dezembro de 2015, ter sido despedido do Chelsea onde tinha chegado pela segunda vez em 2013.
Também por estes dois despedimentos, à beira de uma quadra festiva, José Mourinho sabe bem como funciona a vida de um treinador, conhecendo como ninguém o que é ter o maior sucesso e rapidamente passar para o lote dos mal-amados quando os resultados pioram. No entanto, estas noções apareceram bem cedo na vida do treinador português, por volta dos 9/10 anos, quando o seu pai foi despedido no dia de de Natal.
"Tinha 9 ou 10 anos quando o meu pai foi despedido no dia de Natal. Ele treinava o Rio Ave, os resultados não estavam a ser bons e ele perdeu um jogo a 22 ou 23 de dezembro. No dia de Natal, o telefone tocou e ele foi despedido a meio do nosso almoço. Portanto eu conheço tudo sobre os altos e baixos do futebol", contou José Mourinho numa entrevista em 2004, como recordam vários jornais britânicos, entre os quais o Guardian.
A mesma história, recorda o Le Monde, é contada numa biografia de José Mourinho (Le Cas Mourinho), escrita pelo jornalista francês Thibaud Leplat, em 2013. O livro refere também que o agora ex-treinador do Manchester United teria na altura 9 ou 10 anos, mas o Independent, num artigo sobre a relação entre pai e filho, refere que Mourinho já seria mais velho. Esta última hipótese acaba por ter mais sentido, visto que José Manuel Mourinho Félix, que morreu em 2017 aos 79 anos, treinou a equipa de Vila do Conde nas épocas 1980/1981 e 1981/1982, e depois em 1983/1984 e 1984/1985.
"Onde quer que fosse, Mourinho Félix era despedido sem explicação. Demasiado bom, demasiado estúpido. José Mourinho [filho] nunca esquecerá este princípio", escreveu ainda Thibaud Leplat em Le Cas Mourinho, recorda o Le Monde.
José Mourinho não resistiu aos maus resultados, nem à contestação que se fazia sentir no Manchester United. Deixou o clube de Old Trafford na sexta posição da Premier League, com 26 em 17 jornadas, a 19 do líder Manchester City. Somou sete vitórias, cinco empates e cinco derrotas no campeonato esta época. Um dos dados mais negativos foi o número de golos sofridos: 29, mais um do que em toda a temporada passada.
Após aquele que foi o seu último encontro no banco dos red devils (derrota por 3-1 com o rival Liverpool) tinha atirado a toalha ao chão no que toca ao campeonato: "Se me perguntam se podemos ganhar o título, claro que não, é irreversível. Ainda podemos chegar ao quarto lugar, mas não vai ser fácil. De certeza que vamos terminar nos seis primeiros, mas o máximo que poderemos ambicionar é um dos lugares de acesso à Liga dos Campeões".