O Open da Austrália vai começar. O que espera deste primeiro Grand Slam da temporada e quem é, no seu entender, o principal favorito a vencer?.O Novak Djokovic tem de ser considerado o grande favorito. Vai ser um torneio interessante de seguir, porque alguns dos tenistas presentes são já lendas do ténis, mas veremos até que ponto pode surgir um tenista desta nova geração a intrometer-se na luta. Julgo que o melhor exemplo é Daniil Medvedev, que já se conseguiu afirmar e pode ter uma palavra a dizer na Austrália. Mas o Djokovic, até por ter ganho este torneio em sete ocasiões, parte como grande favorito..O Djokovic vem de uma vitória com a Sérvia no ATP Cup. Até que ponto este triunfo pode servir de motivação para a Austrália?.Acho que o Novak não precisa de injeções de confiança. Ele sente-se confortável a competir na Austrália, preparou-se bem, mas claro que a vitória num torneio dias antes pode servir de fator de motivação. Foi um ótimo resultado para ele e para a Sérvia, esteve rodeado dos amigos, dos compatriotas. Mas ele está a um nível que não é a vitória no ATP Cup que vai interferir com o que poderá fazer no Open da Austrália..O Djokovic e o Nadal defrontaram-se no ATP Cup. Caso se cruzem no Open da Austrália será uma partida similar ou com outras características?.No meu entender, no ano passado, na Austrália, o Djokovic fez um dos seus melhores jogos de sempre contra o Nadal. É um piso que o favorece. O Rafa prefere um jogo mais lento, em terra batida. Mas eles agora não estão preocupados com isso. Quando chegar a altura tenho a certeza de que ambos vão fazer bem o trabalho de casa. Depende de muitos fatores. Mesmo a este nível, às vezes os jogadores sentem-se nervosos antes de um jogo, e não conseguem concentrar-se. Outras vezes podem estar a jogar seis horas um contra o outro. É imprevisível. Só podemos agradecer termos dois tenistas desta qualidade no circuito e podermos desfrutar..Qual considera o maior obstáculo para Djokovic rumo à final?.Eu diria que vai ser o Daniil Medvedev. Não sei como ele se encontra fisicamente, mas julgo que neste momento está bem. Assumindo que ele está bem fisicamente, parece-me um adversário muito difícil de bater, um tenista que muito poucos podem vencer se estiver num grande dia. Por isso, vejo-o a chegar longe no torneio, a não ser que entretanto tenha alguma limitação física..Porque Novak Djokovic tem tanto sucesso na Austrália?.É difícil explicar... até porque não é só na Austrália que ele tem sucesso. Em Wimbledon conquistou vários títulos e também no US Open. Julgo que ele se dá bem em pisos rápidos e depois tem muito apoio do público, talvez mais do que nenhum outro. Isso motiva-o e ajuda-o. Seja qual for o segredo dele tenho a certeza de que outros tenistas também têm as suas estratégias. Mas vamos falar sem rodeios. O Novak é um dos melhores tenistas de todos os tempos, e se estiver concentrado, confiante e bem fisicamente, é um desafio enorme alguém o conseguir vencer. Tem um jogo tão sólido, é como uma parede humana..Deu o exemplo de Medvedev. Vê algum tenista desta nova geração a conseguir fazer um brilharete na Austrália?.Acredito que isso possa acontecer. Tudo depende do sorteio, mas acredito que alguns deles se possam destacar. O Tsitsipas está nesse lote, esteve muito bem no ano passado e eu vejo-o capaz de neste ano ter uma oportunidade. Depois há também o Medvedev. Estes para mim são os mais óbvios. O Shapovalov também tem queimado etapas, está muito perto de se tornar um tenista consistente, o Rublev já alcançou o top 20 e parece estar muito confiante. Depois temos os americanos, caso do Opelka, um tenista que vejo capaz de chegar longe. O Taylor Fritz, apesar de no momento atual não estar tão bem, e o Frances Tiafoe. Há outros mais velhos em que foram depositadas muitas esperanças, como o Dimitrov. Mas aqui também é muito importante a parte mental. Penso que neste ano podemos assistir a uma mudança na ordem de forças..Acredita que o Medvedev tem condições para vencer neste ano um Grand Slam?.Acredito que ele está pronto. É um tenista que além de todas as suas qualidades tem mostrado um coração e um carácter enorme. Ganhou muita confiança nos últimos meses e coloco-o num top de dois ou três jogadores que podem fazer frente aos favoritos. É difícil colocá-lo num patamar superior a Nadal, ou mesmo de Roger Federer, mas ele parece pronto para dar esse salto..E em relação a Zverev?.O Alex era o tipo que todos falavam e julgo que essa pressão afetou-o nos grandes torneios. Depois teve muitos jogos longos que o desgastaram. Ele precisa de encontrar uma forma de resolver os jogos mais cedo, ser mais eficiente. Depois tem outra coisa. Ele é alto e julgo que deve adequar o seu jogo à sua estatura, tirar partido disso. Deve tornar-se mais versátil, sentir-se mais