Jordan Peele, o favorito de última da hora
Fazer um filme que custou 4,5 milhões e que faturou 250 milhões. Jordan Peele, ator que estava na mó de baixo em Hollywood, é agora o novo príncipe de Hollywood com esta estreia na realização, Foge, um conto de terror polvilhado com elementos de sátira, um discurso sobre o racismo na América de hoje. O filme em Portugal terá passado ao lado do público quando chegou aos cinemas em maio do ano passado (os críticos do DN falaram em surpresa e chegaram às 4 estrelas...) e foi recentemente reposto.
Foge é a história de um casal multirracial que se junta para um fim de semana na casa dos pais brancos da noiva. O jovem em questão estranha a receção que os seus futuros sogros lhe fazem, em especial o staff de criados, todos eles negros. Aos poucos, percebe que a sua vida corre perigo e que a sua namorada não é a santa que ele julgava.
Para além do sucesso de bilheteira e de aclamação generalizada (esteve presente na lista dos melhores do ano em muitas publicações europeias), o filme ganhou um peso social nesta América onde cada vez mais a questão do racismo à comunidade negra dispara. Causou discussão e foi apoiado calorosamente pela sociedade afro-americana, tocando em temas fraturantes como os casais mistos e a hipocrisia dos brancos nesta América pós-Obama. Ao mesmo tempo, nunca deixou de ser um divertimento capaz de atrair diversos públicos, fazendo lembrar um certo esquema sub-reptício com que John Carpenter nos anos 1980 fazia os seus melhores filmes politizados, em especial Eles Vivem! (1988), onde a mensagem não está evidente mas é transgressiva.
O impacto que um filme como Get Out conseguiu na indústria americana é quase surreal, sobretudo por vir da fábrica de produção de um produtor como Jason Blum, alguém que tem mudado a paisagem do cinema de terror comercial em Hollywood. O impacto foi tão forte que já se fala em revolução de processos e se compare Peele a um novo Spike Lee. O que não deixa de ser irónico, pois Peele, que como ator vivia da comédia, tinha dito a si próprio que iria desistir da profissão, sobretudo quando recebeu um ingrato convite para dar a voz à animação Emoji - o Filme...
Agora, tem Hollywood a seus pés e, segundo a imprensa americana dos últimos dias, se houver surpresa nesta madrugada, Foge pode mesmo vencer a categoria de melhor filme. É melhor estarmos preparados - Moonlight e O Caso Spotlight, também não eram favoritos. E o clima, com todo este vendaval de novos membros da Academia, está a pôr-se a jeito para surgirem surpresas.