José Hermano Saraiva sem medo da morte
Na revista publicada a 14 de outubro do ano passado, por ocasião dos 92 anos de José Hermano Saraiva, o historiador foi tema de capa da Notícias TV. Sempre igual a si próprio, falou de um pouco de tudo sem preconceitos. Figura incontornável da televisão, o historiador considerava ser o melhor comunicador em Portugal ("Não vejo ninguém a ser capaz de fazer algo em televisão sem a ajuda de um apontamento, um papel ou aguentar-se a falar durante uma hora") e salientou que a televisão estava em dívida para com ele: "É uma vergonha que este programa [O Tempo e a Alma], que é considerado em todo o mundo, esteja em exibição no segundo canal. É uma vergonha!"
Sobre o momento que o País vive, José Hermano Saraiva não tinha dúvidas: "Portugal não vai reerguer-se da crise." Considera que o País abandonou todas as suas virtudes que o tornavam independente economicamente. "Não temos nada. Somos um País de mendigos, vivemos de dinheiro emprestado."
Falou sobre a sua vida, contando que o momento mais difícil foi quando exerceu as funções de advogado. Mas também falou da morte. Realçou que não queria viver até aos 100 anos ("Nesta altura, as condições de vida que eu tenho já não são agradáveis. E quando se tem 100 anos começamos a ser uma espécie de curiosidade porco-espinho") e que estava zangado com o seu corpo, confessando que desde a operação aos intestinos, em 1988, o tempo custava mais a passar. Mas considerava-se uma pessoa feliz porque a quebra era só física.
A morte não o assustava: "Penso que a morte não será muito desagradável, a não ser que se sintam dores. A pessoa deixou de sentir e, serenamente, entra no vago. De um modo geral, não tenho medo da morte." Nunca deixou de trabalhar e reformar-se não estava nos seus planos: "A minha reforma será o dia em que vier publicado o meu retrato com uma cruz no jornal."