Estado da Nação? Devia estar melhor, francamente. Dá vontade de dizer que estamos a perder oportunidades, as coisas não avançam, falando do mundo empresarial, não há estabilidade - importante saber qual vai ser o quadro a cinco anos, coisa decisiva para tomar decisões -, no caso da energia em particular, normalmente são decisões que impactam o investimento durante alguns anos. Portanto, a questão da visibilidade é muito importante e acho que estamos amorfos. Sente-se uma falta de ação, uma falta de reação que me preocupa..Guerra? É uma coisa horrível. A guerra teve um impacto na Europa, que agora é difícil de perceber como é que deixámos que acontecesse. Onde é que está aquela vontade fundamental de as pessoas quererem paz? Devia haver uma capacidade objetiva para pôr as pessoas a pensar que estão a morrer pessoas todos os dias, e acho que nós, como humanos, devíamos estar escandalizados e a fazer alguma coisa séria. Qualquer pessoa normal devia sentir-se mesmo mal por isto estar a acontecer, mesmo que a milhares de quilómetros de nossa casa. Esta atitude de "não é nada connosco" é algo que me choca profundamente, esta falta de capacidade de Bruxelas, da ONU, de tudo mais. Não podemos aceitar esta situação..Energia? Estamos num momento de grande desenvolvimento científico e tecnológico. Independentemente dos berros dos ecologistas, temos um bom caminho de descarbonização, de começar a diminuir a dependência do combustível fóssil. Há um ponto que o mundo ocidental, em particular, tem de conseguir, que é diminuir o consumo, esse é o primeiro recurso, se nós diminuíssemos o consumo e parássemos com o desperdício, essa era a questão mais importante..Dependência nacional? Nós, naturalmente, somos um país dependente, não temos grandes recursos, não temos energia, não temos grandes recursos agrícolas, podemos vir a ter um problema sério de água, mas há tecnologia, há ciência, há capacidade, temos boas escolas em Portugal, temos uma geração tão capaz que não devíamos ser dependentes. Ainda assim estamos a ter um problema de mão-de-obra menos qualificada. De facto, somos um país com capacidade, somos um país com potencialidade, temos de saber aproveitar para que a dependência que temos possa ser ultrapassada com os recursos e com as nossas capacidades e interesses, porque nunca vamos ser um grande produtor de petróleo, não temos interesse nisso, mas poderemos ser um produtor importante de eletricidade..Gás? O gás é o combustível de transição por excelência e Portugal tem ótimas infraestruturas muito recentes, mas a questão neste momento é o gás natural, é o biometano - a nível das empresas agrícolas para utilizar a energia circular, a diminuição de resíduos - depois de termos o hidrogénio verde, que vai ser o vetor energético com maior crescimento. Mas para isso é preciso investir em redes para a eletricidade renovável chegar aos eletrolisadores. O gás, não apenas como gás natural, mas como vetor energético, vai ser nos próximos anos um dos componentes fundamentais da descarbonização da energia..Biocombustíveis: sim/não? Se por cada molécula de combustível fóssil conseguirmos substituir por um biocombustível, por um hidrogénio, no fim de contas, de origem renovável, ainda que haja ali um vetor de carbono, é uma aposta importante, porque numa lógica de economia circular, de descarbonização, tem impacto. Nunca vai substituir integralmente o combustível fóssil que hoje temos, mas é um tipo de investimento que faz sentido. Não o vamos fazer de repente, não há materiais para isso - a última coisa que quero ver é bom equipa- mento a ser deitado fora só porque agora é trendy, é fashionable ter um carro elétrico..Uma reforma urgente? A reforma mais urgente é claramente no Sistema Nacional de Saúde. Estou preocupado que o SNS, como o conhecemos, esteja a entrar num ponto de não-retorno. Se há privados, há o setor social, há o próprio SNS, com capacidade instalada, olha-se para ela, veja-se como é que é melhor tratar as pessoas, façam-se parcerias público-privadas corretamente negociadas, em que o privado tenha algum retorno com isso - é justo porque está a ter um risco -, mas não se esqueçam as pessoas. É uma das maiores críticas que faço a este Governo foi que, com um preconceito ideológico, estragaram-se coisas que estavam bem-feitas e a funcionar bem..Um objetivo do Governo para a Rentréé: qual? O que ia dizer ia ser antipático, é mais uma questão tática, que era deixar de governar para o Telejornal das oito da noite, porque às oito tem de estar sempre tudo bem. Mas que se crie um ambiente fiscal, um ambiente regulatório, um ambiente económico que seja, de facto, amigo do investimento..No verão não pode faltar? Estarmos em família - aqui é um bocado pessoal, porque um dos meus filhos já trabalha -, estarmos uns com os outros. As férias também são para nos afastarmos das preocupações do dia a dia e lembrarmo-nos que temos família, amigos, temos o outro..Uma paixão? O tempo livre é para literatura e xadrez. Estive muitos anos sem jogar. Lembro-me de voltar a jogar um bocado mais a sério em 2019 e cerca de quatro meses depois veio a pandemia. Quanto à literatura, acho que tem de se ler, é uma coisa que nos abre horizontes. Gosto muito de estar calmamente sentado, na praia, simplesmente a ler o meu livro.