Jorge Rosa:"Acabaram cinco ou seis furos, há outros em fim de vida"

Mértola é um dos concelhos do país em situação de seca extrema. O autarca local, Jorge Rosa (PS), confirma que a situação é complexa, sobretudo para quem depende de furos para o abastecimento de água
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Mértola está em seca extrema. De que forma está a ser afetado o quotidiano dos seus munícipes?

Afeta bastante pela situação em si. Estando em seca extrema, e com essas evidências no terreno, as pessoas em parte das minhas localidades têm falta de água. Os furos artesianos, alguns deles, já acabaram. Estamos a transportar água para algumas partes do concelho. E sabemos que há outros em situação semelhante e que em breve poderá acabar a água.

Com a chuva a tardar, a preocupação vai-se acentuando?

É uma situação que nos preocupa diariamente, a cada dia que passa sem chover. Tem de chover muito. Não é com um dia ou outro de chuva que isto se vai resolver. Não temos os problemas de outros municípios no abastecimento por barragens. Somos abastecidos pela barragem do Enxoé, e como esta está ligada ao Alqueva, não tem faltado a água. Pelo menos para já não falta. A margem esquerda [do rio] Guadiana é abastecida pelo Enxoé. À direita, é tudo por furos artesianos...

É sobretudo nessa margem direita que a seca tem mais impacto?

É mais a margem direita a que está com problemas de falta de água, porque os furos vão acabando. Acabaram cinco ou seis furos e há outros em final de vida útil.

Em algumas zonas afetadas pela seca, quem tem cabeças de gado está a vender, por receio de faltarem os pastos. Também está a suceder isso em Mértola?

Pelo pasto e pela água. Esse é outro problema, ainda mais complicado. Nomeadamente para os criadores de gado que têm as produções alimentadas por barragens ou pequenas charcas. Parte dessa reserva está a desaparecer. Aí é que uns bons dias de chuva poderiam fazer a diferença! Quando falta a água, têm eles próprios de ir em autotanques buscá-la. Ou vão a outras barragens e charcas - aí funciona a solidariedade entre vizinhos - ou vão buscá-la a um rio. Mas os custos são enormes e alguns estão a ponderar vender algumas cabeças de gado, porque é insustentável levar a água diariamente. Por outro lado, como diz, as pastagens secaram e debatem-se com o dilema de onde ter o dinheiro suficiente para dar alimento aos animais: Farinhas, ração, já sabemos que é tudo muito caro.

As medidas de poupança de água foram eficazes?

Em cada ano temos medidas de contenção e mitigação dos efeitos da seca, incluindo apelar à poupança da água. As pessoas têm entendido isso bem, têm poupado água em alturas em que não há falta, e isso tem servido para que os furos durem mais tempo e possam servir mais pessoas. Mas o efeito é algo relativo.

A ligação do Alqueva à barragem do Monte da Rocha estará em marcha. Poder ser decisiva?

Não tenho exato conhecimento da situação da obra. Fala-se bastante nisso, da possibilidade... A nível da associação de municípios tudo faremos para que se concretize. O Monte da Rocha tem atualmente pouca capacidade de água útil e serve bastantes pessoas e municípios.

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