John Bercow: a gritar "order, order, order" no Parlamento britânico há dez anos

O líder da Câmara dos Comuns tem estado em destaque nos debates sobre o Brexit. Em junho, o antigo militante conservador que apoiou a continuação do Reino Unido na União Europeia no referendo de 2016, assinala uma década no cargo.
Publicado a
Atualizado a

"Order, order, order!" A voz de John Bercow a pedir "ordem" no Parlamento é inconfundível no meio dos debates do Brexit. Quando os ânimos se exaltam na Câmara dos Comuns, cabe-lhe a ele pedir respeito para quem está na posse da palavra, seja a primeira-ministra Theresa May, o líder da oposição, Jeremy Corbyn, ou qualquer um dos 650 deputados eleitos pelo Reino Unido.

Bercow, que celebra 56 anos este sábado, está à frente dos destinos da Câmara dos Comuns há quase uma década, tendo já passado por três primeiros-ministros: Gordon Brown, David Cameron e Theresa May. No outono passado, no meio de um relatório crítico sobre a cultura de abusos, assédio e de bullying no Parlamento, terá anunciado aos amigos que vai deixar o cargo no próximo verão, depois do Brexit.

Para já, tornou-se uma estrela internacional: "Ninguém nas ilhas britânicas pode pedir "order, order" de forma mais bonita do que John Bercow", escreveu o jornal dinamarquês De Volkskrant. Já o programa da televisão alemã Tagesschau montou uma compilação de menos de um minuto, simplesmente intitulado "Order! Order! Order!", com várias das suas intervenções.

O The Guardian também preparou uma montagem com alguns dos seus melhores momentos, não só o já icónico "order!", mas também a pedir "calma" ou a convidar um deputado a fazer ioga, dizendo que seria "benéfico".

Carreira política

Bercow nasceu em Edgware, no norte de Londres, e é filho de um taxista (os avós paternos, judeus, imigraram da Roménia há mais de um século e anglicizaram o apelido Berkowitz). Estudou Política na Universidade de Essex e, antes de ser eleito para Westminster, trabalhou na banca e foi lóbista.

Deputado conservador eleito por Buckingham desde 1997 (e reeleito em todas as ocasiões desde então), Bercow passou da ala mais à direita do partido (na juventude chegou a liderar um grupo de pressão que defendia o repatriamento dos imigrantes) para a mais à esquerda, tendo havido rumores de que planeava uma deserção para o Partido Trabalhista.

Bercow foi o primeiro speaker (nome em inglês do seu cargo, que literalmente significa pessoa que fala) a ser eleito três vezes seguidas. Só na primeira, em 2009, teve oposição, não tendo tido adversários após as eleições de 2015 e 2017.

Foi o facto de muitos conservadores desconfiarem dele que, quando se candidatou para substituir Michael Martin (envolvido no escândalo das despesas parlamentares), tenha precisado do apoio de outros partidos para ser eleito a 22 de junho de 2009 - há quem alegue que foi uma forma de o Labour chatear os Tories. A sua eleição, como manda a tradição, implicou a sua desvinculação ao Partido Conservador.

O mesmo partido que agora continua a não estar satisfeito com a sua atuação, acusando-o de não ser imparcial no debate do Brexit. Os media britânicos revelaram na sexta-feira que o governo poderá bloquear a entrega de um título nobiliárquico quando deixar o cargo. Há 230 anos que o antigo líder da Câmara dos Comuns ganha automaticamente um lugar na Câmara dos Lordes - até Martin, que saiu no meio do escândalo (e morreu no ano passado), tornou-se Lord Martin de Springburn.

Por isso mesmo, segundo o Observer (o jornal de domingo do grupo do The Guardian), Bercow estará a reconsiderar os seus planos de deixar o cargo no verão, admitindo a amigos que poderá ficar até 2022.

O casamento e as polémicas

A sua mudança de opinião política coincidiu também com o casamento, em 2002, com Sally Illman, apoiante do Labour sete anos mais nova do que ele. O casal tem três filhos e, além da diferença de alturas entre ambos (ela é cerca de dez centímetros mais alta do que ele), tem estado nas bocas dos britânicos devido a vários escândalos.

Em 2011, Sally deu uma entrevista ao London Evening Standard na qual dizia que "ser eleito speaker transformou o meu marido num sex symbol" e surgia na foto enrolada num lençol a posar numa janela com vista para a Câmara dos Comuns. Nesse mesmo ano, foi a primeira pessoa expulsa da casa na oitava edição do "Big Brother Famosos". Um de vários reality shows em que participou.

Já em 2015, admitiu que tinha tido um caso extraconjugal com o primo do marido.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt