Jornalista morre em "incidente terrorista" durante motins na Irlanda do Norte

Autoridades acreditam que o Novo IRA esteja por detrás da violência da noite de quinta-feira, desencadeada durante operações policiais em busca de armas que podiam ser usadas durante o fim de semana da Páscoa.
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Uma jornalista de 29 anos morreu na quinta-feira à noite em Londonderry, na Irlanda do Norte, no que a polícia descreve como "incidente terrorista". Lyra McKee, editora no site Mediagazer que já escreveu para a Atlantic e a Buzzfeed, foi atingida a tiro durante motins desencadeados por operações policiais no bairro de Creggan.

McKee chegou a publicar no Twitter uma imagem dos motins. "Derry esta noite. Loucura completa", escreveu, na mensagem partilhada pela correspondente do site Politico, que lembra que ela era "uma estrela em ascensão do jornalismo de investigação" e que tinha acabado de assinar um contrato para escrever dois livros.

O chefe adjunto da polícia, Mark Hamilton, disse suspeitar que o Novo IRA -- o maior grupo dissidente a operar na Irlanda do Norte -- esteja por detrás do tiroteio. O Exército Republicano Irlandês (IRA) anunciou o fim da luta armada em julho de 2005, mas vários dissidentes que não aceitaram a resolução pacífica do conflito na Irlanda do Norte continuam a realizar ataques esporádicos.

A morte de McKee será a quarta atribuída ao Novo IRA, que também é suspeito da morte do agente Ronan Kerr, morto com uma bomba no carro em 2011, em Omagh, do guarda prisional David Black, morto a tiro a caminho do emprego em 2012, e de Adrian Ismay, também vítima de uma bomba sob a sua carrinha, à porta de casa, em Belfast, em 2016. O grupo reivindicou, já este ano, a responsabilidade pelo carro armadilhado às portas do tribunal em Derry.

A violência de quinta-feira à noite começou durante uma operação policial em várias casas nos bairros de Mulroy Park e Galliagh. Segundo a polícia, dissidentes estavam a preparar vários ataques na cidade durante o fim de semana da Páscoa e a operação era para detetar eventuais armas que pudessem ser usadas.

O motim começou em Fanad Drive, com mais de 50 cocktails molotov a serem lançados contra a polícia e pelo menos dois veículos incendiados. "Acredito que isto foi planeado, planeado ao ponto de que só querem ter violência e atacar a polícia", disse Hamilton. "Trazer uma arma de foto é um ato calculista e insensível", acrescentou.

Durante a Páscoa, os republicanos assinalam o aniversário da Levantamento de 1916, quando um grupo de nacionalistas irlandeses proclamou a República Irlandesa e entrou em confrontos com os soldados britânicos em Dublin. Pelo menos 450 pessoas morreram e o centro da cidade ficou destruído. Os britânicos travaram a situação numa semana, mas perderam o apoio público quando os 15 líderes da rebelião foram executados em maio de 1916. Os tumultos acabariam na Guerra da Independência da Irlanda de 1919-21 que culminaria nos britânicos a perder o controlo na maioria da ilha.

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