Jornalistas francesas unidas para denunciar assédio de políticos
Quatro anos depois do escândalo sexual em torno de Dominique Strauss-Kahn, acusado por uma empregada de hotel de agressão sexual, um grupo de 40 jornalistas francesas decidiu insurgir-se e denunciar o comportamento e comentários sexistas dos políticos daquele país. O desabafo foi dado em forma de carta aberta no diário Libération de segunda-feira, tendo até sido o principal destaque da primeira página, sob o repto em letras garrafais: "Tira a mão!". "Pensávamos que o caso de Dominique Strauss-Kahn tinha começado uma nova era e que os hábitos machistas, que simbolizam políticas e atitudes antiquadas, estavam no caminho para a extinção. Mas não", lê-se no texto inicial.
Com os testemunhos individuais, 16 deles assinados em nome próprio e as restantes sob anonimato, as repórteres de política frisam que chegou a altura de "terminar o paternalismo lascivo" ao qual são sujeitas sistematicamente em trabalho, contando exemplos específicos de assédio e chantagem sexuais, maioritariamente praticados por políticos e oficiais do governo mais velhos - ainda que nenhum nome fosse revelado.
Um dos testemunhos acusa um "político e amigo do presidente François Hollande" de ter dito que "só gostava de jornalistas com peitos grandes". Já noutro relato, um deputado do parlamento ter--se-á dirigido às jornalistas que aguardavam à entrada "se andavam a andar pelas ruas" e "se andavam à procura de um cliente". Num outro texto, um candidato presidencial francês terá recusado responder a quaisquer questões de jornalistas masculinos numa conferência, mas aceitou conversar com uma repórter "porque tinha um bonito vestido" e porque "o seu peito era mais interessante". Outro exemplo conta que um membro do conselho de ministros terá perguntado a uma jornalista, no seu regresso das férias de verão, se estava bronzeada no corpo inteiro.
No manifesto, lê-se também que, caso sejam confrontados pelas jornalistas pelas suas alegadas atitudes "sexistas", os políticos franceses tinham por hábito defender-se com um "você precisa de sentido de humor" e dizer que os seus comentários "eram apenas uma brincadeira" e parte da "arte de sedução natural dos franceses".