O secretário de Estado que já teve a casa destruída pelo fogo

Jorge Gomes, da Administração Interna, tem sido a presença mais constante do governo em Pedrógão Grande
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À hora a que o Presidente da República chegou a Pedrógão Grande, o secretário de Estado da Administração Interna já tinha sido o portador da notícia que chocou o país no final da noite de sábado: o incêndio de Pedrógão Grande tinha provocado 19 mortos. O longo abraço emocionado de Jorge Gomes a Marcelo Rebelo de Sousa foi um pequeno interregno numa madrugada e manhã que se tornaram cada vez mais dramáticas, com o governante a dar a cara por sucessivas atualizações - 25, 39, 43, 58, 62 mortos (número depois revisto para 61).

Quem é o secretário de Estado, um rosto pouco conhecido pelos portugueses, que está a acompanhar o mais trágico incêndio de que há memória em Portugal? Natural de Bragança, com 66 anos, casado e pai de duas filhas, já adultas, Jorge Gomes já passou por uma experiência pessoal difícil com incêndios. Em meados dos anos 1980, vivia em Sendim (concelho de Miranda do Douro), quando um incêndio lhe destruiu a casa. De acordo com relatos de amigos de Jorge Gomes, ouvidos pelo DN, foi o próprio secretário de Estado quem tirou as filhas de casa.

O então empresário - com um master em Gestão Empresarial, uma graduação para não licenciados - acabou por vender a padaria que tinha então na vila e mudou-se para Bragança, onde mais tarde abriu uma empresa ligada à informática. Quem o conhece diz que é um homem decidido e com grande capacidade de trabalho. E "muito humano, muito emotivo", diz ao DN um amigo de longa data (que não quis ser identificado), mas que viu no semblante emocionado de Jorge Gomes duas características que lhe atribui: "É incansável e é de uma grande humanidade, não tenho dúvidas de que está a sofrer com as pessoas."

Jorge Manuel Nogueiro Gomes chega à Secretaria de Estado da Administração Interna em 2015, pela mão de António Costa. Foi governador civil de Bragança entre 2005 e 2011 - cargo, entretanto extinto, em que era responsável pela proteção civil distrital. É daí que conhece Costa, então ministro da Administração Interna.

Chegou a concorrer à Câmara Municipal de Bragança, mas por duas vezes perdeu a disputa. Com a subida de Costa à liderança do PS foi escolhido como secretário nacional para a organização, uma função essencial na gestão do aparelho partidário que já foi ocupada por nomes como António Campos (ao tempo de Mário Soares) ou Jorge Coelho (com António Guterres). Jorge Gomes acabaria por deixar o lugar quando foi nomeado para a secretaria de Estado.

Pelo caminho foi cabeça-de-lista do PS pelo distrito de Bragança nas legislativas, uma escolha pessoal de António Costa à revelia da federação local (maioritariamente segurista), o que provocou acesa polémica.

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