confortável na rede. E sobretudo habituar-se a jogar contra os jovens da sua idade. Eles serão os seus adversários nos próximos cinco, sete anos. Tem de usar a sua energia de uma forma mais positiva..E temos ainda o Nick Krygios. Acha que ele neste momento controla melhor as suas emoções?.Julgo que não. Mas tive oportunidade de o ver em ação em alguns torneios e posso garantir que se trata de um bom rapaz. Agora não sei é a capacidade dele para competir a um nível mais alto, no qual entra e sai constantemente e tem sido um grande problema..O Krygios é o tenista do circuito em que mais se revê?.O tenista com o qual mais me comparo é o Shapovalov, a forma como entra no jogo e como joga. Ele não é um jogador alto como outros, tal como eu, mas tem uma rapidez e uma explosão que está a desenvolver. O Krygios tem, obviamente, uma grande personalidade, e sim, existem algumas semelhanças comigo. Eu gosto dele. Mas a grande diferença em relação a mim é que eu via jogadores como o Jimmy Connors e depois olhava-me ao espelho e dizia para mim mesmo que teria de trabalhar duro como ele. O Krygios tem de olhar para exemplos de outros jogadores e colocar na cabeça que esse é o caminho a seguir. Nadal talvez seja o melhor exemplo, o Connors talvez o coloque logo abaixo de mim, o Hewitt foi também um dos melhores de sempre, há também o Michael Chang..Qual é a sua opinião sobre João Sousa? Acredita que é um tenista que pode ir mais além do que as primeiras rondas e chegar aos quartos ou meias-finais de um torneio?.Julgo que ele já conseguiu chegar à quarta ronda em Roland-Garros. É um jogador sólido, um grande competidor, que quando está em forma dá muito trabalho a qualquer adversário. É complicado à sua maneira. Temos de respeitar o que trouxe para cima da mesa. Mas conseguir fazer uma corrida longa é uma tarefa difícil. Obviamente que qualquer jogador a este nível tem de ter capacidade atlética e ténis. Mas não olho para ele e digo "meu Deus, este tipo é o jogador mais talentoso do circuito". Penso que ele faz o melhor que pode porque dá muita luta e é um grande adversário, por isso acredito que está no bom caminho. Se continuar a conseguir passar as primeiras rondas e chegar à segunda semana dos torneios, julgo que será bom para ele..Na sua opinião, qual é o tenista que vai chegar ao final do ano com mais conquistas em Grand Slams?.No final do ano, acho que o Rafael Nadal ou o Roger Federer. Mas se me perguntar na qualidade de apostador, eu provavelmente apostaria no Novak Djkovic. Se ele estiver bem fisicamente, penso que nos próximos dois anos vão vê-lo ganhar pelo menos um par de vezes em cada temporada. Depois há que ver se Federer consegue ganhar um torneio e se alguém vai finalmente conseguir bater o Nadal em Roland-Garros. Pelo que temos visto nos últimos anos, é muito provável que o Rafa vença em França, pelo menos mais uma vez..Quem é para si o jogador mais talentoso mas que ainda não conseguiu chegar ao patamar dos melhores?.Para mim, o jogador mais talentoso que vejo de momento é o Nick Kyrgios. Tem potencial para vencer Grand Slams, mas a verdade é que nem sequer conseguiu chegar a uma meia-final. Mas quanto à sua habilidade no ténis, pode muito bem ser o jogador mais talentoso que vi nos últimos anos..Entrevista feita em conjunto pelo DN e outros meios de comunicação mundiais, através da Eurosport, com perguntas enviadas por e-mail para John McEnroe..Velha guarda ou sangue novo. Quem vai vencer na Austrália?.João Sousa, número um nacional que na época passada atingiu a terceira ronda no Australian Open, vai defrontar o argentino Federico Delbonis, naquele que é o sétimo confronto entre ambos..Caso ultrapasse o número 73 do ranking mundial, o tenista vimaranense irá medir forças com o vencedor do duelo entre o boliviano Hugo Dellien e o número um do mundo, Rafael Nadal..O espanhol é um dos habituais candidatos à vitória no primeiro Grand Slam da temporada. Há ainda que contar com Roger Federer e Novak Djokovic (o maior vencedor do torneio com sete títulos), que ficaram na mesma parte do quadro e têm dominado o torneio desde 2014. E sem esquecer os mais jovens como Medvedev, Zverev, Tsitsipas e Kyrgios....Entre as mulheres, Serena volta a centrar atenções. A campeoníssima norte-americana venceu um torneio pela primeira vez em três anos (desde que foi mãe) e gerou expectativas para a prova que já ganhou sete vezes..Bianca Vanessa Andreescu, Ashleigh Barty, Naomi Osaka , Simona Halep, Karolina Pliskova e Elina Svitolina também estão entre as candidatas a vencer o torneio australiano, que tem sido assombrado pela polémica à volta dos efeitos nefastos do fumo dos incêndios na Austrália. O fumo levou mesmo ao adiamento de jogos do qualiffiyng, que neste ano contou com três portugueses (Pedro Sousa, Frederico Silva e João Domingues).